Militantes LGBTs acusam Câmara de São Pedro de homofobia


O movimento LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais) de São Pedro da Aldeia acusa os vereadores de homofobia. A denúncia foi feita pelo grupo Aldeia da Diversidade, responsável pela realização da Parada Gay da cidade, que afirma que parlamentares evangélicos se negaram a conceder o título de utilidade pública à ONG pela segunda vez consecutiva.

O projeto foi encaminhado na manhã de terça-feira (18). Na votação, dos dez vereadores da cidade, compareceram sete. Dentre eles, Franklin da Escolinha (PPS), Denilson (PMDB) e André de Gilson (PSB) foram contrários ao projeto. Os favoráveis foram: o autor do projeto, Kaká (PSDC), Jorginho (PSD) e Chiquinho de Dona Chica (PSDC) - que também é presidente da Comissão de Justiça e Redação que deu parecer favorável ao projeto. Com isso, deu empate. O voto de minerva foi do presidente da Câmara, Guga de Mica, que se posicionou contra, encerrando o caso para decepção dos homossexuais aldeenses. 

Para o presidente da Aldeia da Diversidade, Victor Jotha, o caso é homofobia clara:

- Não tenho dúvida que isso é pura homofobia.Qual é o problema de conceder um título de utilidade pública à nossa entidade? O que tem demais? É muita humilhação ser rejeitado pela segunda vez. Isso tudo é porque todos os vereadores são evangélicos e eles acham que direitos dos homossexuais é contra a crença deles - desabafa o militante. 

Um detalhe chama a atenção, a sessão, que costuma ocorrer às 11h, foi antecipada para 8h, sem aviso prévio. Isso causou estranheza até mesmo no vereador Kaká, que apresentou o projeto para votação: 

- Realmente é complicado. Eu estranhei a antecipação desta sessão para 8h. Mas eu fiz meu papel como vereador. Uma país democrático tem que respeitar todos os segmentos. Os colegas não aceitam dar o título por causa de religião. Isso é lamentável. Acredito que o pessoal da Aldeia da Diversidade deve procurar outros meios, como Ministério Público - sugeriu.

Kaká ressaltou ainda que o objeto da polêmica não implica em nada para Câmara e para a prefeitura:

- Este título é importante para ONG e não representa nenhum desconforto ou despesas para o município nem para Câmara.Esse menino é um lutador (Victor Jotha). Essa situação está trazendo transtornos pra eles. E Fiquei comovido em ajudar - completou.

O vereador Adalberto Amaral (PT), não compareceu à sessão, mas explicou o motivo:

- Não pude comparecer porque anteciparam, repentinamente, mas compreendo a indignação dos militantes. Se estivesse presente votaria a favor. Acho também que o vereador autor do projeto deveria ter conversado melhor com os pares para preparar a casa evitando este constrangimento - declarou Amaral.

Presidente da Comissão de Justiça, Chico, avisou aos colegas que o tema traria polêmica. Segundo disse, após analisar o projeto, não viu nada que impedisse a aprovação. Destacou inclusive que não representaria gastos para município:

- Eu avisei aos vereadores que isso daria muita polêmica e transtornos à nossa Câmara. É um direito adquirido e não tem nada demais dar um título de utilidade pública para uma entidade reconhecida por sua luta. A Aldeia da Diversidade tentou outra vez, no mandato anterior, e não conseguiram. Agora, os vereadores que votaram contra devem vir a público se explicar- disse Chico.

O presidente da Câmara, Guga de Mica, só vota em caso de empate, como o ocorrido. Ao ser confrontado com a denuncia de que o voto de desempate foi homofobia, ele se atrapalhou, mas negou:

- Eu apenas acompanhei o parecer do presidente da Comissão de Justiça e Redação - disse o presidente da Câmara.

O único detalhe que o Mica esqueceu é que, o referido presidente, vereador Chico, deu parecer favorável ao projeto. Ao ser questionado sobre a contradição, se retratou dizendo que "na verdade não lembrava o que o parecer dizia", mas acabou revelando que sua orientação religiosa pesou na decisão:

- Eu não sou homofóbico. Aliás, eu não tenho nada contra o Víctor, pelo contrário, respeito e gosto dele. Apenas não estava me sentido bem com essa questão. Sou uma liderança evangélica o que me deixa numa situação delicada. É apenas um posicionamento pessoal, mais nada. Mas não se trata de homofobia - explicou.

Uma postura, que o vereador Kaká não compreende:

- Eu sou católico. Mas se fosse evangélico, não entraria para política. Acho que quem deseja entrar para política precisa entender que todos têm direitos. Não podem misturar política e religião. Na política a gente precisa se relacionar com todas as pessoas de forma igualitária - dispara o vereador autor do projeto.

Outros militantes LGBTs lamentam

O presidente nacional da Articulação Brasileira de Gays (ARTGAY), Leo Mendes, lamentou a posição dos políticos aldeenses. "A ARTGAY lamenta a atitude dos políticos que se recusam a dar o título de utilidade pública para a ONG Aldeia da Diversidade. Entendemos que o verdadeiro cristão não pode praticar homofobia. A pratica de alguns parlamentares têm sido a de usar da religião para sustentar o ódio que tem de gays, familiares e amigos. A ARTGAY lançará uma carta de repúdio contra a homofobia dos parlamentares e em solidariedade à ONG, que luta em defesa da dignidade e respeito de todas as pessoas", afirmou. Leo Mendes.

O discurso dele foi endossado pelo coordenador nacional da região sudeste da ARTGAY, Rodolpho Campbell, que também preside o Grupo Iguais de Cabo Frio. 

- É lamentável que o fundamentalismo religioso continue prevalecendo. O pessoal da Aldeia da Diversidade realiza um trabalho importante na cidade. Infelizmente determinados vereadores não valorizam isso. Victor e a equipe dele, além de fazer um trabalho sério na defesa dos direitos dos homossexuais, ainda realiza ações de prevenção e  assistência social com a doação de cestas básicas para famílias carentes. Uma entidade filantrópica correta. Os vereadores que votaram contra prestaram um desserviço à sociedade de maneira geral - lamenta Rodolpho.

Dois pesos e duas medidas

Não é de hoje que os militantes LGBt's confontam com vereadores de São Pedro. Em 2011, foi aprovado um projeto polêmico que impedia a distribuição de material educativo no enfrentamento à homofobia nas escolas, por considerarem o material como "KitGay", o que incentivaria a homossexualidade, na opinião de alguns parlamentares. O projeto na época, foi de autoria do vereador Sodré, a pedido de Bolsonaro, notório inimigo dos militantes das minorias. A lei foi aprovada rapidamente, mas o então prefeito Carlindo Filho, vetou.

Em outros momentos, vereadores das cidades da Região dos Lagos já se indispuseram com militantes ao assumirem uma postura homofóbica, baseado no fundamentalismo religioso que considera o tema ofensivo às famílias tradicionais.

Em Arraial do Cabo, no ano de 2012, vereadores da bancada evangélica tentaram aprovar o Projeto de Lei, que instituía o "Dia Municipal do Evangélico". Mas, depois de muita polêmica e de protestos, envolvendo os representantes de minorias, o prefeito Wanderson Cardoso de Brito, o Andinho, vetou o projeto, que foi aprovado pela Câmara. Detalhe: o prefeito é evangélico.
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