Aos 15 anos, Vitória Bastos, garota trans de São Pedro da Aldeia (RJ), brilhou no maior concurso de modelos do país ao conquistar o terceiro lugar na final feminina do The Look of The Year Brasil 2025, realizada na última segunda-feira (24), no Wake Studio, em São Paulo. Com apenas seis meses de carreira, Vitória estreia com destaque no mundo da moda e se torna um símbolo de representatividade para jovens trans de todo o Brasil.
O The Look of The Year é reconhecido mundialmente desde os anos 90 e revelou tops brasileiras como Gisele Bündchen, Isabeli Fontana, Carol Ribeiro e Ana Beatriz Barros. Relançado em 2013 pela JOY Management, dos empresários Liliana Gomes e Marcelo Fonseca, o concurso democratiza oportunidades no mercado de modelos e fomenta novos talentos.

Pela segunda vez na história do concurso, uma mulher trans integra o pódio: em 2020, Ọda Cairu também ficou na terceira colocação. Na edição de 2025, a segunda colocação ficou com Maria Clara Luz, 17, de Rondonópolis (MT); o primeiro lugar feminino foi para Bianca Araújo, 18, natural de Porto Primavera (SP). Na categoria masculina, quem garantiu o topo do pódio foi José Victor, 17, de Cascavel (PR). Primo da atriz Maria Fernanda Cândido. O prêmio também laureou a jovem Alejandra Perez como a The Look of The Year Colômbia.
Vitória destacou a importância de sua conquista para a comunidade trans:
“Sendo uma garota trans, eu busco representar minha comunidade. Meu sonho é inspirar outras garotas ou garotos trans a seguirem os seus sonhos, independente de sua raça, etnia ou condição monetária. Luto por uma condição de vida melhor a todos principalmente em relação à segurança, onde muitas de nós mulheres trans seguem violentadas todos os dias.”
Além da carreira promissora como modelo, Vitória cursa o 9º ano da escola, participa de um programa de iniciação científica e gosta de jogar vôlei.
Em entrevista ao portal RC24H, Vitória contou sua trajetória:
“Minha história na moda começou no vôlei, quando descobri que minha amiga Clara Navarro era modelo da ACA MODELS. Aquilo despertou em mim um sonho que nunca mais saiu da minha cabeça. Pouco depois, ela me apresentou à Clara Amorim, dona da agência, e ali eu percebi que existia um caminho real para mim. No início deste ano, minha mãe me inscreveu na seletiva da ACA Models e fui aprovada. Desde então, a agência e a Clara em especial me deram apoio, orientação e, principalmente, um ambiente seguro para que eu pudesse assumir minha identidade e me apresentar ao mundo como eu realmente sou. Minha primeira sessão de fotos na agência, em junho, marcou meu renascimento como modelo Vitória Bastos. E em apenas seis meses de carreira, conquistei algo que eu nunca imaginei tão cedo: o 3º lugar no The Look of The Year.”
Perguntada sobre os maiores desafios para chegar a uma competição nacional, ela explicou:
“Como modelo e menina trans vindo do interior, meus desafios foram ainda maiores, desde a aceitação da minha família até ao ambiente escolar. Minha ida para São Paulo foi transformadora, até então, a maior cidade que eu conhecia era o Rio, então chegar em São Paulo para uma competição nacional foi completamente novo. Também enfrentei a falta de referências trans na minha região. Eu não tinha outras meninas e mulheres trans para me orientar na transição social e médica, o que tornou esse processo muito mais desafiador. Mesmo assim, segui com o apoio da minha mãe, do meu irmão e da ACA Models, que foi essencial em cada etapa.”
Vitória destacou ainda a importância da agência que a apoiou:
“A ACA MODELS é a única agência credenciada ao The Look (concurso que lançou modelos como Gisele Bündchen no mercado) na Região dos Lagos, e só participei porque eles acreditaram no meu potencial. Na etapa final, a Clara foi pessoalmente comigo e com a minha mãe para São Paulo, cuidando de toda a logística, da preparação e me dando suporte emocional.”
O resultado mostrou a força desse trabalho: além de Vitória conquistar o 3º lugar, outra modelo da ACA Models levou o 1º lugar no ano passado. Vitória comemora:
“Foram duas modelos da ACA no pódio, algo muito significativo para quem vem do interior. Isso prova como a agência realmente transforma trajetórias e cria oportunidades reais. E hoje tenho a honra de contar que sou a segunda menina trans no pódio do maior concurso de moda do Brasil!”





