Mais de 50 pessoas de diferentes cidades do Brasil, incluindo São Gonçalo, Niterói, Itaboraí e Senador Canedo (GO), denunciam terem sido vítimas de um suposto esquema de estelionato envolvendo a empresa Eureka Viagens e Turismo, sediada em Cabo Frio. Os relatos seguem um padrão semelhante: clientes efetuaram pagamentos antecipados por pacotes internacionais completos — com passagens aéreas, hospedagens e ingressos — mas, às vésperas da viagem ou já no destino, descobriram que as reservas não estavam feitas, os vouchers eram falsos ou os bilhetes haviam sido cancelados por falta de pagamento.
Entre os relatos registrados em boletins de ocorrência, estão desde famílias impedidas de embarcar no aeroporto até turistas barrados na entrada de parques temáticos em Orlando, nos Estados Unidos, por apresentarem ingressos que já haviam sido utilizados meses antes por outras pessoas.
Uma das vítimas, que viajou com um grupo de oito pessoas, afirmou que os ingressos comprados para a Universal Studios foram considerados inválidos na catraca do parque.
Durante a tentativa de entrada, o grupo foi abordado por diversos funcionários e submetido à verificação de identidade. Os trabalhadores solicitaram os passaportes de todos os visitantes para confirmar que eles não haviam entrado nos Estados Unidos em outro período, o que gerou forte constrangimento. O procedimento ocorreu na fila de acesso ao parque, diante de outros visitantes, e deixou os envolvidos sem alternativas imediatas.
A entrada só foi liberada três dias depois, e sob suspeita de que a responsável pela agência teria remanejado ingressos de outros clientes para cobrir o problema.
Além disso, a vítima relatou que o problema não se limitou aos ingressos. A responsável pela empresa teria informado, no dia do embarque, que apenas as passagens de ida estavam pagas. A volta teria que ser adquirida pela própria cliente, com a promessa de reembolso. A família, sem alternativa, pagou novamente pelas passagens.
Casos semelhantes foram registrados em Cancún, no México. Um cliente relatou que ao tentar realizar o check-in no hotel, foi informado de que não havia nenhuma reserva em seu nome, mesmo tendo quitado integralmente o pacote no valor de R$ 34.500. Ele e a família precisaram pagar diretamente na recepção a tarifa cheia para garantir a estadia. Outro grupo de viajantes, que contratou pacote semelhante com a Eureka Viagens, sequer teve reserva registrada e precisou procurar hospedagem alternativa em plena Semana Santa.
Outro caso é o de um jovem atleta de jiu-jitsu que viajaria aos Estados Unidos para disputar um torneio internacional. As passagens foram adquiridas diretamente com a agência, mas, ao consultar o código de reserva junto à companhia aérea, a família descobriu que o bilhete era inexistente.
O erro impediu o embarque e comprometeu a participação do atleta na competição. O caso foi denunciado nas redes sociais pelo pai do jovem, que relatou frustração e prejuízo financeiro com a viagem frustrada, destacando que todos os pagamentos foram feitos com antecedência.
Relatos apontam suposto esquema de pirâmide
O que chama a atenção é o padrão das denúncias. Segundo uma das vítimas, o que parecia inicialmente ser uma empresa consolidada no mercado — com 12 anos de atuação — passou a operar de forma suspeita por volta de março ou abril de 2025. A estratégia, segundo ela, consistia em emitir localizadores de voos e vouchers aparentemente legítimos para tranquilizar os clientes, mas sem realizar de fato os pagamentos às companhias aéreas, parques ou hotéis.
De acordo com o depoimento, “o modus operandi é claro como o sol”: a responsável pela empresa utilizaria o valor pago por um cliente novo para resolver pendências de clientes antigos. Assim, conseguia entregar parte dos pacotes, adiando o problema — até que, com o acúmulo de compromissos não pagos, o sistema entrou em colapso. “A conta matemática não fechou num determinado momento”, diz o relato. Em alguns casos, os ingressos eram remanejados de forma emergencial para quem já estava nos Estados Unidos, enquanto outros clientes, com embarque marcado para datas posteriores, acabavam no prejuízo.
Várias vítimas relataram que os problemas começaram logo após o pagamento integral. Em um dos casos registrados, uma cliente relatou que a empresa enviou o código de reserva e garantiu que “estava tudo certo”. Porém, ao checar diretamente com a companhia aérea, descobriu que o código era inexistente. Ao tentar contato com a responsável, recebeu respostas evasivas e foi informada de que a empresa passava por uma crise financeira.
Outro ponto citado por clientes é a dificuldade em receber respostas. Muitos relataram que, após os problemas, foram bloqueados pela responsável no WhatsApp ou ignorados nas tentativas de ligação. Algumas vítimas conseguiram contato somente usando números de terceiros, o que levou a novas frustrações.
Boletins de ocorrência em série
A reportagem teve acesso a boletins registrados em diferentes estados. No Rio de Janeiro, em Niterói e Cabo Frio, as denúncias envolvem valores superiores a R$ 15 mil. Já em Goiás, uma vítima declarou ter pago R$ 13.250 e descoberto, às vésperas da viagem, que nada havia sido reservado.

