A Lagoa de Araruama pode ganhar um novo título em breve. Além de ser a primeira laguna do Brasil a conquistar a certificação da Bandeira Azul com suas praias, para a temporada de 2024/2025, Iguaba Grande pretende inscrever cinco, além de renovar a Praia de Ubás, de suas sete praias para o projeto ambiental. Caso aprovadas, levantamento exclusivo do RC24h indica que o município entrará para o hall das cidades com o maior número de praias lagunares do mundo, além de se tornar a cidade com o maior número de praias com bandeiras azuis hasteadas no Brasil.
Inclusive, quando se fala em quantidade e proporcionalidade, a cidade iguabense tende a se tornar, caso todas as bandeiras sejam aprovadas, a com o maior número de praias lagunares no mundo, trazendo esse título para a Lagoa de Araruama que, até alguns anos atrás, não contava com qualquer tratamento.
De acordo com o subsecretário de Governo de Iguaba Grande, Luiz Fernando Paixão, a intenção inicial também era inscrever as praias do Centro, Cidade Nova, Popeye, Andorinhas e Parque Tamariz, além da de Ubás, para esta temporada de 2023/2024, que será inaugurada no próximo dia 1º de novembro, em Balneário Camboriú (SC).
Apesar do objetivo, questões burocráticas possibilitaram que apenas a praia de Ubás, fosse inscrita e, posteriormente, conquistasse o selo ao cumprir 34 rigorosos critérios estabelecidos pela organização do Projeto Bandeira Azul. De acordo com o secretário de Meio Ambiente da cidade, Vinícius Lavalle, foram dez meses de “trabalho árduo” para a conquista.
“Nosso primeiro objetivo foi organizar toda a documentação, conforme o organograma enviado pelo programa. Procedemos à coleta da documentação técnica, da documentação do prefeito e da nossa própria, enquanto gestores da Praia de Ubás pelo programa Bandeira Azul, e a enviamos. Em seguida, fomos confirmados como participantes, ou seja, toda a documentação foi aceita com sucesso”, disse Lavalle, compartilhando todo o árduo processo que levou a praia lagunar iguabense a se tornar uma das primeiras do Brasil.
O secretário explicou que, depois disso, o próximo passo foi lidar com a estrutura. “Recebemos a visita da coordenadora nacional em agosto, que se mostrou satisfeita com o que observou”, compartilhou.
Lavalle também comentou que uma das partes essenciais do processo foi o investimento em educação ambiental. “Ao menos uma vez por mês, em parceria com o Bandeira Azul, realizamos eventos de conscientização ambiental envolvendo jovens e estudantes universitários, abordando temas como limpeza da orla e qualidade da areia”, contou, enfatizando que o objetivo é expandir a conscientização em toda a orla.
Já em relação à parte estrutural, Lavalle explicou que se trata de um trabalho em conjunto com a secretaria municipal de Turismo, mencionando o planejamento de uma rampa de acesso para pessoas com deficiência e de um banheiro sustentável, além de um chuveiro para atender aos banhistas e um estacionamento.
Por fim, o secretário pontuou que a certificação tratá benefícios significativos para a cidade, atraindo turistas internacionais e fortalecendo a consciência ambiental dos moradores.
“Neste primeiro momento, conquistamos a certificação para a Praia de Ubás (…) [mas] vamos continuar nessa batida aí até conseguirmos trazer o Bandeira Azul para toda a extensão da Orla de Iguaba Grande”, finalizou.
Da Região dos Lagos para o mundo
Com o objetivo de fazer com que seis das sete praias do município hasteiem a tão estimada Bandeira Azul até a temporada de 2024/2025, Iguaba Grande pretende entrar na lista das cidades com o maior número de bandeiras lagunares do mundo.
Atualmente, baseando-se em dados da temporada de 2022/2023, um levantamento exclusivo feito pelo Portal RC24h aponta que a cidade dona desse título fica na Polinésia Francesa, coletividade ultramarina da França. Bora-Bora contava, até a última listagem, com dez praias lagunares premiadas.
Vale pontuar que não existe um número específico de praias em Bora-Bora. Entretanto, estima-se que, atualmente, a cidade, que possui apenas praias lagunares, conta com cerca de 20 a 30.
A segunda colocação também pertence à França, com duas cidades empatadas, Frontignan la Peyrade e Palavas-les-Flots, com cinco praias lagunares certificadas até a última atualização do projeto. Até a última temporada, a França contava com 21 praias lagunares certificadas.
Em terceiro lugar fica o Emirados Árabes Unidos, a cidade de Abu Dhabi contando com, até a última temporada, quatro praias lagunares certificadas. Essas são as únicas praias de laguna com o selo do país.
Sendo assim, quando se fala em quantidade e proporcionalidade, Iguaba Grande, caso consiga conquistar o tão estimado feito, tende a alcançar a primeira colocação mundial quando o assunto é praia lagunar, com seis de suas sete praias certificadas.
Em um cenário em que Iguaba estivesse conquistando seu maior objetivo nesta temporada e as certificações se mantivessem, numericamente, a cidade ficará em segundo lugar.
