O ônibus híbrido movido a hidrogênio, desenvolvido em uma parceria entre a Prefeitura de Maricá e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), foi o ponto alto do seminário “Hidrogênio Natural de Maricá”, que aconteceu nesta quarta-feira (7), na cidade. O evento debateu a experiência municipal no desenvolvimento de uma cadeia utilizando os recursos encontrados em solo maricaense.
O seminário foi promovido pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico, em parceria com o Instituto de Ciência, Tecnologia e Inovação de Maricá (ICTIM). Além de debater a descarbonização da frota da Empresa Pública de Transportes (EPT) – garantindo transporte sustentável, gratuito e de qualidade para os moradores – os participantes também ressaltaram a transformação do município em um Polo de Hidrogênio Natural, atraindo indústrias e novos negócios.
“Maricá vem construindo, desde 2017, uma política de Hidrogênio, e decidiu fazer com os recursos dos royalties de petróleo, uma matriz energética poluente, investimentos capazes de construir um ciclo de desenvolvimento alicerçado em práticas ambientais sustentáveis, limpas, como o hidrogênio. Queremos transformar Maricá no principal polo de pesquisas sobre o hidrogênio. Esperamos que a cidade, o estado e o país passem por um novo ciclo de industrialização a partir dessa nova matriz energética limpa”, disse o secretário de Desenvolvimento Econômico Igor Sardinha.
Representando o Governo do Estado do Rio de Janeiro, o secretário de Estado de Energia e Economia do Mar (Seenemar), Felipe Peixoto, parabenizou a iniciativa da cidade ao provocar a discussão do tema.
“A cidade tem dado exemplo na aplicação dos recursos dos royalties de petróleo visando o futuro. Sempre que recebemos, na Seenemar, alguma comitiva de empresas estrangeiras, a pergunta é sobre o que estamos fazendo para o desenvolvimento de uma política de hidrogênio e temos o prazer de mostrar as iniciativas do município maricaense. O Governo do Estado acompanha e apoia o desenvolvimento dessa cadeia produtiva, com a preparação da mão de obra que será demandada a partir da geração de empregos por essa indústria. Espero que todos saiam desse seminário impressionados por tudo o que Maricá está fazendo”, desejou Felipe.
A expectativa é a de que os primeiros protótipos do ônibus comecem a ser testados nos próximos dias – inicialmente sem passageiros e, em seguida, sendo incorporados nas linhas operadas pela EPT. O investimento total é de R$ 11,5 milhões e os veículos estão sendo desenvolvidos pelo Laboratório de Hidrogênio da Coppe/UFRJ. Vale lembrar que Maricá dispõe, atualmente, de uma frota com 135 ônibus que circulam diariamente nas 42 linhas operadas nos quatro distritos.
Além dos dois veículos com o hidrogênio como combustível (Elétrico e Hidrogênio / Etanol e Hidrogênio), há ainda um terceiro modelo sendo desenvolvido (Etanol e Elétrico). Após período de testes, Maricá vai escolher o modelo de ônibus a ser adotado no processo de descarbonização da frota municipal.
“Maricá, hoje, é uma referência para o país com o transporte tarifa zero. A EPT, nessa parceria com a Coppe/UFRJ, o ICTIM e a Secretaria de Desenvolvimento, quer que os nossos 135 ônibus da frota sejam descarbonizados. Além de executar um sistema de transporte cada dia mais eficiente para o nosso usuário, queremos que esse sistema seja carbono zero. Ao longo dos anos, vamos adquirir os ônibus para que toda a nossa frota seja livre da emissão de carbono para levar o melhor serviço para os nossos usuários”, ressaltou o presidente da EPT, Celso Haddad.
A iniciativa inédita em gestão pública no país permitirá ao município receber royalties pela propriedade da patente tecnológica. O ônibus híbrido não polui o ambiente e tem maior aproveitamento de energia produzida em comparação aos usuais veículos que fazem combustão interna e usam apenas 15% do potencial energético do combustível.
Hidrogênio Natural
A primeira agenda da comitiva que veio do Rio de Janeiro – no protótipo de ônibus elétrico / hidrogênio – foi uma visita aos locais onde foram registradas ocorrências de concentração do recurso natural na cidade.
“Nós temos, hoje, várias motivações que nos levam a uma transição energética. Temos um crescimento no aumento da demanda de energia no mundo. Maricá já saiu na frente com uma legislação própria. O polo de hidrogênio em Maricá vai abarcar uma enorme cadeia produtiva para o município”, apontou o presidente da Associação Brasileira de Hidrogênio (ABH2), professor Paulo Emílio de Miranda.
O objetivo do seminário foi sintetizar e indicar caminhos para parcerias fundamentais para o desenvolvimento da economia do hidrogênio em Maricá, no estado do Rio de Janeiro e no Brasil. A ideia é transformar a cidade em um grande polo de hidrogênio reunindo pesquisa, ciência, tecnologia e indústria em uma missão dedicada a fazer nascer um forte, pujante e descarbonizado arranjo produtivo local.
“O Parque Tecnológico já é uma realidade, já está em construção. Esse é outro passo muito importante dado pela cidade para que possamos receber outras empresas na área de energia. E nessa cadeia virtuosa de desenvolvimento, insiro as universidades. Queremos que Maricá seja um polo de inteligência em diversos segmentos nos próximos 10 anos”, destacou o presidente do ICTIM, Cláudio Gimenez.
Participaram do evento representantes da Secretaria de Estado de Energia e Economia do Mar, do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação; da Petrobras; da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan); da Empresa de Pesquisa Energética (EPE); do Laboratório de Energia da Universidade Federal Fluminense (UFF), dentre outras entidades convidadas.
Política Municipal de Hidrogênio
Pensando na economia pós-royalties do petróleo, Maricá criou a Política Municipal do Uso do Hidrogênio com o objetivo de desenvolver tecnologias e produtos a partir do “combustível do futuro”. Para isso, vai oferecer incentivos fiscais a empresas e indústrias que se instalarem na cidade utilizando energia limpa.
A política foi instituída pela lei 3.110 de 10 de março de 2022, com uma série de objetivos, entre eles aumentar a participação do hidrogênio na matriz energética do município, estimular o uso de em suas diversas aplicações, em especial, como fonte energética e para a produção de fertilizantes agrícolas, contribuir para a diminuição da emissão de gases de efeito estufa para o enfrentamento das mudanças climáticas, entre outras.