InícioRegião dos LagosAraruamaIdoso é internado para raspagem no pé, contrai Covid e corre risco...

Idoso é internado para raspagem no pé, contrai Covid e corre risco de amputar membro em Araruama após transferências negadas

Três decisões judiciais foram ignoradas pela Prefeitura e Governo do Estado. Paciente está internado desde 12 de dezembro do ano passado, com tratamento paliativo

Um idoso de 63 anos aguarda internado no Hospital Geral Municipal Drª Jaqueline Prates (HGJP) de Araruama uma transferência para realizar uma cirurgia desde o último dia 12 de dezembro. Ele contraiu Covid-19 durante a internação e agora corre o risco de ter que amputar o pé.

A luta do paciente, identificado como Aluízio Oliveira da Silva, começou quando ele procurou a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) com feridas nas regiões do tornozelo e do calcanhar e, por orientação do médico que o acompanhava, era necessária a realização de uma raspagem. O idoso é cardiopata, tem doença pulmonar obstrutiva crônica e grave problema circulatório.

“As dores eram terríveis e as feridas já davam sinais de necrose, face à grave problema circulatório”, afirma a advogada da família, Karina Afonso.

No dia seguinte à internação na UPA, já que não era possível realizar o procedimento de raspagem no pronto atendimento, Aluízio foi transferido para o HGJP, “que lhe daria, em tese, maior suporte”.

No dia 13, por cautela, o médico que o atendeu no HGJP, solicitou um doppler para avaliar a extensão do comprometimento das artérias. Conforme relatado pela advogada, o exame demorou 16 dias para ser realizado, “não só em razão da demora na regulação, mas fundamentalmente porque o paciente contraiu Covid-19 no hospital”.

Ao ser internado no HGJP, o idoso fez um teste para a Covid-19, que deu negativo. Já no dia 17, ao apresentar alguns sintomas, um novo exame foi realizado e ele testou positivo. Ao contrair a doença dentro do hospital, Aluízio precisou ficar cinco dias isolado.

Após o isolamento, no dia 28, o paciente foi encaminhado para fazer o doppler em outra unidade de saúde da rede municipal e aguardou por cerca de três horas dentro da ambulância, sem ar condicionar e sem prioridade, “em um dia de forte calor, no sol de meio-dia”, relata Karina no pedido de urgência enviado à Justiça.

“O atendimento só ocorreu após intervenção política a pedido da família”.

Logo depois do exame, foi constatada séria obstrução de artérias, sendo necessária a realização de uma arteriografia com a maior brevidade possível. O procedimento é de alta complexidade e só é realizado no Hospital Santa Izabel (HSI), em Cabo Frio.

Desde então, Aluízio vive à espera da realização do procedimento, na enfermaria do HGJP, recebendo tratamento paliativo para dor e para as feridas, que “cada hora aumentam, uma vez que a obstrução na passagem do sangue está, cada dia mais, comprometendo não apenas a circulação no pé, gerando grave risco de amputação, mas também de septicemia, e, assim, de seu óbito”.

O agravamento da situação, principalmente após a Covid-19, que piorou a condição pulmonar do paciente, sendo necessário o auxílio constante de máscara de oxigênio, fez com que a família buscasse a intervenção do Poder Judiciário no dia 31, pois a demora na realização do procedimento adequado só tem complicado o estado clínico de Aluízio.

“Foram 48h para conseguir um laudo que declarasse o seu estado, tendo a Direção do nosocômio se negado a oferecer laudo médico sem a intervenção da Defensoria Pública, e, após isto, por ser domingo e feriado no dia 1/1/23!
Após a intervenção da Defensoria Pública e a “benevolência” da Direção de “preencher” o formulário, foi obtido o laudo médico”, afirma a advogada Karina.

No entanto, “o laudo médico, assinado pela Dra. Mariana Daher, CRM52.81398-2, apesar de toda evolução do quadro do Autor, cardiopata, com DPOC, que já sofreu dois acidentes vasculares cerebrais (AVC), que inclusive contraiu Covid-19 sob os cuidados do Hospital que a mesma dirige, afirma inexistir risco de morte. Todavia, evidencia a gravidade do seu quadro clínico face o risco de amputação do membro inferior”.

Com o quadro clínico evidentemente grave, três decisões judiciais de transferência já foram expedidas pela Justiça, mas não foram cumpridas pela Prefeitura de Araruama.

A primeira foi proferida às 16h de terça-feira (3) e determinava que a internação ocorresse até às 6h da manhã da quarta (4), sob pena de multa. “Na noite do dia 3, quando esta Patrona procurou a Direção do HGJP para obter informações sobre o procedimento, a Assistente Social do nosocômio não tinha nenhum conhecimento, embora o Município já houvesse sido intimado às 17h21”.

