O projeto Pescando Tradições, realizado pelo Instituto Burburinho Cultural em parceria com a Associação dos Pescadores Artesanais e Amigos da Praia da Pitória (APAAPP), oferece neste fim de semana (1 e 2) o módulo “Capacitação em confecção de artesanato e biojoias” para pescadores de São Pedro da Aldeia. A atividade terá pelo menos 16 horas e será conduzida por um artesão profissional.
O projeto busca valorizar os saberes da pesca artesanal, modos de vida dos pescadores e promover práticas sustentáveis. Desde o primeiro semestre, os módulos têm sido oferecidos gratuitamente para pescadores da Região dos Lagos, com aulas na Lagoa de Araruama, presença de mediadores e intérpretes de libras. A capacitação total do curso soma 206 horas, distribuídas entre pesca artesanal como cultura tradicional no território de São Pedro da Aldeia (30h), pesca artesanal como profissão (160h) e confecção de artesanato e biojoias (16h).
O projeto prevê ainda um intercâmbio de 10 dias entre pescadores da Costa Verde e da Região dos Lagos para troca de saberes sobre pesca artesanal. Também estão previstas atividades de restauração e estruturação de embarcações e a produção de um livro sobre a pesca artesanal, com versão em libras, vídeo e audiodescrição.
Milena Manhães, assistente de produção do Pescando Tradições, afirma: “A habilitação profissional permite que a atividade que os pescadores já realizam, que faz parte da cultura deles, seja reconhecida, formalizada e autorizada. Então, o curso é relevante porque leva a esse reconhecimento profissional e valorização do patrimônio e da cultura da pesca artesanal. Além de ampliar a compreensão e a prática de como são as diferentes técnicas de pesca dentro da lagoa, permite troca de experiência de saberes com outros pescadores, quando falamos de um intercâmbio entre pescadores. Então, o Pescando Tradições tem um impacto para a sustentabilidade e cultura, porque quando a cultura e identidade são fortalecidas, gerando renda, proporcionam, também, mais pertencimento. Permitem que os pescadores atuem de maneira regularizada, com orgulho, com valor, estando reconhecidos pelo que eles são e pelo que eles fazem. E também do que veio da história desse território, da história dessas famílias, de comunidades de pesca, de avós, bisavós que também atuam dentro da pesca”.
Francisco da Rocha, pescador da Lagoa de Araruama conhecido como Chico Pescador, comenta: “A pesca artesanal é essencial para a Lagoa de Araruama, não só na questão da segurança alimentar, mas também na questão econômica. Só uma comunidade aqui de São Pedro da Aldeia, com 40 embarcações monitoradas, tira cerca de 200 toneladas de pescado por ano, envolvendo 1 milhão e 700 mil reais na comunidade. Então ela tem uma importância social, cultural e ambiental. É interessante espelhar para o Brasil e o mundo essa tradição, as artes de pesca e nós como remanescentes dos povos originários que passaram nessa região e que ainda utilizam a pesca como recurso econômico, social e cultural”.
A Lagoa de Araruama, maior laguna hipersalina em estado permanente do mundo, abrange seis municípios da Região dos Lagos: Saquarema, Araruama, Iguaba Grande, São Pedro da Aldeia, Cabo Frio e Arraial do Cabo. Possui 220 km² e cerca de 630 milhões de m³ de água. A vegetação local, incluindo manguezais, funciona como berçário natural para diversas espécies e oferece condições para a pesca artesanal.
O intercâmbio terá duração de 10 dias, cinco na Costa Verde e cinco na Região dos Lagos, com 10 pescadores de cada localidade. Serão disponibilizadas embarcações, coletes salva-vidas, boias circulares, rádios VHF, extintores de incêndio, kits de primeiros socorros, ombrelones, máscaras de mergulho e sinalizadores de emergência.
Priscila Seixas, presidente do Instituto Burburinho Cultural, afirma: “O projeto expande as nascentes da pesca artesanal, conectando-a a oportunidades de negócios que favorecerão economicamente, culturalmente e socialmente os pescadores. O curso dá forma, o intercâmbio promove a troca e o livro registra e reverbera esta cultura. É uma ação 360º que estamos orgulhosos de fazer parte”.
O projeto é patrocinado pela Prolagos e Instituto Aegea, e realizado em parceria com Vila Musical, APAAPP, APESCARPEGIN, APAMA, Associação dos Pescadores de Pesca de Correnteza, Associação dos Pescadores da Praia da Baleia e Colônia de Pescadores de Iguaba Grande.
A pesca artesanal envolve conhecimento tradicional, práticas culturais e habilidades técnicas, incluindo classificação de peixes, características do habitat aquático e técnicas de navegação. Esses saberes contribuem para a proteção de ecossistemas marinhos e costeiros.
O Instituto Burburinho Cultural, sediado no Rio de Janeiro, atua há 19 anos com projetos culturais em diferentes cidades do país e no exterior. A Vila Musical é um complexo de estúdios de música no Rio de Janeiro. A APAAPP atua há 25 anos na defesa da pesca sustentável na Lagoa de Araruama.
