O Tribunal Regional Federal (TRF) da 2ª Região negou, na tarde desta quinta-feira (2), um habeas corpus impetrado pela defesa de Glaidson Acácio dos Santos, de 38 anos, preso pela Polícia Federal sob a acusação de montar um esquema de pirâmide financeira. A decisão, em caráter liminar, é do desembargador federal André Ricardo Cruz Fontes. Segundo o advogado do ex-garçom, Thiago Minagé, o mérito do pedido ainda será avaliado por um colegiado de três desembargadores.
— O indeferimento da liminar não significa que o habeas corpus foi negado. O mérito ainda será analisado pela turma especializada do TRF-2 — explicou Minagé.
Por nota, a G.A.S. Consultoria Bitcoin, empresa fundada pelo ex-garçom e que oferecia lucros altíssimos aos clientes por intermédio de supostos investimentos em criptomoedas, afirmou que “lamenta a decisão”. “O corpo jurídico da empresa vai ingressar com recursos cabíveis em instâncias superiores, o quanto antes, por entender que a prisão é desnecessária e injustificável”, continua o texto. “A G.A.S. Consultoria tem a certeza de que a verdade e a justiça sempre prevalecerão e não medirá esforços para que o CEO da empresa consiga recuperar seu direito à liberdade”, conclui a empresa.
Na última sexta-feira (27), o juiz federal Vitor Barbosa Valpuesta, da 3ª Vara Federal Criminal, manteve a prisão preventiva de Glaidson durante a audiência de custódia. Após o procedimento, Minagé disse que recebia a decisão “de forma respeitosa”, mas que “discordava veementemente de todos os fundamentos utilizados”. Ao GLOBO, na ocasião, o advogado alegou que apresentou documentações comprovando que seu cliente não estava planejando uma fuga, ao contrário do que afirma a Polícia Federal (PF).
Segundo os investigadores, Glaidson, que ficou conhecido como ‘Faraó dos bitcoins’ após o escândalo vir à tona, pretendia sair do Brasil na mesma data em que acabou capturado. A informação consta no relatório da investigação, obtido pelo GLOBO. Para os policiais, uma ligação interceptada com autorização da Justiça é a prova de que o ex-garçom, que até 2014 servia mesas na Região dos Lagos, tinha a intenção de fugir.
O telefonema aconteceu na tarde de 23 de agosto, às 14h30. No diálogo, Michael de Souza Magno, apontado pela PF como um importante operador financeiro no esquema montado por Glaidson, conversa com um homem não identificado pelos investigadores. “Porque ele já sabia que ele tinha que sair do país rápido”, afirma o interlocutor para Michael, referindo-se, ainda segundo a PF, ao ex-garçom. Pouco depois, o próprio Michael diz: “Já era pra ter ido embora, cara, pra ‘tá’ bem longe daqui. Aí fica no Rio, fica indo em resenha, fica indo não sei aonde, vai pra festa”.
Em outro trecho, os dois citam o fato de que Glaidson só estaria com a identidade civil como documento, enquanto aguardava a emissão de um passaporte com visto americano. O homem não identificado afirma, então, que daria as seguintes orientações ao empresário: “Que que ‘cê’ tem que fazer? Cem países que ‘tão na’ Mercosul, que você ‘tá’ só com a identidade, então. Pega sua identidade e vaza daqui pra lá. Quando o seu passaporte sair, você manda o seu piloto vir buscar o seu passaporte’.
No relatório, os investigadores escrevem que a ligação “deixa clara a movimentação da organização criminosa para a fuga de Glaidson dos Santos, possivelmente na próxima quarta-feira (dia 25/08/2021), passando por países do Mercosul, tendo em vista que o investigado está aguardando a liberação de seu passaporte com o visto americano”. Os policiais alegam ainda que a decisão de deixar o Brasil veio depois que o programa “Fantástico”, da Rede Globo, exibiu reportagens que citavam o ex-garçom, nos dias 15 e 22 de agosto.
A preocupação da PF e do Ministério Público Federal sobre uma possível fuga era tanta que os pedidos de prisão, assinados pelo procurador da República Douglas Santos Araújo e pelo delegado federal Guilhermo de Paula Machado Catramby, foram enviados à 3ª Vara Federal Criminal às 8h56 do dia 24 de agosto, menos de 24 horas após a conversa interceptada. Na mesma noite, a Justiça expediu os mandados, permitindo que a Operação Kryptos fosse desencadeada na manhã seguinte.
O relatório da PF também destaca a situação da venezuelana Mirelis Yoseline Diaz Zerpa, esposa de Glaidson, que também teve a prisão decretada pela Justiça, mas encontra-se foragida. De acordo com os investigadores, ela tomou um voo de Cabo Frio para o Rio de Janeiro, “sob forte esquema de segurança”, no dia 23 de junho. Após uma semana no apartamento do casal, na Barra da Tijuca, Mirelis embarcou, em 30 de junho, rumo ao México. Depois, partiu para Miami, utilizando um visto de estudante. E lá permaneceu.
*Com informações do Extra.