Além do Procon de Cabo Frio, que confirmou a suspensão de fornencimento de produtos ou serviços; suspensão temporária de atividade e cassação de licença do estabelecimento; algumas vítimas relataram que inquéritos já foram abertos pelo Ministério Público. Os relatos também estão sendo reunidos em grupos de apoio entre lesados, que compartilham documentos, prints e comprovantes de pagamento.
Mesmo com a suspensão das atividades, a empresa segue ativa nas redes sociais e chegou a enviar notificações extrajudiciais a clientes, negando má-fé e atribuindo a crise a fatores externos, como bloqueios de contas, cancelamentos indevidos e ataques virtuais.
PRONUNCIAMENTO OFICIAL DA EMPRESA
A Eureka Viagens, administrada por Tatiana Telles, publicou uma nota oficial nas redes sociais. No comunicado, a empresa afirma ter suspendido temporariamente a venda de novos pacotes para concentrar esforços na resolução das pendências com clientes que já haviam contratado os serviços.
“Paralisamos as comercializações de novos serviços, até que todos os transtornos dos clientes atuais sejam resolvidos, concentrando todos os nossos esforços no cumprimento das viagens contratadas.”
Em outro trecho complementar da mesma nota, a empresa afirma:
“A Eureka Viagens e Turismo, empresa com 12 anos de atuação no mercado, vem a público prestar esclarecimentos diante das recentes acusações envolvendo supostas fraudes e golpes. […] Nenhum cliente é ou foi vítima de fraude por parte da empresa. Complicações que eventualmente surgem durante a prestação de serviços são situações inerentes à atividade turística.”
O texto também aponta que as dificuldades enfrentadas foram agravadas por cancelamentos unilaterais, bloqueios de contas e publicações feitas por clientes nas redes sociais.
“Nos colocamos à disposição para dialogar, esclarecer e negociar individualmente cada situação, com base no respeito, na legalidade e nos contratos firmados.”


Ainda conforme as denúncias, em certos casos, Tatiana chegou a assinar confissões de dívida, reconhecendo os valores devidos e prometendo realizar o reembolso de forma parcelada. No entanto, segundo os relatos, os pagamentos foram feitos apenas parcialmente ou sequer chegaram a ser iniciados.
As vítimas afirmam que, após os primeiros contatos, a empresária deixou de responder às tentativas de negociação e descumpriu os compromissos assumidos formalmente.

AO RC24H, Tatiana enviou um novo posicionamento, leia:
Recebi inúmeras ameaças deles desde que eles se mudaram pra igreja CEI e conheceram a Jéssica, Paula e Lívia.
A partir daí eles se uniram.
A Roberta gravou um vídeo meu na casa dela e espalhou SEM MEU consentimento e ainda disse que não tinha filmagem. Então eu quero que seja notificado que não aceito divulgação por parte dela dos vídeos feito na casa dela.
Porém estive duas vezes na casa dos dois ..
Conheço os dois a bastante tempo, eles já viajaram comigo pra Dubai, Punta Cana entre outros.
Me procuraram para viajar pra Disney.
Eles cancelaram a viagem e iriam remarcar em uma data futura pois Zaza iria operar a vesícula.
Quando eles ouviram o relato da Lívia começaram e me perseguir ligar pra outros clientes, com ajuda de outra agência cismaram que não existia bilhete (existe até hoje). Que o “voucher é falso”. Voucher é voucher. Voucher não é um ingresso. É um voucher.
E eles começaram a comentar em publicações dizendo que foram vítima de golpe me ameaçando que conheciam muita gente da mídia incluindo vocês.
Ficou insustentável pois era todo dia inúmeras ligações e ameaças deles.
A mãe da Sra do vídeo me ligou querendo saber o que aconteceu na viagem dela. Eu falei que eles ainda não tinham viajado. Ela não entendeu nada uma vez que a viagem parecia ter sido realizada.
Por fim e diante de tanto desgaste.
Registrei dois boletins de ocorrência. Um contra o Sr. E outro contra a Sra.
E enviei a seguinte mensagem pra ela:
Roberta,
Diante do teor das suas mensagens e das acusações graves e infundadas que você vem fazendo contra mim, tanto em conversas privadas quanto em redes sociais, informo que não desejo mais manter qualquer relação comercial com você.
“Sua passagem aérea permanece emitida e em vigor. E , todos os demais serviços que ainda possam ser cancelados sem penalidade serão cancelados, e os valores devidos serão devolvidos no prazo previsto em lei. “
Desde então eles me ligam incessantemente por 04 números de telefones diferente além de mandar os meninos de próximo a comunidade que eles moram me mandar mensagens de ameaça.
Quero reforçar que tenho fortes evidências de ações conjuntas com outros concorrentes. Nos próprios comentários da sua matéria vemos algumas agências se oferecendo a “conferir” as reservas dos clientes. Sem mais”.
Ludmila Lopes
Graduada em Jornalismo pela Universidade Veiga de Almeida. Já atuou como apresentadora na Jovem TV Notícias, em 2021. Escreve pelo Portal RC24h há 4 anos e atua, desde 2022, como repórter no Jornal Razão, de Santa Catarina. É autora publicada, com duas obras de romance e quase 1 milhão de acessos nas plataformas digitais.
Vencedora do 6º Prêmio Prolagos de Jornalismo Ambiental, na categoria web.