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Sócio de deputado estadual em boate é acusado de dar calote em investidores em Cabo Frio

Spartacus Consultoria, do capitão Diogo Souza, iria devolver aporte após interromper os repasses mensais aos clientes e não tem cumprido promessa

Uma matéria publicada pelo Jornal Extra na manhã desta quinta-feira (21) revela que a lista de empresas de investimentos em Cabo Frio, na Região dos Lagos, que deixaram de pagar os prometidos lucros exorbitantes ganhou mais uma integrante. Desta vez, quem interrompeu os repasses mensais aos investidores foi a Spartacus Consultoria, do capitão da PM Diogo Souza da Silveira, que garantia rendimento mensal de 14% mediante supostas transações com criptomoedas, a exemplo das dezenas de concorrentes que passaram a atuar na cidade, grande parte encerrando as atividades recentemente.

Além da atuação como trader nas operações financeiras e do trabalho como militar, Diogo também é sócio — e amigo pessoal — do deputado estadual Fillipe Poubel (PSL) no comando da boate Buda Lounge Bar, situada em uma badalada região de Cabo Frio. O parlamentar nega ter qualquer tipo de envolvimento com a Spartacus e afirma que “não integra e jamais integrou qualquer sociedade envolvendo investimentos financeiros”.

Investidores prejudicados pela empresa do capitão vêm se reunindo através de redes sociais para buscar explicações. Em um grupo no WhatsApp, chamado “Lesados Spartacus”, são mais de 210 participantes dividindo queixas e tentando saídas. Em outro, de nome “Enganados pela Spartacus”, criado nesta quarta-feira (20), eram 22 membros por volta das 20h, e alguns já falavam em procurar a Justiça. Menos de duas horas depois, às 21h30, o número de participantes havia saltado para mais de 110.

Na foto de exibição do grupo, Diogo Souza aparece justamente com Poubel. Há ainda o perfil no Instagram “spartacus_golpista”, cuja primeira postagem é do dia 20 de setembro. Na mais recente, da madrugada desta quarta, o texto diz: “É meia-noite, quarta-feira. Hoje é um dos dias em que milhares de contratos deveriam ser pagos. Mas até agora está um mistério, não sabemos o que está acontecendo. Minha esperança e paciência vão até sexta”.

Antes da suspensão completa dos pagamentos, a Spartacus já havia reduzido o rendimento prometido para 5%, o que, por si só, gerou uma onda de insatisfação. O mesmo perfil do Instagram chegou a postar um desabafo sobre o corte na margem de faturamento: “A empresa Spartacus, de Cabo Frio, não cumpre o contrato e reduz a um terço, de forma autoritária, o lucro dos seus clientes. Por que fez isso, capitão Diogo? Você desamparou milhares de pais e mães de família!”.

Relatos nestes grupos de WhatsApp indicam que Diogo chegou a receber um grupo pequeno de investidores, na tarde desta quarta-feira, para prestar esclarecimentos. O retorno de quem representou os clientes na conversa, contudo, não conseguiu acalmar os ânimos. Segundo eles, o militar repetiu que tinha “três opções” para contornar a situação, mas não ofereceu nenhum tipo de prazo sobre quando, efetivamente, começará a pagar o que deve. “Que estratégia seria essa? Por que não conseguiu pagar? O que inviabilizou isso? O dinheiro está onde?”, reclamou um dos participantes, enfileirando questionamentos. “A conta é fácil: pegou o dinheiro, é só devolver. Se comprou lancha, casa, terreno… Vende tudo”, pontuou outro. “Ele que venda a Buda e comece a pagar as pessoas”, exigiu um terceiro.

Os investidores convocaram uma manifestação para a porta da Buda Lounge Bar, que aconteceria na noite desta quarta-feira. A forte chuva que caía em Cabo Frio, entretanto, esvaziou o protesto, e apenas poucas pessoas comparecerem ao local. A boate, aliás, já foi utilizada por Diogo para atividades relativas à Spartacus. No começo de outubro, ainda nos primeiros momentos da crise envolvendo a empresa, o capitão convocou clientes a comparecerem ao estabelecimento para dar o pontapé inicial no processo de ressarcimento. Questionado pelo GLOBO, por intermédio da assessoria de imprensa, se tinha ciência de que o espaço do qual é sócio foi usado com esse fim, o deputado Fillipe Poubel não respondeu.

