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Eventos da Marinha podem ter causado morte de sargento por Covid-19, em São Pedro da Aldeia

Denúncias apontam que desde o início da pandemia, a Base Aeronaval aldeense realiza festas quase semanalmente

Um sargento da Marinha, lotado na base aeronaval de São Pedro da Aldeia, morreu nesta segunda-feira (10), vítima da Covid-19. O Sargento Telles, que servia no Esquadrão de Manutenção, estava há uma semana intubado na UTI do Hospital Naval Marcílio Dias, para onde foi enviado com a piora do quadro de saúde.

Segundo pessoas próximas, Telles acreditava ter sido infectado em um evento na base da Marinha do Brasil em São Pedro da Aldeia, onde fica o Comando da Força Aeronaval.

De acordo com denúncias feitas ao Portal RC24h, no dia 14 de abril, em meio ao caos que o país se encontra, foi servido um coquetel de Confraternização dos Oficiais do Esquadrão de Manutenção da Marinha do Brasil na base. Enquanto o Brasil registra 40 milhões de pessoas abaixo da linha da pobreza, o cardápio do banquete contou com salmão ao molho de camarão, filé mignon ao molho de champignon, uísque 12 anos, Prosecco e cerveja importada. A confraternização foi registrada por um dos militares.

O Sargento trabalhou nesse coquetel como garçom. Ainda segundo informações, no mesmo evento havia um Oficial que dizia estar com Covid, mas que não estava sentindo “nada”, então resolveu participar, para piorar, sem máscara. Pessoas próximas afirmam que Telles chegou a comentar que esperava que a declaração fosse uma brincadeira “de mau gosto” da parte do superior.

Como resultado, em menos de uma semana, no dia 20 de abril, o Sargento Telles já sentia os sintomas da doença e acreditava ter sido contaminado no coquetel. Com o avanço desses sintomas, no período de aproximadamente 10 dias ele já aguardava por um lugar na UTI do Hospital Naval Marcílio Dias; depois de uma semana intubado na unidade, teve uma piora no quadro de saúde e foi a óbito.

Ainda segundo pessoas próximas, antes de ser internado ele se queixava do desespero que sentia ao ter que servir nesses eventos, colocando em risco a própria vida.

Muito querido entre os colegas, Telles recebeu um cortejo antes de ser enterrado nesta terça-feira (11).

Festas são constantes

Ainda de acordo com denúncias feitas com exclusividade ao Portal RC24h, a base em questão nunca deixou de realizar festas desde que a pandemia começou. Somente no mês de janeiro, foram oito eventos entre confraternizações, passagens de comando e visitas de comandantes.

O relato aponta ainda que, por conta do sistema hierárquico dominante no local, muitos militares são obrigados a estarem nestas solenidades, realizando trabalhos de garçom para os oficiais, como foi o caso do Sargento Telles.

Vale lembrar que a Prefeitura Municipal de São Pedro da Aldeia publicou, ainda em 2020, um decreto municipal proibindo festas e eventos que gerem aglomeração. Com o rápido aumento no número de casos, na última sexta-feira (7), um novo decreto atualizou as medidas de prevenção ao coronavírus, proibindo também o acesso às praias do município.

De acordo com o boletim epidemiológico da Secretaria de Saúde, a cidade está na bandeira vermelha, que representa risco alto de contágio da Covid-19. O decreto limita o horário de funcionamento de bares e restaurantes, com isso, muitos empresários e comerciantes tem tido prejuízo e alguns estão fechando as portas.

Além dos eventos programados, que já contrariam todas as medidas, a denúncia aponta que toda quarta-feira acontece uma confraternização na escola dos militares, que fica nas proximidades da distribuidora Marbela, na Rodovia Amaral Peixoto. O encontro acontece entre 8h e 9h da manhã, e nele, os oficiais tomam um café da manhã reforçado, que inclui bebidas alcóolicas e reúne em torno de 30 a 40 pessoas aglomeradas.

Ainda de acordo com a informação, o comandante que organiza esses encontro das quartas-feiras também contraiu a Covid-19 e está afastado.

Tudo isso parece não acontecer no mesmo momento em que as mortes vão aumentando. Só no últimos 15 Dias, dois Militares faleceram, vítimas da Covid-19, neste comando. Além deles, outro chegou a ficar intubado, mas conseguiu se recuperar.

Mesmo com tantas vítimas, a denúncia diz que o uso de máscara não é respeitado no Complexo Aeronaval, que a cada dia tem mais infectados pelas rotinas obrigatórias implementadas. A preocupação é enorme, pois como se trata de um ambiente de hierarquia, ninguém pode se recusar a servir os superiores.

Vale destacar também, que o cardápio robusto é servido apenas aos oficiais. Os chamados de ‘praças’ ( soldados; cabos; primeiro, segundo e terceiro sargentos; suboficiais ou subtenentes) comem diariamente “feijão aguado, macarrão com salsicha e carré”, afirma o militar que prefere não se identificar.

As denuncias recebidas pelo Portal Rc24h, são reforçadas por relatos de outras pessoas que servem na mesma base, e também preferem não se identificar. De acordo com uma delas, as aglomerações são constantes, assim como a falta do uso de máscara e a ausência do distanciamento, o que reforça a posição negacionista de tudo o que vem sendo divulgado pelos especialistas e pela Organização Mundial da Saúde.

