Se Glaidson Acácio dos Santos dava a própria vida como garantia em forma de seguro para conseguir contratos maiores para a GAS Consultoria Bitcoin, para contratos menores, era sua mulher, a venezuelana Mirelis Yoseline Diaz Zerpa, de 38 anos, que assinava promissórias para garantir o cumprimento dos contratos do grupo.
A informação consta na denúncia do Ministério Público Federal, com base em investigação da Polícia Federal na “Operação Kryptos” contra Glaidson, e mostra que era Mirelis por trás da operação do esquema de investimento fraudulento das empresas do casal.
Com amplo conhecimento do mercado de criptomoedas, ela montava as carteiras de investimento do grupo, teria cooptando investidores no exterior, em países como Colômbia, México, Paraguai e Venezuela, e possuiria controle dos recursos movimentados pelo grupo criminoso, juntamente com Glaidson.
Esse controle, aliás, possibilitou que ela resgatasse vários bitcoins, mesmo depois de decretada a “Operação Kryptos”, e sacasse – na cotação para a criptomoeda do dia 31 de agosto –, mais de R$ 1 bilhão (R$ 1.063.070.463,56) do grupo para evitar possíveis sequestros judiciais.
Foragida, mas atuando
De acordo com uma intercepção telefônica da Polícia Federal, Mirelis deixou o país no dia 23 de agosto e estaria escondida em Miami, nos Estados Unidos. Ela é considerada foragida e figura na lista vermelha da Interpol como tal.
A “Operação Kryptos” foi deflagrada no dia 25 daquele mesmo mês e prendeu Glaidson Acácio dos Santos em uma mansão na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio. Mirelis escapou.
Os dois e mais 15 são réus por organização criminosa e lavagem de dinheiro, após a Justiça Federal aceitar a denúncia do MPF.
Apesar da viagem, da investigação e da prisão do marido, Mirelis não parou de operar, segundo o relatório do Ministério Público Federal.
“A organização criminosa estaria em franca operação no momento da deflagração da ‘Operação Kryptos’,com continuidade das atividades ilícitas por integrantes foragidos e movimentação de criptoativos”, diz trecho do documento.
Planilhas com valores e número de clientes, obtidas por quebra de sigilo, mostram que, embora a organização criminosa, com origem e sede na cidade de Cabo Frio, na Região dos Lagos do Rio de Janeiro, o grupo já teria expandido suas atividades para outras cidades do Rio de Janeiro e para o Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, São Paulo, Santa Catarina, Minas Gerais, Maranhão e Pará.
No exterior, foram identificadas atividades da organização criminosa nos Estados Unidos, Reino Unido (Londres), Portugal (Lisboa), Uruguai, Colômbia, Paraguai e Emirados Árabes Unidos (Dubai).
De acordo com as investigações, pelas contas bancárias de uma das empresas e de Glaidson foram movimentados R$ 38,2 bilhões, 44% disso nos últimos 12 meses. Ou seja, algo em torno de R$ 16 bilhões em um ano.