Meses após a denúncia de um suposto desvio de verbas no projeto de reforma e revitalização do Dormitório das Garças, em Cabo Frio, o Instituto Ecovida, responsável pelo projeto, virou alvo de um novo escândalo, desta vez relacionado aos direitos trabalhistas – ou à falta deles – dos funcionários da construção civil. Relatos, que começaram ainda em setembro, indicam 10 servidores atuando de chinelo, falta de carteira assinada e, até mesmo, horário de almoço.
O orçamento destinado à revitalização foi de R$ 1.629.208. À época, chamou a atenção o fato de que, de acordo com o Plano de Trabalho, quase 48% do valor, ou seja, R$ 779.503,82, foi destinado para estruturar a equipe do Instituto para trabalhar no projeto. Esse, inclusive, foi o motivo principal da denúncia. Isso porque, da quantia, R$ 255.215 foram destinados ao Instituto de Gestão Setorial (IGS), responsável pela Assessoria e Gestão Financeira, Jurídica e Contábil. Vale destacar que a empresa também realizou outros projetos ligados à instituição.
Com a quantia remanescente de R$ 524.288,82, ainda de acordo com o Plano de Trabalho, seria destinada à contratação de um coordenador geral (MEI) (salário R$ 5 mil); um coordenador técnico (MEI) (salário R$ 4,8 mil); um auxiliar administrativo (MEI) (salário R$ 4,1 mil); um técnico do viveiro/botânico (MEI) (salário R$ 3,8 mil); um encarregado (CLT) (salário R$ 2,8 mil); quatro serviços gerais (CLT) (salário R$ 1,4 mil cada); dois estagiários (TCE) (R$ 700 cada); além de equipamentos e EPIs (R$ 4 mil) e dos encargos sobre o CLT (R$ 214.272).
O que chama a atenção é que, do montante total, nenhum valor seria destinado à contratação de trabalhadores da construção civil, como serventes, pedreiros e carpinteiros. No entanto, relatos apontam que o Instituto teria contratado irregularmente esses profissionais. O sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil da Região dos Lagos foi até o local após um trabalhador relatar irregularidades e, após fiscalização, foram constatadas várias, como: precarização das condições de trabalho, com ausência de fornecimento de equipamentos de proteção individual (EPIs), além de trabalhadores sem registro em carteira, sem recolhimento de FGTS e INSS, e sem direitos como décimo terceiro salário e férias.
Desde setembro, foram feitas várias fiscalizações e, segundo informações, os problemas não mudaram. Diante disso, uma denúncia foi feita ao Ministério Público do Trabalho (MPT) e ao Ministério do Trabalho, Emprego e Renda, além da Superintendência Regional do Trabalho (SRT) de Cabo Frio.
O RC24h entrou em contato com o presidente do sindicato, Fabrício dos Santos Rodrigues, que explicou o caso.
“É uma obra onde as condições de trabalho não são das melhores, onde os trabalhadores se encontram sem os registros na carteira de trabalho, sem estarem formalmente registrados, e a empresa não se reuniu com a gente em nenhum momento para acertar essa situação e nos comprovar a situação dos trabalhadores. O primeiro passo é o cadastramento sindical, o cumprimento da convenção coletiva em vigor, vigente. É onde a gente faz o nosso trabalho de fiscalização. Abordamos a obra, entramos, fazemos o nosso serviço, que é fiscalizar as áreas de vivência, as questões técnicas dos trabalhadores, a parte dos equipamentos de segurança, o cumprimento da convenção coletiva, o registro em carteira, enfim, toda a série de documentações dos trabalhadores e da empresa para o cadastramento sindical. Em nenhum momento a empresa nos atendeu. (…) E é isso: não cumprem a convenção coletiva, não oferecem o mínimo de condições de trabalho para os trabalhadores. Na área da construção, por o local público já possuir banheiros sanitários, por sorte os trabalhadores puderam acessá-los. Se não fosse isso, nem isso os trabalhadores teriam”, disse.
O Portal também entrou em contato com o Ecovida, questionando sobre a situação dos trabalhadores, e aguarda retorno.
Ludmila Lopes
Graduada em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo, pela Universidade Veiga de Almeida.
Já atuou como apresentadora na Jovem TV Notícias, em 2021. Escreve pelo Portal RC24h há três anos e atua, desde julho de 2022, como repórter do Jornal Razão, de Santa Catarina.
É autora publicada, com duas obras de romance e mais de 500 mil acessos nas plataformas digitais.