Por causa dessas denúncias, que também foram feitas ao Ministério Público Militar, os militares foram proibidos de usar aparelho celular dentro do quartel, para que as ocasiões não sejam registradas.  

HORA DO RANCHO

Além dos eventos irregulares, a hora do almoço dos militares está longe de ter um ambiente de prevenção. A denúncia aponta que cerca de 700 militares são reunidos em uma única área fechada para almoçar simultaneamente, no chamado ‘rancho’. A única forma de prevenção adotada é a disponibilidade de álcool para higienizar as mãos, mas mesmo assim, o álcool de 46% INPM, abaixo do recomendado pelas medidas sanitárias e pela OMS.

A denúncia dá conta ainda que depois das refeições, a área não é higienizada, o que acaba comprometendo ainda mais a segurança sanitária do ambiente.

Embora exista uma ordem para a Marinha manter apenas 1/3 dos militares em serviço para diminuir a contaminação da covid-19, muitos estão ali por ordem, mesmo não desempenhando tarefas consideradas essenciais para o funcionamento da base.

A redação do Portal RC24h entrou em contato com o Ministério Público Militar, mas não obteve retorno até o encerramento desta matéria.

A Prefeitura de São Pedro da Aldeia informou que a Marinha do Brasil, como órgão independente, possui autonomia e jurisprudência sobre o seu território, assim como garantir a segurança dos militares que nela atuam é responsabilidade da instituição.

Marinha afirma que atende aos protocolos sanitários

Em resposta a Marinha do Brasil informou que, em virtude dos desafios impostos pela crise sanitária em curso, decorrente da pandemia causada pelo novo Coronavírus (COVID-19), atende aos protocolos sanitários estabelecidos pelos órgãos de saúde nacionais e internacionais e determinou uma série de medidas a serem cumpridas pelas suas Organizações Militares.

Diante das orientações, a Base Aérea Naval de São Pedro da Aldeia, bem como todas as OM do Complexo Aeronaval, adotou protocolos de prevenção e contenção, de modo a fazer frente às necessidades sanitárias, sem, contudo, inviabilizar o cumprimento de sua missão constitucional, mantendo a mobilização plena de seus meios para o pronto emprego.

As formaturas e cerimônias obedecem a todos os critérios de distanciamento respeitados. Assim, diversas medidas preventivas foram adotadas e são cumpridas desde o início da pandemia. Dentre elas, destacam-se:

– Doação de máscaras de proteção individual a todos os militares e civis, bem como sua obrigatória utilização em todos as dependências da OM;

– Distanciamento social, suspendendo ou reduzindo o quantitativo de todas as atividades que possibilitem potencial geração de aglomerações;

– Redução significativa do pessoal em cumprimento de expediente presencial, inclusive afastando aquelas pessoas que possuem algum tipo de comorbidade e que possam ser identificadas como grupo de risco para o Novo Coronavírus;

– Estabelecimento de horários diferenciados, por grupos militares e servidores civis, por ocasião das refeições, bem como a redução do número de cadeiras por mesas nos refeitórios, possibilitando o adequado afastamento entre comensais; entre outras.

No mesmo sentido, destacam-se as seguintes medidas de contenção:

– Todos os militares e servidores civis são orientados a se afastarem das suas atividades laborais e a procurarem o serviço médico ao perceberem qualquer sintoma que possa ser associado à suspeita de contaminação;

– Imediata execução do protocolo de desinfecção, por equipe especializada, na área em que o paciente exercia suas atividades assim como as quais teve contato; e

–  Acompanhamento dos servidores lotados próximo a área supostamente infectada, de modo averificar a apresentação de sintomas de infecção.

Embora ocorra todo os esforços para a prevenção da propagação do vírus dentro das Organizações Militares localizadas na Base Aérea Naval de São Pedro da Aldeia, cabe ressaltar que os militares e servidores civis se ausentam das suas Organizações Militares após o expediente.

Reitero que a Base Aérea Naval de São Pedro da Aldeia encontra-se vigilante e alinhada às orientações da sua Cadeia de Comando, bem como das autoridades sanitária, mantendo os protocolos exigidos, porém sem desmobilizar sua tropa, tendo todo o seu pessoal preparado para o pronto emprego.

A complexidade da situação atual, aliada ao seu ineditismo, impõe severos desafios a todos, não sendo diferente nas Organizações Militares localizadas Base Aérea Naval de São Pedro da Aldeia, que mantêm acesas as chamas da disciplina, hierarquia e responsabilidade social”.

A Base Aérea Naval de São Pedro da Aldeia destacou ainda que, “Embora o público externo veja a Marinha do Brasil em São Pedro da Aldeia como Base Aérea Naval (BAeNSPA), estamos em Complexo Aeronaval, que abriga a 11 Organizações Militares distintas. Dentre elas a Base Aérea Naval. Todos subordinados ao Comando da Força Aeronaval, também sediada no complexo. Respondemos apenas pela BAeNSPA”.

Os denunciantes afirmam que a Marinha falta com a verdade em nota encaminhada à imprensa. “Tudo mentira! Não adianta doar máscara e obrigar 700 militares a se aglomerarem diariamente”.

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