16/05/2025 — 11:41
  (Horário de Brasília)

Filho de ‘médico macabro’ pode ser cúmplice nos maus-tratos a animais em Arraial do Cabo; neta do cardiologista fala em armação

Segundo a neta de Walter Rau da Silva Vieira, Mayara Vieira Leite, o avô está sendo 'injustamente incriminado', e a situação que levou à sua prisão foi manipulada pelo próprio filho, Walter Rau da Silva Vieira Júnior. Investigação aponta que os dois agiam juntos

Compartilhe

A prisão do cardiologista Walter Rau da Silva Vieira, realizada na terça-feira (29) em Arraial do Cabo, gerou grande comoção e muitos questionamentos sobre a autenticidade das acusações. O médico foi detido sob suspeita de maus-tratos a animais, após a descoberta de cães e gatos em condições extremamente precárias em sua casa. Contudo, a família do médico, em uma entrevista, revelou uma versão diferente: segundo a neta do médico, Mayara Vieira Leite, o avô está sendo injustamente incriminado, e a situação que levou à sua prisão foi manipulada pelo próprio filho, Walter Rau da Silva Vieira Júnior.

Mayara afirmou que o avô não é o “monstro” que está sendo retratado nas redes sociais e alegou que o filho do médico, com quem ele possuía um relacionamento tumultuado e repleto de abusos psicológicos e financeiros, orquestrou toda a situação. Ela apresentou áudios e mensagens que mostram Walter Júnior afirmando que destruiria a vida e a carreira do pai, tudo por vingança e controle financeiro.

“Tenho provas de que foi tudo planejado. Tenho áudios do filho dele dizendo que destruiria meu avô, que tiraria o CRM dele, que acabaria com a vida dele. Ele fez isso por vingança, por controle e dinheiro. Meu avô não é o que estão dizendo nas redes sociais”, explicou Mayara, visivelmente emocionada.

Mayara relatou que o filho de Walter Rau controlava as finanças do pai há anos, usando essa influência para manipular e chantagear. Ela contou que Walter Júnior chegou a abrir contas bancárias em nome do médico sem a autorização dele, roubando aproximadamente R$ 70 mil e movimentando outros valores obtidos do trabalho do cardiologista.

“O meu avô não tinha controle do dinheiro. Ele ficou sem nada. Quando ele começou a questionar, vieram as ameaças. O filho disse que, se não tivesse mais acesso ao dinheiro, acabaria com a vida dele e com a carreira. E ele cumpriu”, disse Mayara.

A neta também alegou que o filho de Walter Rau manipulou provas para sustentar as acusações de maus-tratos. Segundo Mayara, embora o local onde os animais viviam fosse simples, havia muito amor e cuidados por parte do médico.

“Quem conhece meu avô sabe o quanto ele ama os animais. Ele cuidava deles com carinho, era a paixão da vida dele. As pessoas estão julgando com base em cenas que foram manipuladas. Meu avô sempre teve zelo pela medicina e pelos bichos”, afirmou.

Além disso, Mayara contou que foi vítima de abusos psicológicos por parte de Walter Júnior enquanto morava com ele e o avô na casa onde os animais estavam. Ela relatou que o filho do médico a ameaçava frequentemente e usava chantagens para controlar a família.

“Ele me ameaçava todos os dias. Dizia que, se eu defendesse meu avô, ele também acabaria comigo. Me ligava alterado, às vezes sob efeito de drogas, dizendo que destruiria o pai dele, que ia fazer escândalo e acabar com tudo. No dia seguinte, fingia que estava tudo bem. Era um ciclo de abuso”, contou Mayara, visivelmente angustiada.

Ela também compartilhou com a reportagem áudios e mensagens em que o filho do médico expõe suas intenções de destruir a vida do pai e arruinar sua carreira, incluindo frases como: “Se ele não fizer o que eu quero, eu acabo com ele, com os cachorros e com o CRM dele”.

