07/11/2024 — 16:13
  (Horário de Brasília)

Sabores e raízes da África são temas de debate na Flim, em Maricá

Chef João Diamante e os escritores Ondjaki e Krenak falaram sobre cultura, inserção social, racismo e gastronomia na quarta-feira (6)

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A arena de debates da 9ª Festa Literária Internacional de Maricá (Flim), na orla do Parque Nanci, reuniu na quarta-feira (6) o escritor angolano Ondjaki, o imortal da ABL Ailton Krenak e o chef brasileiro João Diamante para falar sobre os sabores e as raízes da África. A roda de conversa, mediada pelo secretário de Governo e vice-prefeito eleito de Maricá, João Maurício de Freitas, inclui debates sobre cultura, inserção social, racismo e gastronomia.

Na abertura do evento, João Maurício destacou a realização da festa literária e cultural ambientada na orla do Parque Nanci, que reúne diariamente muitas famílias, alunos e professores das escolas da cidade, nessa grande celebração da literatura e do conhecimento.

Primeiro indígena a ocupar uma cadeira na Academia Brasileira de Letras (ABL), o mineiro Ailton Krenak dedica seus estudos e sua vida em prol dos direitos dos povos indígenas. O ambientalista, escritor, poeta e filósofo entrou na arena acompanhado dos indígenas das aldeias de Maricá – Céu Azul e Mata Verde Bonita – com um ritual de cânticos com mbaraka mirim (chocalho). Durante o debate, Krenak, muito assediado pelo público que lotou o auditório, afirmou que a literatura é tudo que pode ser externado por meio de um relato, não somente o que consta em livros.

“A literatura é tudo aquilo que nós fazemos quando somos capazes de narrar, de contar uma história”, afirmou o ativista, que também exaltou a festa literária da cidade. “Existe aqui a possibilidade do encontro onde cada um é portador de uma história, seja da própria vida ou das convivências estabelecidas. Tudo isso pra mim é cultura e viva a Flim”, acrescentou o ativista, que fundou em 1985 o Núcleo de Cultura Indígena com o propósito de promover a cultura indígena.

Com diversos livros publicados no Brasil e traduzidos na França, Inglaterra, Alemanha, Itália, Espanha e China, o escritor e cineasta angolano Ondjaki lembrou da guerra na Palestina, onde famílias ficam escondidas para não serem atingidas por uma bomba e a palavra é utilizada por um adulto para tranquilizar uma criança.

“O alimento no sentido figurado é uma palavra. O que essa mãe ou avó podem dar de melhor para uma criança é contar uma história e isso só se faz com a palavra. Gosto muito de uma palavra que aprendi com minha mãe chamada ternurenta, que vem de ternura. Então que não nos neguemos a ser ternurentos com quem merece””, disse Ondjaki, que também citou a escrita presente em seus livros. “Sempre volto a um lugar chamado infância, no qual tenho muito respeito, para incluir em outro conhecido como literatura”, completou.

Já o chef brasileiro João Diamante, fundador do projeto social Diamantes Na Cozinha, onde usa a gastronomia como ferramenta de transformação e inserção social em cursos de culinária, nutrição e hospitalidade para jovens em situação de vulnerabilidade nas favelas do Rio de Janeiro, afirmou que a cozinha durante muito tempo foi um lugar que ninguém queria estar, aonde historicamente mulheres pretas escravizadas eram obrigadas a trabalhar.

“Hoje isso mudou e este local ganhou valorização com programas de televisão e aumento de estudantes em faculdades de gastronomia. Com o reconhecimento, a cozinha não se torna mais um lugar de preto e sim um lugar de pessoas favorecidas. Mas quando têm pais, mães e avós culturalmente ricos de conhecimento, as barreiras dos preconceitos são quebradas e aí é possível entrar com a educação alimentar”, ressaltou.

O chef destacou a oportunidade de participar de uma mesa de debates na Festa Literária Internacional de Maricá e aconselhou a plateia para acreditar somente no que for cultura, arte e educação.

“A vida de uma pessoa só muda se tiver atrelada à cultura e educação. Sou negro, tenho uma mãe solo, que veio de Salvador e fui criado numa comunidade da Zona Norte do Rio. Então, eu fico muito feliz de estar em lugares como a Flim que pulsa a literatura”, enfatizou ele, que também falou sobre seu projeto social com jovens em comunidades do Rio. “No Diamante na Cozinha a gente desperta o interesse do outro pela transformação da gastronomia. Nem todos irão seguir nessa área, mas usamos esse espaço como ferramenta para empoderar e mostrar que as pessoas podem ir onde desejam. Esse é o poder que a comida tem na vida de cada um”, concluiu.

A Festa Literária Internacional de Maricá (Flim) acontece na orla do Parque Nanci e vai até o dia 10 de novembro. Para acompanhar a programação completa e as atividades em tempo real, acesse as redes sociais da Flim (@flimrj) e da Prefeitura de Maricá (@prefeiturademarica) ou o site: www.flimmarica.com.br.

Flimzinha

Na manhã de quarta-feira (6), a Flimzinha, tenda infanto-juvenil da Flim, teve contação de histórias da escritora e educadora infantil, Michelle Bittencourt. Ela apresentou fábulas e canções clássicas às crianças, de forma lúdica e interativa, com a ajuda do músico Ricardo Pereira. A atração reuniu dezenas de alunos e visitantes, que se divertiram com as histórias contadas por Michelle, que promoveu uma ciranda com os participantes, proporcionando interação entre eles.

Sabrina Sá
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