Servidor de ambulatório voltado à travestis e transexuais de Cabo Frio é apedrejado

Novo ataque de ódio aconteceu na manhã desta sexta-feira (15). Pedra atingiu cabeça da vítima

Cabo Frio já começa a sexta-feira (15) com mais um caso de ataque de ódio na cidade. Nesta manhã, um servidor do ambulatório de atenção à saúde da população travesti e transexual, que fica na rua Leonor Fonseca da Costa, no bairro Porto do Carro, foi apedrejado.

O diretor administrativo da unidade, David Simplício, se encontrava trabalhando quando foi atingido com uma pedrada na cabeça.

De acordo com um integrante do Grupo Iguais, uma pessoa entrou na área comum do ambulatório, foi até a janela da sala da coordenação, colocou o braço pra dentro, mirou e arremessou a pedra contra a vítima.

O ataque feriu a cabeça do diretor, que foi encaminhado para a Unidade de Pronto Atendimento do município com o machucado aberto, ensanguentado e em estado de choque.

Ainda não há informações sobre a autoria do crime e nem sobre como a pessoa teve acesso à sala, visto que o posto de Estratégia de Saúde da Família (ESF) e o ambulatório são ligados, dando acesso a qualquer pessoa em qualquer lado da rua, seja pelo ambulatório Demétrio Campos ou pela ESF.

A Polícia Militar foi acionada e esteve no local. A ROMU e o Grupo Iguais também acompanharam o caso.

Segundo o marido da vítima, David já está bem e não foi nada grave mas, de acordo com o próprio neurologista, ele sofreu o risco de morte devido a pedrada ter sido na cabeça. Na segunda-feira (18) será feito o Boletim de Ocorrência.

Notas de solidariedade e repúdio

O Grupo Iguais publicou uma nota prestando solidariedade à vítima:

O Grupo Iguais vem manifestar solidariedade e apoio ao prestimoso Diretor Administrativo do Ambulatório Demétrio Campos em Cabo Frio, David Simplício.

Na manhã de hoje (12), David foi covardemente agredido de forma sorrateira com uma pedrada na cabeça desferida por pessoa desconhecida que a arremessou num ato de homofobia pela janela da sala em que o Diretor Administrativo se encontrava trabalhando, na intenção de feri-lo.

Repudiamos toda e qualquer tipo de agressão e demais condutas LGBTIfobicas. Reconhecemos e demonstramos gratidão pelo trabalho exemplar que vem sendo exercido pelo David.

Toda nossa solidariedade e estima por melhoras“.

A Prefeitura de Cabo Frio também se posicionou:

“A Prefeitura de Cabo Frio repudia a agressão sofrida por um servidor público municipal, durante o seu expediente de trabalho, nesta sexta-feira (15), no Ambulatório de Atenção à Saúde da População Travesti e Transexual, em um ato inaceitável de homofobia.

A Secretaria de Saúde acionou as autoridades para que esse ato seja investigado e a pessoa responsável devidamente punida de acordo com o que determina a lei. Agentes da Guarda Civil Municipal passaram a reforçar a segurança no ambulatório.

A Prefeitura de Cabo Frio lamenta profundamente a situação ocorrida e esclarece que está prestando todo o apoio necessário ao servidor.

A Coordenadoria Geral dos Direitos Humanos e a Superintendência LGBTI+ de Cabo Frio acompanham o caso e deixaram à disposição suporte jurídico e psicológico“.

Aumento nos crimes de ódio

O ataque é mais um caso de crime de ódio que vem assolando a região. Só em junho, mês do Orgulho LGBTQIA+, foram quatro casos de homofobia e racismo. Relembre:

No dia 10 de junho, a atleta Dara Augusta, de 20 anos, natural de Búzios, denunciou o cirurgião plástico Domingos Quintella de Paolla, que atua em Copacabana, no Rio de Janeiro, por injúria racial e homofobia. Segundo a vítima, ele não aceita o relacionamento dela com a ex-mulher dele, a professora Jéssica Andrade.

A queixa foi formalizada na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância, no Rio, junto a um vídeo em que o homem aparece fazendo ameaças e xingando a atleta com frases como: “é macaca” e “ela é favelada”.

No 21 de junho, enquanto participava da gravação do programa “UMA PROSA PODCAST”, em São Pedro da Aldeia, o Estudante de direito pela Estácio, Serviço Social pela Universidade Federal Fluminense (UFF), ativista social e colunista Wagner Muniz sofreu ataques racistas e difamação vindo de uma conta da rede social com nome de Gabriel Silva, mas sem fotos e informações adicionais. O jovem não percebeu os comentários no momento da filmagem, mas foi alertado por amigos e entrou com medidas judiciais.

No dia 23 de junho, diversos pontos da Avenida Nossa Sra. da Assunção, no Centro de Cabo Frio, amanheceram vandalizados com frases contra a população LGBTQIA+. As pichações com frases como “Fora os LGBT’s” e “Os LGBT’s são inimigos de Deus e da família. Fora!” foram feitas no prédio da Prefeitura Municipal, em uma parede lateral da matriz histórica da Igreja de Nossa Sra. De Assunção e outros lugares.

Já no primeiro dia de julho, Renata Cristiane, jornalista e CEO do Portal RC24h, historiadora, colunista política e editora, com forte atuação na Região dos Lagos, foi vítima de racismo. Um bilhete, deixado em dois pontos de ônibus de São Pedro da Aldeia, afirmava em letras garrafais “RENATA CRISTIANE REPORTE MACACA” (sic).

Sabrina Sá