13/04/2025 — 16:44
  (Horário de Brasília)

Cidade capixaba acusa Cabo Frio de transferência de pessoas em situação de rua com falsas promessas de emprego

Vereadora de Linhares classificou episódio como tentativa de "higienização humana". Prefeitura de Cabo Frio negou acusação e coordenador da Casa de Passagem cabo-friense diz que grupo assinou autorizações e decidiu viajar por vontade própria

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Uma acusação feita pela Prefeitura de Linhares, no Espírito Santo, contra o município de Cabo Frio está gerando polêmica após 12 pessoas em situação de rua serem acolhidas no município capixaba. A gestão linharense afirma que os indivíduos foram deixados no local com falsas promessas de emprego. A cidade cabo-friense nega a acusação. Segundo o coordenador da Casa de Passagem, Thadeu Couto, os acolhidos solicitaram espontaneamente a ida ao Espírito Santo e assinaram documentos autorizando o transporte.

O caso ganhou repercussão após a vereadora de Linhares, Kelly Bonicenha, relatar nas redes sociais que acompanhou o caso, o qual denominou como “inédito e muito triste”, na delegacia. De acordo com ela, as pessoas – entre elas uma gestante com quadro epiléptico e dois idosos – teriam sido levadas de Cabo Frio para Linhares sem qualquer assistência, após promessas de emprego e moradia. “Eles estavam em uma casa de passagem coordenada pela prefeitura de Cabo Frio, foram colocados em um micro-ônibus e deixados aqui, sem nenhum amparo daquela cidade”, declarou.

A parlamentar usou palavras duras durante o pronunciamento nas redes sociais, sugerindo que o episódio representaria uma tentativa de “higienização humana” do município cabo-friense.

Após a grande repercussão da situação nas redes sociais e também de uma nota da prefeitura capixaba confirmando o caso, o município de Cabo Frio, através de um pronunciamento oficial, contestou as acusações e esclareceu que os 12 acolhidos não são cabo-frienses.

“Essas pessoas não são naturais ou residentes de Cabo Frio. Algumas, oriundas do Espírito Santo, vieram ao nosso município durante a alta temporada em busca de oportunidades de trabalho. Posteriormente, acessaram os serviços de acolhimento da Casa de Passagem. Durante sua permanência, manifestaram espontaneamente o desejo de retornar ao seu estado de origem para buscar novas oportunidades, especialmente na colheita do café, atividade da qual alguns já haviam participado em anos anteriores.”

Ainda conforme a nota, “cada pessoa assinou uma autorização, com nome completo, CPF e assinatura, atestando ciência de que a Casa de Passagem se responsabilizaria apenas pelo transporte, não havendo qualquer intermediação de emprego, contato com fazendas, empresas ou oferta de vagas em outro município”.

O coordenador da Casa de Passagem, Thadeu Couto, também se manifestou. Ele relatou que 17 pessoas, acolhidas temporariamente pela instituição, expressaram o desejo de retornar ao Espírito Santo. Dessas, 12 seguiram até Linhares.

“Nós temos aqui as autorizações, porque tínhamos conosco acolhidas 17 pessoas que desejavam ir para o Espírito Santo, na nossa Casa de Passagem. Eles estavam conversando, e dois já participaram da colheita do café no Espírito Santo em outros anos. E começaram a conversar entre eles e, no total, 17 pessoas desejaram ir para a colheita do café, sendo que alguns ficaram em outras cidades e 12 foram para Linhares”, explicou, complementando: “E aí nós pegamos a autorização deles, mostrando que nós só nos comprometeríamos com o transporte. O que nos foi pedido, na demanda que eles apresentaram, foi que os auxiliasse na ida até Linhares, porque queriam buscar emprego na colheita do café”..