Como a decisão não foi cumprida, na quarta-feira foi necessário novo pedido de tutela de urgência, que, deferida, agravou a pena pelo descumprimento. A decisão foi proferida tarde da noite, com intimação eletrônica dos Réus e da Central de Regulação de Vagas por volta das 22h.

“Neste contexto, em 4/1/2023, o Autor informou ao Juízo de Plantão de Recesso o descumprimento da decisão e, mais uma vez, obteve decisão favorável a sua remoção, agora PARA HOSPITAL PARTICULAR, às expensas dos Réus, sob pena de responsabilização pessoal dos Secretários de Saúde do Estado, do Município e o Diretor do Hospital, que, por equívoco foi informado da UPA, mas, na verdade, seria do Hospital Jaqueline Prates”, cita a advogada da família.

Apesar da ciência da decisão, até às 13h de quinta-feira (5), a Direção do Hospital Jaqueline Prates não tinha conhecimento da instauração do procedimento para transferência de Aluízio para o hospital particular. Ao contrário, informou, que o exame teria sido agendado para a próxima quarta-feira (11), no Hospital Santa Izabel, pela rede pública, o que implicaria em mais seis dias de espera.

“Interessante a forma absolutamente vil que o paciente é tratado no hospital, tendo sido mencionado que “a amputação é um procedimento simples, corta e pronto, mas tem que saber onde vai cortar, por isso o exame é necessário”! Não apenas já existe uma confiança que vai ser realizar a amputação, mas isto é tratado como algo absolutamente simples. Simples? Perder um membro por desídia de um hospital? Por demora na prestação de serviços? Isso é uma barbaridade! Isso é um crime! Uma agressão a princípios comezinhos constitucionais, notadamente da dignidade da pessoa humana”, afirma Karina Afonso.

Novamente descumprida a decisão judicial na quinta-feira (5), em contato com a Procuradoria Geral do Município, a família recebeu a resposta de que o exame teria sido antecipado para segunda-feira (9), “único dia possível no hospital, porque os médicos estão de férias”.

“Existe férias para cumprir decisão judicial? A morte deve aguardar o hospital respeitar as férias dos médicos para prestar atendimento à população. Enquanto isso, pessoas agonizam porque não há uma organização administrativa para se manter uma equipe em constante plantão”, questiona a advogada.

Novamente descumprida a decisão judicial na quinta-feira (5), em contato com a Procuradoria Geral do Município, a família recebeu a resposta de que o exame teria sido antecipado para segunda-feira (9), “único dia possível no hospital, porque os médicos estão de férias”.

“Existe férias para cumprir decisão judicial? A morte deve aguardar o hospital respeitar as férias dos médicos para prestar atendimento à população. Enquanto isso, pessoas agonizam porque não há uma organização administrativa para se manter uma equipe em constante plantão”, questiona a advogada.

Com o descumprimento de tantas decisões judiciais, a própria advogada, juntamente com a família de Aluízio, decidiram ligar para inúmeros hospitais do Rio de Janeiro. O único que informou realizar o procedimento de Arteriografia e também depois, se necessário, a Angioplastia, foi o Hospital Barra D’Or.

Um nova intimação foi enviada às Centrais Reguladoras de Vagas para que a transferência fosse realizada, novamente sendo descumprida.

“Para que cumprir decisão judicial? O Município/Estado/Hospital paga multa! E aí? O que eu, funcionário ou servidor, tenho com isso? O que eu tenho a ver com um pé, com uma perna ou com a vida de um Pedreiro? Nada! Nada! NADA!”, diz a advogada no pedido de urgência.

Procurados pelo Portal RC24h, a Prefeitura Municipal de Araruama não se manifestou até o fechamento da matéria. Já a Secretaria de Estado de Saúde informou que a transferência do paciente já está autorizada e será realizada nas próximas horas.

MTb 0022570/MG | Coordenadora de Reportagem | Site do(a) autor(a)

Pós-graduada em Jornalismo Investigativo pela Universidade Anhembi Morumbi; e graduada em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo, pela Universidade Veiga de Almeida.

Atuou como produtora/repórter na Lagos TV, Coordenadora de Programação na InterTV - Afiliada da Rede Globo, apresentadora na Rádio Costa do Sol FM e editora no Blog Cutback. É repórter no Portal RC24h desde 2016 e coordenadora de reportagem desde 2023, além de ser repórter colaboradora no jornal O Dia/Meia Hora. Também é criadora de conteúdo para a Web 3.0 na Hive.

Vencedora do 3º Prêmio Prolagos de Jornalismo Ambiental, na categoria web.

- Advertisement -
VEJA TAMBÉM
- Advertisement -
- Advertisement -spot_img
- Advertisement -spot_img

Mais Lidas

- Advertisement -spot_img
- Advertisement -
- Advertisement -spot_img
Pular para o conteúdo