O samba foi o tema da roda de conversa que finalizou o oitavo dia da Festa Literária Internacional de Maricá (Flim) na sexta-feira (8). Os convidados foram o escritor e professor Luiz Antônio Simas, a cantora Roberta Sá e a carnavalesca Beth Morgado, com mediação da jornalista Flávia Oliveira sob o tema “Que História de Samba é Essa?”. Entre os tópicos debatidos estavam a ancestralidade do gênero, o resgate histórico e o caráter familiar das escolas de samba.
Este último ponto foi defendido por Beth Morgado, que atua junto às agremiações de Maricá. Ela acredita que esse traço resiste mesmo com a cidade tendo uma escola desfilando na Marquês de Sapucaí.
“Mesmo com a União de Maricá marcando presença, aqui ainda existe esse jeito de fazer Carnaval, em família. E mesmo num desfile grande, nós vemos famílias lá na Sapucaí que vão ver seus parentes na avenida. Isso é a essência do samba na origem, e não pode acabar. Quero também que venham mais mulheres se tornando carnavalescas”, avaliou Beth.
Para o escritor Luiz Antônio Simas, as escolas de samba servem historicamente como fatores de sociabilidade negra após a abolição da escravidão, e seus enredos resgatam histórias que os livros não contam.
“Eu mesmo, que sou professor de História, só tive conhecimento sobre Teresa de Benguela, por exemplo, através de uma samba-enredo da Em Cima da Hora em 1976, porque não havia registros disso. Todas as diásporas eliminaram laços comunitários que existiam, e no caso da diáspora africana as escolas foram parte da reconstrução da vida e da identidade negras. Um exemplo disso foi quando Cartola foi perguntado de onde ele tinha vindo, referindo-se à origem naquele continente e ele respondeu: ‘Sou de Mangueira’. Isso reflete a importância das agremiações”, justificou o professor e escritor, que exaltou a Flim como uma celebração da cultura.
“O compositor Beto Sem Braço dizia que ‘o que espanta a miséria humana é festa’, e nós estamos numa festa que celebra o livro e a cultura. Estamos todos aqui espantando a miséria”, disse Simas.
Já a cantora Roberta Sá declarou que estar na Flim falando de samba era uma grande oportunidade de aprendizado. Nascida em Natal (capital do Rio Grande do Norte), ela revelou que sempre presta reverência à ancestralidade do samba, representada em artistas que já partiram como Clementina de Jesus, Dona Ivone Lara, Jovelina Pérola Negra e Beth Carvalho.
“Comecei a me sentir sambista por intuição, sabendo que eu não pertencia a este mundo, que não era minha origem. Sempre que canto um samba peço licença aos ancestrais, e canto os versos como se fossem orações”, afirmou a artista, que acabou fazendo na tenda o show que estava previsto para o palco principal. A modificação foi feita em razão da forte chuva que caiu na cidade.
Flim 2024
Outras duas rodas de conversas estão marcadas para este sábado (9), penúltimo dia da Flim 2024, ambas na tenda ‘Papo Flim’. Às 16 horas, a cantora, compositora e escritora Vanessa da Mata participa do talk show “Conversas e Canções”, com mediação do produtor musical Maurício Pacheco. A partir das 18h, acontece a roda de conversa “Fé, Saúde e Política”, com participação do jornalista e escritor Bruno Paes Manso, a médica e deputada Jandira Feghali, o coordenador da Periferia Brasileira de Letras (PBL), Felipe Eugênio, e o advogado e professor universitário Márcio de Jagun. A mediação é do ator Stepan Nercessian.
A Festa Literária Internacional de Maricá (Flim) acontece na orla do Parque Nanci até este domingo, dia 10 de novembro. Para acompanhar a programação completa e as atividades em tempo real, acesse as redes sociais da Flim (@flimrj) e da Prefeitura de Maricá (@prefeiturademarica) ou o site: www.flimmarica.com.br.