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04/12/2024 — 04:07
  (Horário de Brasília)

Casal homoafetivo araruamense adota três irmãos e viraliza nas redes sociais mostrando o dia a dia

Processo de adoção começou em 2019 e terminou ano passado. Carlos Henrique Ruiz e Lucas Rabello Monteiro são pais de Kawã, Edgar e Ketlin

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Uma história de amor, com um grande final feliz! Carlos Henrique Ruiz, de 36 anos, e Lucas Rabello Monteiro, de 31 anos, moradores de Araruama, conseguiram, graças ao processo de adoção, realizar o sonho da família grande. O casal agora é pai do Kawã, Edgar e Ketlin.

A história começa em 2009, quando ambos ainda moravam em São Paulo e se conheceram através da internet. Desde o início, eles sempre tiveram o mesmo desejo de serem pais e a adoção já era um assunto comum. Um tempo depois de estarem juntos, decidiram se mudar para a Região dos Lagos.

Após dez anos juntos, em 2019, Carlos e Lucas perceberam que era o momento adequado para iniciar o processo de adoção. Em janeiro, eles começaram a buscar informações na Vara da Infância e Juventude de Araruama.

“A gente viu que facilitaria muito o processo se fizéssemos a união estável. Pensando no bem dos nossos filhos e no processo, fizemos a união estável. Depois a gente passa para a habilitação, que é o curso para adoção”, contou Carlos.

No mês seguinte, fevereiro, formou-se uma nova turma e o casal conseguiu fazer o curso com outras pessoas que também queriam adotar. Eles então dão mais passo rumo à adoção: a habilitação, que é feita por meio de entrevistas com psicólogos e assistentes.

Reprodução do Instagram: @paisde3_

“A nossa habilitação saiu em novembro de 2019, demorando praticamente o ano inteiro para se concluir, e nesse período nós tivemos que escolher o perfil das crianças. O perfil inicial não era esse dos nossos filhos. Na época, nossa escolha era para duas crianças, de 0 a 8 anos”, explicam.

“Não houve, em momento algum, durante as entrevistas com assistentes sociais, psicólogas, nenhum tipo de preconceito. Todos foram muito simpáticos, solícitos, muito carinhosos com a gente em todas as etapas, tínhamos até um certo receio relação a isso”, enfatizou o casal.

Após o processo de habilitação, chegou a hora de entrar na fila de adoção. Era acompanhado pelo Sistema Nacional de Adoção (SNA) e recebiam um número, se habilitando assim para o Estado do Rio de Janeiro.

“É muita ansiedade. É como se fosse uma gestação, mas você não tem dia, não tem mês, podem ser nove meses ou muito mais tempo, dependendo do perfil escolhido. Lembro que a gente entrava no site diariamente para ver se a nossa posição havia mudado”, relembram.

Mesmo com poucas informações, eles entraram em um grupo do WhatsApp para habilitados, chamado “Grupo de Busca Ativa”. O grupo era de pessoas que recebem informações de crianças que estão disponíveis para adoção, mas não possuem pretendentes, normalmente por motivos de idade, grupo de irmãos ou deficiências – sejam elas intelectuais ou físicas.

Em maio de 2020, na pandemia, surgiu a notícia que Carlos e Lucas mais esperavam. No grupo do WhatsApp foi notificado que haviam três irmãos disponíveis no Rio de Janeiro, apenas com as iniciais “K, E e K” e as idades 12, 9 e 5 anos, sendo dois meninos e uma menina.

“Na hora que a gente viu a mensagem no grupo, já sabíamos que eram os nossos filhos, tivemos esse sentimento, então resolvemos perguntar para as crianças se aceitavam um casal homoafetivo, porque poderia ser uma questão. Mas, elas aceitavam. A gente ficou super feliz e pedimos para fazer o contato. A Vara foi muito cautelosa com a gente, porque as crianças tinham acabado de passar por uma desistência de outros pretendentes. Já estavam sendo encaminhadas para uma adoção Internacional e seriam separados”.

Porém, a separação dos irmãos não aconteceu, quando foram adotados por Carlos e Lucas, os filhos ficaram juntos. A primeira visita à casa do casal foi em 18 de julho de 2020. A ideia deles era mantê-los lá por 15 dias, mas o juiz entendeu que estava tudo bem e que Kawã, Edgar e Ketlin ficariam melhor na casa deles. Portanto, eles nunca mais voltaram para o abrigo.

(Ilustração de @Alexaymour)

“Nós queríamos deixar eles no primeiro momento bem a vontade, sem impor a nossa rotina, para que eles se sentissem em casa. Não foi fácil, afinal nós éramos dois e eles três, estávamos em minoria. Tivemos que aprender de um dia para o outro a ser pais de três crianças, houveram dias bem difíceis em relação a comportamento, divisão de espaço, mas ao poucos as coisas foram se ajeitando”, contam os pais.

Com a guarda provisória das crianças em mãos, Carlos pediu licença maternidade, tendo a oportunidade de ficar quatro meses em casa com os filhos. Como as crianças não eram alfabetizadas e estavam no meio da pandemia da Covid-19, todo o ano letivo foi feito em casa. Somente em 2022 que as crianças foram a escola presencialmente, e, nesse retorno, aconteceu o primeiro caso de preconceito.

“Nós tentamos conversar bastante com eles sobre as questões raciais, interracialidade e sexualidade, e então aconteceu logo na primeira semana, os próprios coleguinhas de turma diziam que ter dois pais era errado, que era feio, não era de Deus, colocando coisas na cabeça dos nossos filhos que mesmo que nós tivéssemos conversado com eles antes, machuca”.

Reprodução do Instagram: @Paisde3_

O processo de adoção foi concluído em dezembro de 2021, mas as certidões de pais de Carlos e Lucas foram emitidas em agosto de 2022. Hoje, eles formam uma família única que compartilham com quase 100 mil seguidores todos os dias.

“Começamos postando um vídeo no TIK TOK, que acabou tendo bastante repercussão, e então nós começamos a entender que era interessante compartilhar sobre a nossa família, sobre adoção, preconceito e todos os assuntos que rodeiam o nosso cotidiano”, finalizaram os pais.  

Mariana Carvalho
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