Moradores da Rua França, no bairro Jardim Caiçara, em Cabo Frio, têm ficado com medo de sair de casa há, aproximadamente, seis meses. A motivação, segundo denúncias, seriam dois cachorros da raça pitbull que fogem constantemente da casa de seus donos e atacam moradores. Dessa vez, a vítima foi um homem que teve as pernas e o testículo mordidos por um dos animais, nesta segunda-feira (6). Uma veia foi perfurada e ele foi parar desacordado na UPA do município, sendo liberado na manhã desta terça (7).

Após o incidente, os animais continuaram com seus donos, como se nada tivesse acontecido. O morador em questão não realizou o boletim de ocorrência.

Mas os ataques não são de agora. Em abril, um jovem de 12 anos foi mordido por um dos cachorros ao sair de casa. Na ocasião, a criança não necessitou de atendimento médico, mas a situação já foi suficiente para causar pânico em todos que moram pelo local. Além dele, animais dos outros vizinhos também foram atacados. Felizmente, nenhum morreu.

De acordo com denunciantes, que preferiram não se identificar, a agressividade dos animais se dá devido ao pequeno espaço em que são criados. Afirmam que os dois cachorros, que são de porte grande, não possuem quintal para ficar, além de serem presos apenas por uma máquina de lavar antiga – que serve como portão da casa -, fator que facilita a fuga dos animais.

“O cachorro pitbull não tem culpa (…), não tem quintal na residência deles. Todo dia eles saem com os animais para dar volta, mas coitados, não é o suficiente”, conta um dos denunciantes, aflito.

A pessoa relata, ainda, que, quando passeiam com seus donos, os cães apresentam comportamentos normais. A agressividade vem apenas quando fogem. “Quando saem na coleira, não (são agressivos), passam até perto de filhote de gato e não latem. Mas parece que quando estão fugindo, ficam atacados! (…) Aí, quem está pela frente corre, porque vira uma presa”.

Depois de toda a situação que estão passando, principalmente a desta segunda-feira, os moradores da rua, que fica nos fundo do Estádio Correão, pedem pela saída dos animais, para que possam voltar a sair em segurança de casa. “(…) Lá tem muitas crianças e idosos… Com certeza vai acontecer algo pior”, diz uma vizinha, amedrontada.

Além disso, durante um dos relatos, uma mulher conta que tentou contato com a prefeitura, mas não obteve retorno. Diante disso, a reportagem também contatou o município que, em nota, afirmou que é contra maus tratos aos animais e que, nesse caso, seria necessário realizar um boletim de ocorrência.

A reportagem também entrou em contato com a PM, que constatou a não existência de ocorrências sobre esse tipo de situação na rua citada. Ao serem questionados sobre o que os moradores devem fazer diante dos ataques, enviaram a seguinte nota: “Se alguém foi realmente ferido deve realizar o registro na DP. E caso visualizem os cães soltos ameaçando alguém, podem ligar para o 190, onde serão orientados. O 25° BPM não consegue recolher os animais, mas podemos conduzir o proprietário com as vítimas para a delegacia”.

Pitbulls realmente são agressivos?

Desde os primórdios ouve-se falar que o pitbull é uma raça agressiva. A imagem do animal, para alguns, já é sinônimo de medo. Para outros, ver o cão de longe já é passível de se sair correndo. Para o médico veterinário João Pedro Rangel, que trabalha em uma clínica em Cabo Frio, isso não se passa de um mito e que o comportamento do animal depende de sua criação. “Conheço vários pibulls que são criados de maneiras diferentes e são completamente dóceis, com crianças ou qualquer outro animal”, pontua.

“Muita gente tem preconceito, falando que é uma raça agressiva, ou dentre outras coisas. Minha maneira de pensar é diferente! Isso pode ser sim relativo à criação”, compartilha João. Ele conta também que essa imagem do animal advém de sua força, além da mordedura vigorosa. “Antigamente usavam o pitbull para rinhas clandestinas… Até hoje existe, vemos vários relatos de rinhas sendo fechadas. Mas por que? Porque se trata de uma raça forte”.

