14/11/2025 — 17:58
  (Horário de Brasília)

Região dos Lagos tem quase todos os municípios sob influência de facções, aponta relatório da PM

Documento reservado do setor de inteligência da Polícia Militar do Rio mostra que apenas 15 municípios do estado permanecem livres do controle consolidado de grupos criminosos. Levantamento revela avanço do Comando Vermelho e diversificação das atividades ilegais, inclusive em cidades turísticas fluminenses

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Um relatório reservado produzido pelo setor de inteligência da Polícia Militar do Rio de Janeiro revela um panorama preocupante sobre o domínio territorial de grupos criminosos no estado. Segundo o documento, apenas 15 dos 92 municípios fluminenses seguem sem o controle consolidado de facções ou milícias – número que ajuda a dimensionar a dificuldade de atuação do poder público diante da expansão dessas organizações.

O estudo mapeou 1.648 territórios e identificou que 62,8% deles (1.036 áreas) estão sob domínio do Comando Vermelho (CV). O Terceiro Comando Puro (TCP) controla 340 territórios (20,6%), enquanto as milícias dominam 229 (13,9%). Já o grupo Amigos dos Amigos (ADA) aparece com 43 áreas (2,6%). O relatório, atualizado gradualmente, só incorpora regiões onde o domínio criminoso está consolidado – o que significa que, mesmo diante de disputas ou ocupações recentes, alguns locais ainda não aparecem oficialmente no levantamento.

Região dos Lagos sob influência quase total

Uma das constatações mais marcantes é a abrangência do domínio criminoso na Região dos Lagos. Araruama, Cabo Frio, Arraial do Cabo, Búzios, Iguaba Grande, Saquarema, São Pedro da Aldeia e Rio das Ostras aparecem com áreas controladas por facções, deixando Casimiro de Abreu e Silva Jardim como as duas únicas cidades da região fora da lista.

A presença criminosa nessas localidades – conhecidas pela vocação turística e grande circulação de visitantes – indica um avanço para além dos grandes centros urbanos e reforça a diversificação territorial das facções.

Mudança no perfil das facções e avanço econômico

O secretário de Polícia Civil do Rio, Felipe Curi, avalia que a desmobilização das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) contribuiu para que grupos criminosos se espalhassem pelo estado. Antes concentrado na capital, o tráfico migrou para cidades médias e pequenas, ocupando regiões que historicamente se mantinham estáveis.

Curi explica que o Comando Vermelho diversificou suas fontes de renda: o tráfico de drogas, segundo ele, representa apenas 10% a 15% do faturamento da facção. Hoje, há exploração econômica direta sobre serviços – prática tradicionalmente ligada às milícias – incluindo cobrança por gás, internet, transporte alternativo, fornecimento clandestino de energia e extorsões de comerciantes.

Esse modelo de negócios amplia o impacto das facções sobre a vida cotidiana de moradores, criando dependência forçada e dificultando a dinâmica econômica legal.

Pequenos municípios sentem a pressão

Cidades de pequeno porte que ainda estão fora do domínio consolidado – como Paulo de Frontin, no Centro-Sul Fluminense – já relatam sinais de aproximação de criminosos vindos de municípios vizinhos. Moradores descrevem o aumento de furtos, presença de pessoas armadas e a mudança sutil, porém constante, na rotina local.

Apesar disso, a cidade segue oficialmente fora do mapeamento de domínio, graças à atuação rápida de policiais residentes na própria região, que evitam a fixação de criminosos em bairros mais afastados.

Crescimento contínuo do CV

Para o pesquisador Daniel Hirata, coordenador do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da UFF, o Comando Vermelho tem mostrado um crescimento constante ao longo dos anos, especialmente no Leste Fluminense e na Região Metropolitana.

Ele ressalta que disputas na Zona Oeste – historicamente controlada por milícias – não têm desfecho previsível, por se tratar de áreas onde esses grupos se consolidaram há décadas.

O subsecretário de Inteligência da PM, coronel Uirá do Nascimento Ferreira, reconhece a gravidade da situação, mas afirma ser possível reverter o cenário com planejamento, integração entre forças de segurança e uso intensivo de inteligência. Para ele, a consolidação do domínio criminoso não é definitiva e pode ser revista com operações estruturadas.

Enquanto isso, o relatório reforça o alerta sobre a necessidade de políticas de segurança pública que ultrapassem a lógica das ações pontuais e considerem o impacto econômico, social e territorial das facções – especialmente em regiões turísticas e municípios de pequeno porte que, até pouco tempo atrás, estavam longe dessa realidade.

As 15 cidades onde não há domínio consolidado

De acordo com o relatório, apenas os seguintes municípios seguem fora do controle de facções ou milícias:

  1. São José do Vale do Rio Preto – Região Serrana
  2. Casimiro de Abreu – Região dos Lagos
  3. Silva Jardim – Região dos Lagos
  4. Mendes – Centro-Sul Fluminense
  5. Pinheiral – Sul Fluminense
  6. Rio das Flores – Centro-Sul Fluminense
  7. Sapucaia – Centro-Sul Fluminense
  8. Carapebus – Norte Fluminense
  9. Cardoso Moreira – Norte Fluminense
  10. Quissamã – Norte Fluminense
  11. Cambuci – Noroeste Fluminense
  12. Italva – Noroeste Fluminense
  13. Carmo – Região Serrana
  14. Sumidouro – Região Serrana
  15. São Sebastião do Alto – Região Serrana
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MTb 0022570/MG | Coordenadora de Reportagem  Site do(a) autor(a)

Pós-graduada em Jornalismo Investigativo pela Universidade Anhembi Morumbi; e graduada em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo, pela Universidade Veiga de Almeida.

Atuou como produtora/repórter na Lagos TV, Coordenadora de Programação na InterTV - Afiliada da Rede Globo, apresentadora na Rádio Costa do Sol FM e editora no Blog Cutback. É repórter no Portal RC24h desde 2016 e coordenadora de reportagem desde 2023, além de ser repórter colaboradora no jornal O Dia/Meia Hora. Também é criadora de conteúdo para a Web 3.0 na Hive.

Vencedora do 3º Prêmio Prolagos de Jornalismo Ambiental, na categoria web.

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