A Casa do Trabalhador de Araruama suspendeu as atividades após uma matéria jornalística do UOL apontar interferência política na unidade. Uma ex-funcionária confirmou a interferência política ao Portal RC24h e denunciou um esquema de loteamento de cargos por indicações políticas, mais de 100 funcionários fantasmas e afirmou que servidores eram obrigados a atuarem como cabos eleitorais dos candidatos a deputado federal Carlos Russo (Podemos); estadual Francisco Ribeiro, o Chiquinho da Educação (UNIÃO); e ao governador Cláudio Castro (PL).
A matéria do UOL foi publicada no dia 20 de julho, como parte do trabalho de investigação sobre os “cargos secretos” do governo Castro. Segundo o relato feito ao RC24h, no dia 28, a coordenadora da Casa do Trabalhador, Maria Ignez Gomes – apontada como cabo eleitoral de Russo -, convocou os servidores para avisar que a unidade suspenderia os trabalhos por um mês e todos os servidores seriam demitidos.
Nesta segunda (1º), um aviso na porta da unidade informava que a Casa do Trabalhador está passando por “reformulação para melhor atender à população”.
Loteamento de cargos e funcionários fantasmas
A pessoa que reportou a situação ao Portal RC24h informou que a unidade tinha quase 200 servidores. Destes, apenas cerca de 50 efetivamente trabalhavam. O resto eram funcionários fantasmas que, inclusive, teriam feito rachadinhas com vereadores que os indicaram.
A seleção para a unidade teria sido feita através de loteamento de cargos com aproximadamente 50 vagas para indicações de Carlos Russo, outras 50 para Chiquinho da Educação e o resto para vereadores da cidade que fecharam apoio à candidatura de Russo a deputado federal.
Russo, que é vereador em Araruama, concorrerá a uma vaga na Câmara dos Deputados pelo Podemos, partido presidido no Estado pelo secretário Estadual de Trabalho e Renda, Patrique Welber.
Cabos eleitorais por livre e espontânea pressão
O Portal RC24h teve acessos a prints de conversas que mostram a coordenadora da Casa do Trabalhador de Araruama, Maria Ignez Gomes, convocando os servidores a comparecer a eventos políticos de Carlos Russo – até mesmo fora da cidade – e também a engajar as publicações do vereador nas redes sociais com curtidas, comentários e compartilhamentos.
A fonte ouvida pela reportagem disse que “todos os funcionários da Casa do Trabalhador eram obrigados pela coordenadora a ir em todos encontros e reuniões desses candidatos [Russo e Chiquinho], inclusive já fomos obrigados a ir ao Rio num encontro de candidatos do partido Podemos”.
Com relação às publicações nas redes sociais, os servidores eram, segundo a fonte, ameaçados constantemente de demissão caso não postassem.
O que (não) dizem os citados
O Portal RC24h entrou em contato por WhatsApp pedindo posicionamentos da coordenadora da Casa do Trabalhador de Araruama, Maria Ignez Gomes, do vereador araruamense e pré-candidato da deputado federal Carlos Russo; e do primeiro-cavalheiro da cidade e candidato a deputado estadual Chiquinho da Educação.
O Governo do Estado foi procurado, por e-mail, direcionado à secretária Estadual de Trabalho e Renda e ao Núcleo de Comunicação do Interior.
Todos os procurados foram questionados sobre a denúncia de funcionários fantasmas e o suposto loteamento de cargos na unidade.
Para Maria Ignez, além disso, pedimos um posicionamento sobre os prints recebidos pelo Portal RC24h que a mostram convocando os funcionários da Casa do Trabalhador para participar dos eventos políticos de Carlos Russo e para engajar – com curtidas, comentários e compartilhamentos – as publicações do vereador na internet.
A coordenadora também foi questionada sobre a suposta obrigação que os servidores tinham de divulgar as candidaturas de Chiquinho da Educação para deputado estadual e Cláudio Castro para o Governo do Estado. Além de perguntar a ela sobre a suspensão dos trabalhos da unidade após a Casa ser citada na matéria do UOL.
Para Carlos Russo, também pedimos um posicionamento sobre os prints recebidos pelo Portal RC24h que mostram Maria Ignez convocando os funcionários da Casa do Trabalhador para participar dos eventos políticos dele e para engajar – com curtidas, comentários e compartilhamentos – as publicações do vereador na internet.
Além disso, solicitamos respostas sobre a matéria do UOL que o aponta como responsável pela indicação da coordenadora da Casa do Trabalhador devido a proximidade com Patrique Welber.
Chiquinho da Educação não recebeu nossas mensagens, mas foi questionado também com relação a afirmação de que os servidores eram obrigados a divulgar a candidatura dele para deputado estadual.
Ao Governo do Estado, questionamos sobre a reunião convocada pela coordenadora da Casa do Trabalhador de Araruama, na qual ela teria anunciado a suspensão dos trabalhos da unidade, e pedimos um posicionamento sobre as instruções de Maria Ignez aos servidores para apoiar Russo, Chiquinho da Educação e Cláudio Castro nas eleições deste ano.
Em nota, enviada no começo da noite desta segunda, Chiquinho da Educação disse que não tem vínculos com a Casa do Trabalhador de Araruama, tampouco indicações no governo estadual e “portanto, reage com surpresa e indignação à reportagem veiculando seu nome a qualquer irregularidade e ilegalidade”.
A reportagem não recebeu resposta de nenhuma outra tentativa de contato.