A família de Isabely Lima, de 23 anos, acusa profissionais do Hospital Municipal Jaqueline Prates, em Araruama, de negligência após a jovem perder o bebê durante o trabalho de parto. O caso ocorreu entre sexta (14) e sábado (15), quando a gestante buscou atendimento na unidade para dar à luz Aurora, sua segunda filha.
Segundo relatos, a gestante deu entrada na maternidade na sexta-feira (14) com dores intensas e sangramento. Exames foram realizados e os batimentos do bebê foram detectados, no entanto, os profissionais afirmaram que não havia dilatação suficiente para o parto normal e a liberaram. A família destaca que Isabely já tinha indicação prévia de cesariana, uma vez que seu primeiro parto também foi cirúrgico.
Na manhã de sábado (15), por volta das 8h, a jovem retornou à unidade com dores ainda mais fortes e aumento do sangramento. Ela foi avaliada novamente, e os batimentos cardíacos da bebê foram registrados. Todo o caso foi acompanhado pelo pai do bebê e tia-avó da criança, além de outros familiares.
Com três centímetros de dilatação, a gestante foi internada e colocada em observação na área de medicação. Horas depois, sem evolução do quadro, foi levada para um quarto, onde permaneceu sem acompanhamento adequado, conforme denunciam os familiares.
A tia-avó e madrinha de Aurora relatou que a mãe gritava pedindo socorro devido às dores e contrações, mas nenhuma equipe médica teria lhe atendido prontamente. Foi então que, por volta das 15h50, após nova avaliação, os profissionais constataram a ausência de batimentos cardíacos e optaram por, finalmente, realizar uma cesariana de emergência. Infelizmente, já era tarde demais. A bebê nasceu sem vida.
Após o parto, a mãe precisou ser internada novamente devido a complicações na cicatrização da cirurgia. Segundo familiares, os pontos abriram e houve infecção, exigindo nova internação e uso de antibióticos intravenosos.
Ainda de acordo com a denúncia, a diretora da unidade hospitalar teria pedido desculpas à família e se oferecido para custear o enterro da bebê.
Diante dos fatos, a prefeitura de Araruama divulgou uma nota informando que “foi aberta uma sindicância para apurar os fatos”, destacando, ainda, que “todas as medidas cabíveis serão tomadas ao final da investigação”.
O município pontuou também que a unidade “está prestando total assistência à paciente e seus familiares”, o que foi contestado pelos parentes da gestante, que afirmam que “a prefeitura não está oferecendo qualquer tipo de apoio em relação ao caso.
Não há informações se a Polícia Civil investigará o caso. O velório da pequena Aurora, que aconteceu nesta semana, foi tomado pela comoção de amigos e parentes da gestante, que cobram providências urgentes com relação à atitude dos profissionais da unidade.
Amiga foi vítima de suposta negligência dias antes
Não foi apenas Isabely que enfrentou um parto traumático na maternidade de Araruama, segundo denúncia. A amiga dela, Hevelen Vitorya, também teria sofrido complicações graves, chegando a cair da maca após o parto. A família volta a acusar a unidade de saúde de negligência e violência obstétrica, alegando que a demora no atendimento, o suposto descaso da equipe e erros durante o procedimento colocaram em risco a vida da mãe e do bebê.
O parto de Hevelen, que é Miss Teen Araruama, aconteceu no dia 1º, mas, segundo a família, ela havia procurado a maternidade antes disso, devido a fortes contrações. Mesmo com 40 semanas e quatro dias de gestação, a internação teria sido recusada sob a justificativa de que ela não apresentava dilatação suficiente. Durante esse período, a gestante teria ficado horas gritando de dor sem receber atendimento adequado.
Ao RC24h, Hevelen relatou que deu entrada na maternidade no dia 31 de janeiro, sentindo dores intensas e perdendo líquido, mas foi mandada de volta para casa. Segundo ela, permaneceu na frente da maternidade pedindo por uma nova avaliação, devido às dores intensas, mas a médica plantonista teria recusado o atendimento, afirmando que ela ainda não estava em trabalho de parto.
