O quilombo da Baía Formosa, em Armação dos Búzios, ganhou um reforço para a produção de peças de cerâmica artesanais com a instalação de um forno a lenha na localidade. A iniciativa faz parte do projeto Somos Divas na Luz do Candeeiro, que tem o objetivo de dar maior alcance a cultura quilombola e promover a capacitação e geração de renda para as mulheres. A nova fornalha não só apoia na confecção dos materiais e na profissionalização de todo o processo, mas também promove a retomada das raízes e tradições da comunidade.
Culturalmente, o forno a lenha é utilizado pelos quilombos na culinária com a preparação de diversos pratos típicos, que são um dos principais atrativos para a visita de turistas no local. Agora, com a construção de um novo forno, a ferramenta ganha uma nova função, podendo ser utilizado na criação de verdadeiras obras de arte em cerâmica, além de impulsionar a autonomia das artistas.
“Foi muito maravilhoso poder continuar com a tradição dos nossos antepassados, da minha avó, de quem veio daquela geração que fazia tudo a lenha”, comenta Valquíria dos Santos Conceição, integrante do projeto na Baía Formosa.
O processo de montagens das peças é bem longo e complexo. Primeiro, a argila é moldada em diversos tipos de materiais que precisam secar na sombra durante 20 dias. Após esse período, é preciso aquecer o forno a lenha em alta temperatura por três horas antes do cozimento do material. Depois dessa etapa, os objetos demoram mais dois dias para esfriar. Por fim, para garantir a impermeabilidade das peças, ainda existe o processo de vitrificação, que consiste em uma segunda queima do produto.
“Com o Divas, nós começamos a nos unir mais e trabalhar com a questão do artesanato. Antigamente, nós éramos mais individuais e agora estamos com esse coletivo de mulheres”, conta Esila Andrade, participante do projeto.
Sobre o projeto Somos Divas na Luz do Candeeiro
O Somos Divas na Luz do Candeeiro é desenvolvido pelo Instituto Cultural Carlos Scliar em parceria com a Prolagos. Desde o início, em 2020, o projeto já impactou mais de 30 mulheres dos quilombos da Baía Formosa e Maria Joaquina, em Cabo Frio, e Caveira, em Botafogo, São Pedro da Aldeia. Durante o projeto, as mulheres aprenderam a produzir diversos tipos de utensílios como copos, xícaras, pratos, luminárias, biojoias, entre outros, para serem vendidos em feiras dos municípios e nos próprios territórios. A iniciativa está alinhada ao Respeito Dá o Tom, programa realizado por todas as empresas do grupo Aegea que promove ações com foco na igualdade e diversidade racial.
Além da capacitação para a confecção de cerâmicas e o início da montagem de uma linha de produção nos próprios quilombos, as mulheres também passaram, neste ano, por um treinamento sobre empreendedorismo e redes sociais, em parceria com o Sebrae, para ajudá-las a tornarem a atividade em um ramo sustentável financeiramente.
“Estamos sempre procurando novas parcerias e iniciativas para oferecer capacitação qualificada para que elas sejam donas de seus próprios negócios. Iniciamos com a arte da cerâmica e agora estamos focando em várias áreas do empreendedorismo para que possam, ao final, mostrar sua arte e receber pelo seu trabalho”, afirma Aline Araújo, coordenadora de Responsabilidade Social da Prolagos.
Ludmila Lopes
Graduada em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo, pela Universidade Veiga de Almeida.
Já atuou como apresentadora na Jovem TV Notícias, em 2021. Escreve pelo Portal RC24h há três anos e atua, desde julho de 2022, como repórter do Jornal Razão, de Santa Catarina.
É autora publicada, com duas obras de romance e mais de 500 mil acessos nas plataformas digitais.