Tentativa de estupro, estrutura precária, falta de vagas e promessas não cumpridas: o Centro Pop de Araruama, unidade de referência para a proteção de pessoas em situação de rua, virou alvo de denúncias nesta terça-feira (7).
A unidade, que existe há dez anos, é considerada uma ‘casa de passagem’. Segundo relatos, as pessoas que necessitam de assistência ficam no local até às 17h e, em seguida, são retiradas, passando todo o período da noite na rua. A perspectiva daqueles que necessitam de assistência mudou no ano passado, após a inauguração do Sítio Nova Vida, em São Vicente.
Sob a promessa de trabalho e moradia para aqueles que não tem um lar, o local, conforme denúncias, tornou-se uma “promessa não cumprida”. Isso porque, com capacidade para 40 pessoas, a unidade estaria atendendo apenas 15, sob a condição obrigatória de comprovar que vive em Araruama há, pelo menos, dois anos.
“Tem um rapaz de braço e perna quebrado que queria ir pra lá mas também não consegue, alega que nunca não tem vaga. A lista de espera é imensa e os critérios exigidos são absurdos”, disse uma mulher, que preferiu omitir sua identidade por medo de represália.
E não para por aí. Já cientes da burocracia, enquanto aguardam em uma grande fila a oportunidade de receber assistência no local, a população vulnerável segue recebendo assistência do Centro Pop. O problema, de acordo com relatos, é que o estado do local é “precário”. “O banheiro está interditado há um mês. Eles precisam fazer as necessidades nas ruas e tomar banho juntos, homens e mulheres”, conta a mulher.
“Eles têm que fazer suas necessidade pelas ruas ou pagar na rodoviária ou ir no banheiro do mercado, que muitas vezes não permite”, explica.
Em meio à interdição do banheiro, a mulher conta que recebeu o relato de uma mulher de 40 anos, que é de São Paulo, mas vive em situação de rua em Araruama. Na última semana, ao dividir o banho com homens, ela teria sofrido uma tentativa de estupro.
A vítima fugiu do local e se recusa a voltar, conforme o relato. Um homem, que também não teve a identidade divulgada, teria relatado que “a esposa tem que tomar banho na frente dos outros e que ele tem que fazer ‘casinha’ para ela”. O casal teria saído de Cabo Frio com expectativas de morar no sítio.
Uma pessoa em situação de rua, que preferiu não se identificar, compartilhou que “é um absurdo ter que tomar banho na rua” e que “se eles sentirem dor de barriga, têm que fazer nas calças”.
A ex-assistida, que voltou para os braços da família, conta que o local não disponibiliza sabonete e nem absorvente. Ela também afirma que os funcionários tratam os assistidos “com preconceito”.
Ela também contou que os itens que são encaminhados por doações, muitas das vezes, são “desviados”. “As melhores doações vão para eles [funcionários], deixando apenas as roupas manchadas para a gente”, conta, mencionando que são “as pessoas em situação de rua que limpam o local”.
Confira o relato dela:
Diante dos fatos, o RC24h entrou em contato com a prefeitura de Araruama, questionando os pontos mencionados nas denúncias, e aguarda retorno.
Ludmila Lopes
Graduada em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo, pela Universidade Veiga de Almeida.
Já atuou como apresentadora na Jovem TV Notícias, em 2021. Escreve pelo Portal RC24h há três anos e atua, desde julho de 2022, como repórter do Jornal Razão, de Santa Catarina.
É autora publicada, com duas obras de romance e mais de 500 mil acessos nas plataformas digitais.