A jovem disse ainda que esperou dentro da unidade das 3h até 9h, aguardando a mudança de plantão para tentar ser internada por outra médica. Após uma discussão dentro da unidade, a profissional que assumiu teria dito que só faria a internação porque a direção havia determinado.
Ainda segundo Hevelen, naquele momento, ela estava com apenas 1,5 cm de dilatação e sem passagem para o parto normal. Mesmo assim, a médica afirmou que não induziria o parto nem faria cesariana, encaminhando-a para um quarto. Lá, ela conta que foi atendida por outra médica enquanto pedia socorro devido às dores intensas.
Depois de muito tempo esperando por dilatação, e com os médicos insistindo no parto normal, às 15h Hevelen pediu novamente por uma cesariana. A médica teria aceitado, afirmando que realmente não havia passagem. Às 15h46, a filha dela, Ayla Ariella, nasceu roxa, e a parteira teria afirmado que o bebê já estava entrando em sofrimento fetal.
De acordo com a denúncia, após o nascimento da bebê, a obstetra responsável teria saído do centro cirúrgico, deixando a paciente aos cuidados de enfermeiras. Ainda sob efeito da anestesia, ela teria sido posicionada de forma inadequada e acabou caindo da mesa de cirurgia, ficando pendurada pelos pés enquanto as enfermeiras tentavam segurá-la. Hevelen relatou que, após os pontos, as enfermeiras não sabiam mexer no controle da maca e a deixaram virar duas vezes, afirmando que “do chão ela não passaria”.
De acordo com os relatos, a obstetra que realizou o parto teria admitido a gravidade do caso, mas tentou amenizar o ocorrido. A recém-nascida precisou ser internada e recebeu atendimento médico devido às complicações.
No dia 13 de fevereiro Hevelen precisou retornar ao hospital devido a complicações pós-parto. A jovem apresentava vazamento intenso de líquidos e precisou ser avaliada para uma possível nova cirurgia. Ela ficou internada recebendo antibióticos na veia, enquanto a bebê Ayla também precisou ser hospitalizada novamente devido a problemas relacionados ao parto. De acordo com a família, ambas sofreram maus-tratos durante essa nova internação.
Foi então que, no dia seguinte, aconteceu o caso de Isabely, que perdeu a filha Aurora no mesmo hospital. Abalada pelo que enfrentou e temendo represálias, Hevelen, que deveria permanecer internada por sete dias, pediu para sair antes. O impacto psicológico do ocorrido foi tão intenso que ela enfrenta dificuldades para amamentar a bebê Ayla.
Diante de todo o ocorrido, nesta quinta-feira (20), Hevelen, acompanhada de Isabely, foi até a 118ª Delegacia de Polícia (118ª DP) de Araruama para registrar um boletim de ocorrência contra o hospital e os profissionais envolvidos no atendimento.
O Portal RC24h entrou em contato com a prefeitura de Araruama, questionando sobre o caso. Em resposta, o município emitiu a seguinte nota:
“A Secretaria Municipal de Saúde de Araruama esclarece que a paciente recebeu todo o atendimento necessário para a realização do parto e não houve qualquer queda da então gestante no centro cirúrgico, como pode ser comprovado no livro de ordens e ocorrências do setor.
Informamos, ainda, que o Hospital Municipal Jaqueline Prates segue os protocolos da Sociedade Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, prezando, assim, por um atendimento de excelência”.
Ludmila Lopes
Graduada em Jornalismo pela Universidade Veiga de Almeida. Já atuou como apresentadora na Jovem TV Notícias, em 2021. Escreve pelo Portal RC24h há 4 anos e atua, desde 2022, como repórter no Jornal Razão, de Santa Catarina. É autora publicada, com duas obras de romance e quase 1 milhão de acessos nas plataformas digitais.
Vencedora do 6º Prêmio Prolagos de Jornalismo Ambiental, na categoria web. Pós-graduanda em Assessoria de Imprensa, Jornalismo Estratégico e Gestão de Crises pela Universidade Castelo Branco (UCB).