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25/11/2024 — 00:15
  (Horário de Brasília)

Empresa offshore de Macaé encomenda pesquisa sobre desigualdade de gênero na indústria do petróleo

Pesquisa sobre todo o setor, encomendada pela Ocyan, aponta caminho para ESG.

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A Ocyan, empresa do setor de óleo e gás de Macaé, encomendou uma pesquisa ao Instituto Ipsos para fazer um retrato das percepções das mulheres que trabalham embarcadas no setor de petróleo e quais os desafios para atraí-las e retê-las nesta atividade. As 60 mulheres ouvidas apresentaram críticas sobre falta de oportunidades, machismo e a forma de abordagem dos homens nas sondas (que, em alguns casos, chega ao assédio). Ao mesmo tempo, revelam pontos positivos, como desafio da profissão, boa remuneração e a escala de trabalho, que as ajuda a conciliar trabalho e família. O resultado global mostra o tamanho do esforço que a indústria de óleo e gás tem pela frente para tornar o ambiente offshore mais receptivo a elas.

A distância da família durante o período em que ficam embarcadas (a rotina prevê, na maioria dos casos, embarque por 14 dias e folga nos outros 14 é um problema para 40% delas, mas o machismo é o grande ponto de reclamação. O tratamento diferenciado por serem mulheres é apontado por 38% das entrevistadas e 25% consideram o ambiente preconceituoso. Quando se trata de situações desagradáveis, 27% das profissionais ouvidas disseram ter percebido um tratamento diferenciado por conta de seu gênero como não delegação de atividades pesadas por considerá-las incapazes de realizar a tarefa e 23% disseram que já escutaram comentários abusivos ou machistas a bordo.

Aspectos positivos

Apesar dos destaques negativos, a pesquisa também constatou que as mulheres que trabalham embarcadas acreditam que a situação tem melhorado. Para 83% delas, há avanço no debate e na equidade nos últimos anos. A ação mais percebida por 72% das entrevistadas foi o aumento da contratação de mulheres pelas empresas.

“O número ainda é tímido porque, para 75% das mulheres, a falta de oportunidades direcionadas é o principal motivo para o baixo número de mulheres no mercado offshore. Em segundo lugar, destaca-se a percepção de baixo interesse das próprias mulheres devido ao distanciamento familiar”, explica Nir Lander, vice-presidente de Pessoas e Gestão da Ocyan. “Mas já há avanços nesse aspecto, inclusive na nossa empresa, onde já temos líderes mulheres: uma gerente-geral de plataforma e uma comandante. Estamos investindo na atração por meio de parcerias estratégicas para capacitar mulheres e absorvê-las cada vez mais. Recentemente, montamos uma turma de soldadoras apenas com mulheres, e curso de praticantes de náutica e máquinas em parceria com CIAGA (Centro de Instrução Almirante Graça Aranha) da Marinha, também exclusiva para o público feminino, avalia.
Questão familiar

A família é solidária na escolha profissional dessas mulheres para 85% das entrevistadas; porém aproximadamente 1/3 não contam com uma rede de apoio para cuidar da casa enquanto estão embarcadas. Ter 14 dias de folga nessa escala é positivo para 31% das mulheres porque as permite conciliar melhor a agenda pessoal. Já 45% delas já pensaram em buscar uma outra carreira diante do desafio de conciliar as duas atividades.

Ambiente de trabalho
Alguns problemas estruturais nas embarcações chamaram a atenção. A falta de equipamentos de proteção individual em modelos e tamanhos adequados ao corpo da mulher é um deles e foi destacado por pelo menos 73% do público feminino ouvido.

Sobre a pesquisa

A Ocyan encomendou a pesquisa por entender que nem sempre as profissionais se sentiam confortáveis em abordar alguns temas abertamente ou em grupos de trabalho da sua própria empresa. Entre as profissões das mulheres ouvidas, estão técnicas de segurança, operadoras de rádio e engenheiras operacionais das plataformas que ficam em alto-mar. Os dados foram coletados entre 12 de março e 25 de maio deste ano e a faixa etária variou de 18 a 55 anos.

“A partir desta pesquisa estamos planejando caminhos que tornarão o ambiente offshore cada vez mais inclusivo para as mulheres. Temos um compromisso sério com a agenda ESG (sigla em inglês para “ambiental, social e governança”, em português) e este é um aspecto importante do plano de ação da Ocyan – queremos ser reconhecidos como uma empresa inclusiva e ser reconhecida pela população mais vulnerável como uma empresa excelente para se trabalhar. E isso vai desde a mudança da cultura comportamental até alguns aperfeiçoamentos de infraestrutura. E sabemos que, para fazer a diferença, a mudança terá que vir de todo o setor, por isso lançaremos em breve a campanha O Mar Também É Delas –aberto ao segmento de óleo e gás e com o objetivo de avançar de forma mais integrada nesta questão”, complementa.

ESG em foco

A discussão sobre a necessidade da melhoria das relações de trabalho e aumento da participação feminina foi uma das principais mensagens enviadas por essas mulheres. Parte delas já pensaram em trocar de profissão – 48% afirmam que a desigualdade de oportunidades entre homens e mulheres foi o principal motivo. Para 69% delas, homens têm mais chances de alcançar os cargos de lideranças no setor.
Ver colocada em questão a capacidade produtiva de cada uma delas também foi motivo de queixas. Cerca de metade das mulheres (48%) disseram ser muito frequentes situações em que homens duvidam da capacidade de mulheres em lidar com equipamentos pesados. Quase 40% disseram ser frequente ou muito frequente situações de contestação de decisões provenientes de mulheres.

Os problemas estruturais no ambiente de trabalho se juntam aos outros desafios das empresas. Sete em cada dez das mulheres já tiveram problemas com uniformes ou falta de equipamento de proteção adequado ao corpo feminino.

Mar também é delas

A pesquisa será a base para o lançamento da campanha “O mar também é delas. “O foco é o trabalho que vamos fazer a partir das percepções e necessidades apontadas pelas mulheres entrevistadas”, pontua Lander. Entre as medidas estão a criação de uma plataforma digital para consolidar informações e experiências que possam inspirar ações que levem a mudanças no setor, além de promover um marketplace de oportunidade de trabalho no setor, cujas posições são para todos inclusive para elas.
“Diante dos resultados, temos que agir. As mulheres precisam sentir que estamos criando um ambiente mais confortável e estabelecendo políticas que fomentem a participação feminina, inclusive em cargos de liderança”, conclui o executivo.

Redação
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