Cumplicidade entre pai e filho nas investigações

Embora Mayara tenha apresentado essas alegações, fontes próximas à investigação indicaram que há evidências que sugerem que pai e filho estavam envolvidos juntos nos maus-tratos aos animais. As apurações indicam que ambos estavam cientes das condições críticas em que os animais viviam, e a negligência não pode ser atribuída exclusivamente a uma única pessoa.

O imóvel na rua Pedro Álvares Cabral, no distrito de Monte Alto, onde a operação foi realizada, exibia um cenário de abandono alarmante: fezes espalhadas pelo ambiente, ração vencida, restos de comida podre e até cadáveres de cães e gatos guardados em um freezer. Os agentes classificaram a cena como “estarrecedora”, o que levanta fortes indícios de que os maus-tratos eram praticados de forma continuada.

Mayara e os outros familiares do médico consideram que houve uma inversão de papéis na história. Muitos médicos, pacientes e moradores de Arraial do Cabo que conheciam Walter Rau estão chocados com as acusações. Para a neta, seu avô não merece ser culpado pelas acusações que pesam sobre ele, pois ele foi manipulado por seu filho, que agiu com interesses pessoais.

“É importante que as pessoas saibam a verdade. Meu avô é uma boa pessoa. Tem seus erros, como qualquer ser humano, mas nunca maltratou os animais. Ele foi manipulado por quem mais confiava, e o que estão fazendo com ele não é justo”, disse Mayara.

Ela também afirmou que vai colaborar com a defesa do avô e buscará responsabilizar criminalmente o tio.

“Ele é quem deveria pagar, não meu avô. A justiça precisa olhar para isso com mais atenção. Não se trata apenas de maus-tratos, mas de perseguição, roubo e abuso familiar”, concluiu Mayara.

Recapitulação do caso

Walter Rau da Silva Vieira foi preso em 29 de abril após ser acusado de maus-tratos a animais. A denúncia partiu de vídeos que mostram o médico arrastando um cão. Durante a operação, pelo menos 11 animais em condições extremas de abandono foram resgatados de sua residência.

O médico foi autuado conforme o artigo 32 da Lei de Crimes Ambientais, que pune maus-tratos a animais, e pode ser condenado a até cinco anos de prisão, além de multa e proibição de manter animais sob sua guarda.

Walter atuava como médico no serviço público de saúde de Araruama. A Secretaria Municipal de Saúde informou que o ele é vinculado ao programa Mais Médicos, do Governo Federal, tendo sido admitido no programa em 2021 e estava lotado no Posto de Saúde do Sobradinho, no distrito de São Vicente. Segundo o município, o Ministério da Saúde já foi acionado para tomar providências imediatas.

A Unidade de Zoonoses, Castração e Atendimento de Animais (UZCA) publicou uma nota de repúdio nesta terça-feira (30) com duras críticas ao caso envolvendo o médico cardiologista Walter Rau da Silva Vieira, preso em flagrante em Arraial do Cabo por maus-tratos a animais. A entidade classificou os crimes como “brutais” e de “negligência extrema”, apontando ainda indícios de que o médico poderia estar envolvido com o consumo da carne dos próprios animais que mantinha sob sua guarda.

*Com informações do Lagos Informa.

MTb 0022570/MG | Coordenadora de Reportagem  Site do(a) autor(a)

Pós-graduada em Jornalismo Investigativo pela Universidade Anhembi Morumbi; e graduada em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo, pela Universidade Veiga de Almeida.

Atuou como produtora/repórter na Lagos TV, Coordenadora de Programação na InterTV - Afiliada da Rede Globo, apresentadora na Rádio Costa do Sol FM e editora no Blog Cutback. É repórter no Portal RC24h desde 2016 e coordenadora de reportagem desde 2023, além de ser repórter colaboradora no jornal O Dia/Meia Hora. Também é criadora de conteúdo para a Web 3.0 na Hive.

Vencedora do 3º Prêmio Prolagos de Jornalismo Ambiental, na categoria web.

- Advertisement -spot_img
- Advertisement -spot_img
- Advertisement -spot_img
- Advertisement -spot_img

Leia mais

- Advertisement -spot_img

Mais notícias