O médico veterinário faz uma comparação sobre comportamento de outras raças. “Existem vários ataques de outras raças. O pinscher, por exemplo, é um animal muito mais agressivo que o pitbull (…), só que o ataque do pinscher não tem o poder de agressividade igual ao do pitbull (…). Outra raça que muita gente comenta que é bonitinho, que tem a língua roxa, é o chow chow, é muito mais agressivo que o pitbull, só que ele não tem esse poder de ataque do pitbull. Então, quando acontecem esses ataques com essas raças, ninguém relata em jornal, em lugar nenhum (…), mas quando é com o pitbull, que é um ataque mais sério, (…) relatam. Por isso você vê mais ataques de pitbulls do que qualquer outra raça (…). Contudo, essas duas raças vão atacar muito mais do que um pitbull“, explica.

Além disso, ele conta que o limite do animal deve ser respeitado, pois se o mesmo se sentir atacado ou acuado, vai acabar atacando.

Quem também trouxe um relato sobre como os cães dessa raça podem ser dóceis foi a médica veterinária Vanielle Sisconeto. Ela conta a história de Dara, uma cadela que, inclusive, está disponível para adoção no canil municipal de Cabo Frio.

“Quando cheguei no canil para começar meus trabalhos, ela era uma cachorra extremamente agressiva, vivia na corrente e ficava dando voltas e voltas em si mesma, completamente brava. Isso por conta daquele lugar, que ela ficava presa o tempo todo, então era um ambiente completamente instável para um cachorro. Quando comecei a trabalhar lá, iniciei um projeto de passeios com cães que ficam nesses canis presos e não têm acesso a outros cachorros (…). E agora olha que gracinha, como é mansa! Eu pego ela, deito, faço carinho na barriga, pego na pata, mexo na comida! (…) Quando saímos para passear, ela passa pelos cachorros e não avança em ninguém. Lógico que ainda não tivemos coragem de colocar em outro canil, até porque não é esse o intuito. Além disso, escolhemos muito bem quem vai adotar, nossos requisitos são que não tenham crianças, gatos ou outros cachorros, porque não sabemos como ela se comportaria (…)”, compartilha a médica, orgulhosa.

Além disso, Vaniele, assim como João, explica que a criação é importante para a personalidade do animal, principalmente quando se leva em consideração o porte físico da raça.

“A criação do pitbull é muito importante! Ele deve ser criado com amor e carinho, porque é um animal que sabe a força que tem. Ele é inteligente o bastante para saber o quão forte é, então ele sabe muito bem que se alguém vir agredi-lo, atacá-lo (…) ele sabe que pode atacar e que vai fazer um estrago muito grande. Agora, um animal que é criado com muito amor, carinho, que não está num momento de desespero e de medo, vai ser bonzinho, ele não tem pq atacar. (…) Então a criação, o adestramento realmente é muito importante para o pitbull ficar completamente manso. Isso eu não falo só do pitbull, falo de qualquer cachorro, um pinscher, um vira-lata (…) qualquer cachorro pode ser agressivo se ele se sentir ameaçado, sentir dor, se sentir em risco, se ele sofrer, tiver medo… pode ser completamente agressivo. A diferença do pitbull para qualquer outra raça é que ele tem muita força”, conclui.

Além disso, de acordo com o Projeto de lei Nº. 2.140, de 2011, “cães de raças notoriamente violentas e perigosas só podem ser levados aos parques, praças ou vias públicas, onde ocorra a presença de crianças ou pessoas indefesas, com a utilização de coleira, guia curta de condução, enforcador e focinheira”. Caso a orientação não for seguida, o policiamento será autorizado a dar advertência verbal, notificação por escrito ou, até mesmo, apreender o animal.

Graduada em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo, pela Universidade Veiga de Almeida e pós-graduanda em Assessoria de Imprensa, Jornalismo Estratégico e Gestão de Crises pela Universidade Castelo Branco.

Já atuou como apresentadora na Jovem TV Notícias, em 2021. Escreve pelo Portal RC24h há três anos e atua, desde julho de 2022, como repórter do Jornal Razão, de Santa Catarina.

É autora publicada, com duas obras de romance e mais de 500 mil acessos nas plataformas digitais.