Após a chegada a Linhares, os 12 acolhidos foram atendidos pelas equipes da secretaria municipal de Assistência Social. Seis foram levados para a Casa de Acolhida São Francisco de Assis e os outros seis para o Grupo Resgate, no distrito de Farias, onde receberam banho, alimentação e cuidados de saúde. Na manhã desta quarta-feira (9), foi iniciada uma busca ativa para localizar os familiares dos acolhidos. Em um primeiro caso, a família de um deles, oriunda da Bahia, já foi localizada, e o município irá adotar providências para sua reintegração.

O caso está sendo acompanhado pelo Ministério Público do Espírito Santo. A situação também foi levada à Polícia Civil, que informou que “a conduta está sendo analisada quanto à tipificação penal. Até o momento, não foi identificado nenhum crime que justifique a atuação da corporação. A situação está sendo acompanhada, e eventuais desdobramentos serão avaliados conforme as legislações vigentes”.

Confira o pronunciamento oficial de Cabo Frio:

“A Prefeitura de Cabo Frio vem a público esclarecer uma situação relacionada ao deslocamento de 12 pessoas em situação de rua para o estado do Espírito Santo.

Essas pessoas não são naturais ou residentes de Cabo Frio. Algumas, oriundas do Espírito Santo, vieram ao nosso município durante a alta temporada em busca de oportunidades de trabalho. Posteriormente, acessaram os serviços de acolhimento da Casa de Passagem. Durante sua permanência, manifestaram espontaneamente o desejo de retornar ao seu estado de origem para buscar novas oportunidades, especialmente na colheita do café, atividade da qual alguns já haviam participado em anos anteriores.

Diante dessa demanda apresentada por eles, a Casa de Passagem, cumprindo seu papel de apoio e acolhimento temporário, providenciou exclusivamente o transporte até o Espírito Santo, conforme registrado em documentos devidamente assinados por todos os envolvidos. Cada pessoa assinou uma autorização, com nome completo, CPF e assinatura, atestando ciência de que a Casa de Passagem se responsabilizaria apenas pelo transporte, não havendo qualquer intermediação de emprego, contato com fazendas, empresas ou oferta de vagas em outro município.

Do total, 12 seguiram até o município de Linhares, onde pretendem buscar inserção no mercado de trabalho por conta própria.

Reforçamos nosso compromisso com a transparência, com o respeito à autonomia das pessoas em situação de rua e com o cumprimento da legislação e das diretrizes de atendimento social”.

Veja também o pronunciamento do município linharense:

“A secretaria municipal de Assistência Social informa que os 12 moradores da cidade de Cabo Frio, no Rio de Janeiro, deixados em Linhares com falsas promessas de emprego foram acolhidos pelas equipes de abordagem social do Município.

Seis foram levados para a Casa de Acolhida São Francisco de Assis e seis foram levados para o Grupo Resgate, no distrito do Farias, onde receberam todos os cuidados necessários como banho, alimentação e atendimentos de saúde.

Na manhã desta quarta-feira, as equipes da secretaria municipal de Assistência Social iniciaram a busca ativa para localizar os familiares dos 12 moradores.

Numa primeira atualização, a família de um deles, que é da Bahia, já foi comunicada e o Município adotará as medidas necessárias para que o mesmo seja reintegrado.

O Município de Linhares já acionou o Ministério Público do Espírito Santo para acompanhar o caso, que também é investigado pela Polícia Civil local.

A secretaria municipal de Assistência Social de Linhares disponibilizou o telefone 27 98115 2740 para informações aos familiares dos moradores”.

Ludmila Lopes

Graduada em Jornalismo pela Universidade Veiga de Almeida. Já atuou como apresentadora na Jovem TV Notícias, em 2021. Escreve pelo Portal RC24h há 4 anos e atua, desde 2022, como repórter no Jornal Razão, de Santa Catarina. É autora publicada, com duas obras de romance e quase 1 milhão de acessos nas plataformas digitais.

Vencedora do 6º Prêmio Prolagos de Jornalismo Ambiental, na categoria web. Pós-graduanda em Assessoria de Imprensa, Jornalismo Estratégico e Gestão de Crises pela Universidade Castelo Branco (UCB).

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