O parlamentar é citado em vários momentos nas conversas entre os investidores. São compartilhados, por exemplo, reproduções de mensagens enviadas para Poubel através de redes sociais. “Você, como deputado da honestidade, deveria ser pronunciar, então, a favor dos clientes. Seu amigo sumiu, você não vem mais a Cabo Frio e nem se pronuncia sobre a questão. Poderia denunciá-lo como estelionatário, porque é o que ele parece ser. Por que não dá explicação aos clientes sobre o que está acontecendo?”, cobrou um internauta pelo Instagram do deputado. “Não passo a mão na cabeça de ninguém. Se ele fizer algo que vá contra os meus princípios, irei repudiá-lo”, respondeu Poubel. Em outro momento, ele acrescenta: “Estou na mesma situação. Meus pais, meu irmão, a mãe do meu filho, meus seguranças… Todos investiram nele”.

Ao GLOBO, o parlamentar não confirmou a informação de que pessoas próximas a ele investiram na Spartacus nem explicou se sabia das atividades paralelas conduzidas pelo amigo e sócio. “Além de sua combativa e atuante atividade parlamentar, (Fillipe Poubel) é sócio do Restaurante Buda Beach, em Cabo Frio, tão somente”, afirmou, por nota. “Portanto, é equívoco, improcedente e irresponsável vincular o deputado Filippe Poubel a qualquer sociedade em criptomoedas”, conclui o texto.

A comprovação de que a relação de amizade entre Poubel e o capitão vai além da sociedade na boate aparece nas redes sociais do deputado. No dia 9 de julho, aniversário de Diogo, o parlamentar fez uma homenagem pública junto de uma foto dos dois: “Hoje é dia desse cara aqui, desse irmão que a vida me deu!”. No tributo ao amigo, Poubel o descreve como alguém de “personalidade forte”, mas com “caráter e um coração que dispensa comentários”. Antes de encerrar com um “te amo”, o deputado diz: “Estou contigo para o que der e vier, a sua guerra é a minha guerra também”.

O GLOBO também tentou, sem sucesso, contato diretamente com Diogo através do telefone pessoal do capitão e de um número associado à Spartacus. Neste último, uma mensagem automática no WhatsApp respondeu à mensagem enviada. O texto cita supostas “informações inverídicas” que estariam circulando com “o intuito de tumultuar e não de resolver”. E reconhece: “Vou ser bem direto, então: estamos passando por problemas que não são exclusividade da nossa empresa, mas de praticamente todas”.

Na continuação, o autor da mensagem diz que não passa “um minuto sequer do dia sem tentar resolver logo tudo isso, pois ninguém mais interessado do que eu”. E acrescenta: “Não posso ficar dando uma posição concreta enquanto não estiver 100%”. O comunicado é concluído com um pedido de desculpas “pelo transtorno”.

Embora se apresente no Instagram como “trader“, “empresário” e “ex-capitão PM por escolha e com muito orgulho”, Diogo ainda aparece com vínculo ativo em consulta ao sistema de consulta pública de remuneração do governo do estado. No último salário disponibilizado, referente a junho, os vencimentos são de R$ 10.891,62, com salário líquido, após os descontos, de R$ 6.238,51.

Essa não é a primeira polêmica em que Diogo e Poubel se veem envolvidos. Em julho, uma jovem denunciou à Polícia Civil ter sido vítima de estupro cometido por seguranças dentro da Buda Lounge, crime que teria ocorrido em maio, na véspera do Dia das Mães. O abuso teria se dado em meio a uma festa clandestina na boate, em que os presentes precisaram entrar pela cozinha, já que o espaço não poderia estar aberto por conta das regras sanitárias de combate à Covid-19 vigentes à época. O deputado chegou a ser intimado a prestar esclarecimentos sobre o episódio.

*Com informações do EXTRA.

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