Confira a tabela:
País | Cidade | Número de praias lagunares | Número de praias certificadas |
França | Polinésia Francesa, Bora-Bora | 10 | 406 |
França | Frontignan la Peyrade | 5 | 406 |
França | Palavas-les-Flots | 5 | 406 |
Emirados Árabes Unidos | Abu Dhabi | 4 | 20 |
Lagoa de Araruama no ‘topo’
Para a temporada de 2023/2024, além de Iguaba Grande, outra cidade banhada pela Lagoa de Araruama também conquistou a certificação. A Praia das Pedras de Sapiatiba, em São Pedro da Aldeia, também vai hastear a Bandeira Azul.
Ao todo, o município aldeense apresentou mais de 100 amostras com resultados de bom a excelente ao Projeto.
Além deste, outros critérios, como gestão ambiental, segurança e serviços, que incluem diversos tópicos, possibilitaram que a praia alcançasse o marco ambiental.
Em relação à próxima temporada, o município afirma que estuda inscrever outras praias, entretanto o foco é adequar e renovar a Praia das Pedras de Sapiatiba.
Mas não para por aí, não. Outras cidades banhadas pela laguna de Araruama também querem fazer parte seleta lista do Brasil que possuem praias lagunares certificadas com o selo ecológico.
Ao Portal RC24h, Arraial do Cabo e Araruama adiantaram que pretendem inscrever praias para a fase piloto da temporada de 2024/2025.
O município cabista afirmou que pretende inscrever a Praia Ponta da Acaíra, conhecida como “Arubinha”, enquanto o araruamense fez mistério quanto à escolha.
Já Cabo Frio pretende inscrever outras duas para a fase piloto do projeto, entretanto, nenhuma lagunar. Saquarema afirma que não estudou a possibilidade alistar uma praia da laguna, mas pontuou que pretende renovar a Praia de Itaúna.
“Orla privilegiada”
Para Eduardo Pimenta, biólogo e especialista em meio ambiente, além de ser presidente do Comitê da Bacia Lagos São João, Iguaba Grande tem de tudo para conquistar o objetivo de ter seis das sete praias certificadas na temporada de 2024/2025, já que a cidade conta com uma “orla privilegiada”. Para ele, a conquista depende unicamente do município.
“A orla de Iguaba é privilegiada. Ela tem um alto índice de hidrodinâmica, o que favorece a melhoria das condições de balneabilidade. Existe uma parte significativa da orla que não possui adensamento urbano, resultando em baixo aporte de efluentes, mesmo que tratados. Pontal da Farinha, Ubás e após o Popeye são áreas que têm pouco adensamento urbano e, consequentemente, menor influência de atividades humanas. Acredito que Iguaba tem um grande potencial para conquistar a Bandeira Azul. Se o município atender aos critérios de seguridade, acessibilidade e balneabilidade, certamente conseguirá a certificação”, explicou o especialista.
Em relação ao avanço da balneabilidade do local, Pimenta enfatizou que a certificação da Bandeira Azul é “sinônimo de excelentes condições de balneabilidade, saúde ambiental, acessibilidade e seguridade”. A partir disso, ele fez uma contextualização sobre a recuperação das praias lagunares, já que, conforme afirma, na década de 90, a laguna “sofreu um colapso”.
O especialista conta que, desde então, a bacia hidrográfica vem passando por um “intenso processo de revitalização desde a privatização do sistema de tratamento e oferta de água, com a entrada de duas concessionárias na região, até a criação do Consórcio Intermunicipal Lago São João e do Comitê da Bacia Hidrográfica Lago São João. Essas ações mobilizaram a sociedade e resultaram em um acordo que antecipou o tratamento de efluentes. Atualmente, estudos e monitoramentos mostram que 85% da Lagoa de Araruama está em boas ou ótimas condições de balneabilidade”.
“Quando o sistema era estatal, não funcionava adequadamente; na verdade, estava à beira do colapso, em grande parte devido à forte influência política. Porém, após a privatização, com uma gestão focada em metas, prazos e resultados, houve uma mudança drástica e positiva”, destacou, pontuando que isso apenas reforça a decisão de certificar as praias lagunares dos municípios.
Elias Marinho, presidente do Instituto histórico, geográfico e ambiental de Iguaba Grande, a cidade pode sim conquistar outras certificações. Ele, que vive na cidade e é conhecedor de todo o processo de limpeza da lagoa, disse que a mesma surgiu a partir de diversas ações na laguna com o passar dos ano, como:
“A desativação da exploração de ostras, o trabalho de desassoreamento do Canal do Itajuru e a mobilidade da sociedade civil e dos movimentos governamentais para acelerar a construção das estações de tratamento e dos sistemas de coletas nos rios que deságuam nas praias lagunares, além do aumento na fiscalização sobre os condomínios e indústrias que ficam às margens das praias e da presença das concessionárias de tratamento de esgoto”.
Agora, para Elias, a qualidade e limpeza da água, especialmente na cidade onde mora, é nítida.
“A qualidade da água em várias partes da laguna, especialmente em Iguaba Grande, tem melhorado notavelmente. É possível observar a claridade da água e a presença de conchas nativas (…)”.
Ludmila Lopes
Graduada em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo, pela Universidade Veiga de Almeida.
Já atuou como apresentadora na Jovem TV Notícias, em 2021. Escreve pelo Portal RC24h há três anos e atua, desde julho de 2022, como repórter do Jornal Razão, de Santa Catarina.
É autora publicada, com duas obras de romance e mais de 500 mil acessos nas plataformas digitais.