Na manhã desta quinta-feira (1º), a Polícia Federal, com apoio da Controladoria Geral da União – CGU, deflagrou a “Operação Anáfora”, visando apurar favorecimento na contratação de cooperativa de trabalho pelo Município de Duque de Caxias, por valores que, somados o contrato e seus aditivos, ultrapassam meio bilhão de reais (R$563.550.000,00) em pouco mais de dois anos.
Na ação, cerca de 130 policiais federais e servidores da CGU cumprem 27 mandados de busca e apreensão, expedidos pela 6ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, nos municípios de Duque de Caxias (3), Maricá (1), Angra dos Reis (2), Mesquita (1), Niterói (1), Nova Iguaçu (1) e na capital carioca (18).
Um dos alvos é o candidato a vice-governador e ex-prefeito de Duque de Caxias, Washington Reis (MDB). O candidato confirmou “ter recebido agentes da Polícia Federal em sua casa, nesta quinta-feira (1), com mandados de busca e apreensão em uma investigação sobre um suposto favorecimento em contratos de uma cooperativa de trabalho. Washington destaca que atendeu aos policiais e se colocou à disposição para prestar todos os esclarecimentos necessários. A polícia fez o seu trabalho, sem nenhum tipo de interrupção ou dificuldade e nada foi encontrado. Os agentes também estiveram na Fazenda Paraíso, com outros mandados de busca e apreensão, para averiguação, onde também não encontraram nada ilegal, apenas o espaço em seu funcionamento regular onde, neste momento, mais de 60 dependentes químicos encontram-se em tratamento já que o local é o maior centro de recuperação de dependentes químicos do país”.
Outro alvo foi o empresário Mário Peixoto, preso na Operação Favorito, um desdobramento da Lava Jato, acusado de ter obtido facilidades em contratos com o governo e entidades a ele vinculadas; de ter feito pagamentos indevidos a diversos agentes públicos e de constituir, com outras pessoas investigadas, uma complexa rede de empresas com o propósito de ocultar recursos obtidos de maneira ilícita. A justiça chegou a conceder um habeas corpus para o empresário, posteriormente cassado pelo Superior tribunal de Justiça (STJ).
A investigação, iniciada em janeiro deste ano, aponta que a cooperativa em questão pertence à estruturada e complexa organização criminosa que vem operando no Estado do Rio de Janeiro em um contexto de corrupção sistêmica, por meio de desvio de recursos públicos, em especial na área da saúde, há décadas.
Os mandados de busca e apreensão são executados em desfavor de pessoas físicas e jurídicas que, dentro do contexto investigativo, ocupam diferentes funções na hierarquia delitiva, abarcando empresários, interpostas pessoas, operadores financeiros e prováveis líderes do esquema criminoso.
O nome da operação faz referência a uma figura de linguagem muito utilizada por escritores através da repetição de uma ou mais palavras no início de versos, orações ou períodos. Empregada na poesia e na música, a “Anáfora” aumenta a expressividade da mensagem, enfatizando o sentido de termos repetidos consecutivamente.
Contextualizando a investigação, o que se identificou como uma característica acentuada da organização criminosa em questão foi justamente a repetição do seu modo de atuar, ou seja, o emprego do mesmo modus operandi tanto na constituição de empresas geridas por interpostas pessoas, quanto na forma de contratar com entes públicos. Através de uma densa confusão patrimonial e administrativa existente entre as pessoas jurídicas pertencentes ao grupo, as práticas delitivas se repetiam, de maneira recorrente, assim como uma “Anáfora”.