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Foragida, esposa de Glaidson Acácio afirma à Justiça que empresa não cometeu fraude nem fez pirâmide, ao se defender em processo

Alegações foram feitas pelo advogado da venezuelana em resposta a ação movida por clientes da GAS Consultoria que investiram R$ 427 mil no grupo

Foragida desde que a Operação Kryptos prendeu Glaidson Acácio dos Santos, o “faraó dos bitcoins”, em agosto do ano passado, a esposa do ex-garçom, Mirelis Yoseline Diaz Zerpa, assegurou à Justiça brasileira que, a despeito das acusações contra o grupo, a GAS Consultoria — empresa que tem o casal como sócios — não cometeu nenhuma fraude. A venezuelana afirmou ainda que as operações não configuravam uma pirâmide financeira, uma das suspeitas que pairam sobre a quadrilha, que tem, ao todo, 17 réus por práticas como a de crime contra o sistema financeiro nacional, gestão fraudulenta e formação de organização criminosa. As alegações foram feitas na contestação do advogado de defesa de Mirelis anexada a um processo que corre na 6ª Vara Cível de Brasília, no qual três investidores que aportaram juntos R$ 427 mil no esquema pedem a devolução do dinheiro e outras reparações.

A GAS Consultoria prometia aos clientes rendimentos de 10% ao mês sobre os valores repassados, muito acima dos praticados por qualquer atividade regularizada do gênero disponível no mercado. Ao fim de 24 meses — renováveis por mais 12 —, além dos lucros mensais, o valor total investido também era devolvido aos clientes. Para justificar o faturamento astronômico, a empresa dizia realizar transações com criptomoedas, mas a natureza da operação gerou a desconfiança de que o que alimentava o caixa, na verdade, era a entrada de novos investidores, o que configuraria um esquema de pirâmide.

“Segundo os investigadores, os réus sequer reaplicavam os aportes de seus clientes, tratando-se, sim, de operação conhecida como ‘esquema Ponzi'”, pontua a defesa dos três clientes de Brasília na ação. O advogado Luciano Regis da Costa, que assina a petição inicial, obtida pelo GLOBO, acrescenta, em outro trecho, a “grande possibilidade de que ao final deste processo não haja recursos suficientes para solver a dívida com as partes Autoras”, o que justificaria a tutela de urgência — modalidade jurídica no qual a tramitação é mais rápida e que acabou concedida pela Justiça brasiliense, que também determinou o arresto dos valores citados em contas ligadas à GAS. O processo tem como réus Glaidson, Mirelis, a GAS Consultoria, uma segunda empresa associada ao grupo e, por fim, a Igreja Universal do Reino de Deus, que, a partir de um templo situado em Cabo Frio, cidade na Região dos Lagos que concentrava as operações da quadrilha, chegou a receber R$ 72 milhões doados por Glaidson.

Ao contestar o relato e os pedidos feitos pelos investidores, a defesa de Mirelis inicia solicitando que os sócios da GAS não figurem entre os alvos da ação, tendo em vista que a relação dos clientes se daria exclusivamente com a empresa. “O contrato foi celebrado entre o autor e a sociedade, esta que possui personalidade jurídica própria, sendo gritantemente ilegal a manutenção dos sócios no polo passivo”, argumenta o texto.

O documento, ao qual o GLOBO também teve acesso, prossegue reconhecendo que a inclusão dos sócios até seria possível no caso de cometimento de determinados tipos de crime, mas que “a alegação de que a empresa é objeto de fraude e trata-se de uma pirâmide financeira não está caracterizada”. A defesa da venezuelana afrma, então, que “o futuro da presente demanda depende intrinsecamente do resultado da demanda criminal”, referindo-se ao processo que tramita na Justiça Federal.

Apesar dos rendimentos exorbitantes prometidos pela GAS aos clientes, o texto assegura que tais resultados são possíveis “devido à capacitação da equipe e também pelo plano de negociações de criptomoedas da empresa, que possibilita que os lucros auferidos sejam superiores às perdas, que são comuns neste tipo de atividade”. A contestação alega ainda que o grupo não faz “oferta pública” — ou seja, publicidade — sobre seus negócios, o que é vedado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM): “Os clientes da empresa, em sua grande maioria, são oriundos de indicação de amigos e parentes, que estão satisfeitos com o serviço prestado”.

Mais à frente, a defesa de Mirelis se dedica, mais uma vez, a tentar contrapor as acusações de que a operação configuraria uma pirâmide: “A empresa de fato paga uma contraprestação mensal bem acima do que é pago tradicionalmente por bancos, o que não é de se estranhar, visto que este tipo de instituição é conhecida por atuar em prol somente de seus interesses”. “Apesar do valor chamar atenção, trata-se de lucro completamente atingível no mercado de criptomoedas”, argumenta ainda o advogado Carlos Diego Filgueira de Sousa, que assina a peça. O GLOBO tentou contato com o profissional, mas não obteve retorno.

Segundo as autoridades, Mirelis deixou o Brasil pouco antes da operação que colocou Glaidson e outros integrantes do grupo atrás das grades. Ela teria seguido para os Estados Unidos, onde acredita-se que permanece até hoje. Com um pedido de extradição para o Brasil em aberto, a venezuelana teve o nome incluído na difusão vermelha da Interpol.

Estima-se que o esquema protagonizado pelo casal tenha lesado 67 mil investidores — os investigadores acreditam, entretanto, que o número pode chegar a 200 mil — e arrecadado pelo menos R$ 38 bilhões. Até o momento, as autoridades só conseguiram apreender cerca de R$ 200 milhões vinculados à organização.

Do montante restante, as autoridades descobriram que Mirelis, já foragida, conseguiu sacar R$ 1 bilhão em bitcoins após as prisões do marido e de outros comparsas. Uma das linhas das investigações em andamento pretende entender o papel da mulher de Glaidson no esquema. Já se sabe, por exemplo, que era ela quem coordenava as transações no mercado de criptomoedas realizadas pela empresa.

*Com informações dO GLOBO.

Coordenadora de Reportagem na Portal RC24h | Site do(a) autor(a)

Pós-graduada em Jornalismo Investigativo pela Universidade Anhembi Morumbi; e graduada em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo, pela Universidade Veiga de Almeida.

Atuou como produtora/repórter na Lagos TV, Coordenadora de Programação na InterTV - Afiliada da Rede Globo, apresentadora na Rádio Costa do Sol FM e editora no Blog Cutback. É repórter no Portal RC24h desde 2016 e coordenadora de reportagem desde 2023, além de ser repórter colaboradora no jornal O Dia/Meia Hora.

Vencedora do 3º Prêmio Prolagos de Jornalismo Ambiental, na categoria web.

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