Inspiração na NBA, número menor de duplas e testes: a bolha do vôlei de praia em Saquarema

Retomada da modalidade terá duas etapas do Circuito Brasileiro no Centro de Desenvolvimento de Vôlei. Conheça os protocolos de saúde tomados pela CBV


A Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) anunciou a retomada do vôlei de praia com duas etapas, uma no fim de setembro e outra no fim de outubro, no Centro de Desenvolvimento de Vôlei (CDV), que fica em Saquarema, na Região dos Lagos. O local vai se transformar em uma espécie de bolha da modalidade. Para quem está acostumado com a vibração das enormes arenas montadas em praias espalhadas pelo país que normalmente ficam com as arquibancadas lotadas, será bem diferente. O público não estará presente, somente atletas, árbitros, estafe da entidade e membros das comissões técnicas das duplas. E os protocolos de segurança e saúde para prevenção da Covid-19 serão muitos.

A inspiração da bolha do vôlei de praia é a NBA, que voltou, primeiro com jogos de pré-temporada, no dia 22 de julho e, em seguida, com a temporada regular. A liga americana fará agora seu mata-mata e até mesmo as finais serão em um grandioso complexo da Disney em Orlando, nos Estados Unidos. Foi o modelo de retomada que mais agradou a CBV, mas, evidentemente, há diferenças, como explica o superintendente da modalidade, Virgílio Pires.

- Tínhamos a intenção da retomada e avaliamos o modelo da NBA. Estamos até passando e usando essa nomenclatura para os atletas (bolha). A AVP, que é a associação de vôlei de praia dos EUA, abriu num sistema semiaberto, fazendo os eventos sem público no estacionamento de um complexo. Nós tínhamos essa possibilidade, mas sempre procuramos trabalhar com a prevenção. Nosso maior cuidado era com o protocolo de prevenção. Com o sistema de bolha, usando o centro de treinamento, podemos fazer competição, aquecimento, tudo dentro de um complexo só, então a segurança era muito maior. Tivemos um outro cuidado: os dois naipes (masculino e feminino) eram jogados num fim de semana de quarta a domingo. Até por orientação médica, separamos os naipes. Assim, diminuímos o número de participantes - explicou.

Centro de Treinamento do Vôlei em Saquarema — Foto: Divulgação / CBV Apesar da inspiração, o Dr. João Olyntho, médico responsável por traçar os protocolos junto à entidade, explica que a bolha do vôlei de praia difere da bolha da NBA porque a da liga americana é permanente. No caso da primeira modalidade, quando acaba a etapa, os atletas voltarão para suas respectivas residências, retornando no futuro ao CDV para uma outra. Na do basquete, os jogadores não retornam para casa - eles estão hospedados lá até o fim do campeonato.

Ele explica que, no caso da bolha do vôlei de praia, há uma grande importância nos protocolos de entrada no CDV. Em primeiro lugar, a CBV demanda que todos os participantes do evento - sejam eles duplas, treinadores, árbitros e estafe - antes de ingressar no centro de treinamento em Saquarema, realizem o teste para detecção de Covid-19 chamado RQ-PCR (de detecção genético-viral). Eles precisam apresentar isso na entrada e, a partir daí, há ainda outros procedimentos de segurança para que eles sejam liberados para adentrar o CT.

- Vamos tomar uma série de condutas para minimizar a chance de se ter algum tipo de contágio na competição. O participante precisa apresentar esse resultado de forma impressa ou virtual. Tudo começa com a apresentação desse documento. Caso não tenha, é impedido de ingressar. Sendo não detectado, começa uma avaliação clínica, conversando com essa pessoa sobre eventuais sintomas. Vamos checar temperatura, oximetria, e encaminhar para um segundo exame. O período é curto (da realização do exame, que fica a cargo de cada participante, para a apresentação do resultado à CBV), mas há possibilidade de infectar. Fazemos então o teste de imunoensaio fluorescente, que detecta uma proteína do vírus. Esse maquinário ficará no nosso centro. É um teste rápido, onde posso ter uma leitura em 20 minutos. Com o resultado negativo, ele estará apto, do ponto de vista médico - comentou.

Somente as duplas em quadra poderão ficar sem máscaras na bolha do vôlei de praia — Foto: Alexandre Arruda / CBVDiariamente, antes do início dos jogos do torneio, serão realizados novos testes e também a checagem da parte clínica. O participante em questão conversa com um médico ou enfermeiro, é checada a temperatura, oximetria e percepção de odores. Caso seja dado o ok, ele está liberado para permanecer no centro de treinamento e realizar suas atividades naquele dia. Há uma questão importante também: depois que se entra no CDV, só é possível a saída ao término da etapa. Não há entra e sai.

- No procedimento de ele apresentar sintomas, vamos colocá-lo num ambiente em separado. Estamos destinando quartos para que se possa iniciar o período de quarentena e isolamento até que ele tenha um teste comprovando ou descartando essa possibilidade, mesmo que precise ficar mais um tempo por lá. Todo dia, ele passa pela avaliação clínica para saber se teve sintomas, caso tenha, ele é retirado do ambiente, é colocado no quarto específico e é testado para confirmar se tem ou não. Ele teve dois testes, um feito anteriormente, e um mais rápido. É pouco provável que haja sintomas (mas é feito um terceiro) - falou o Dr. João Olyntho.

A CBV marcou datas de cinco etapas até o momento, mas somente duas têm local definido: o centro de treinamento em Saquarema. A primeira terá o feminino de 17 a 20 de setembro, e o masculino de 24 a 27 de setembro. A segunda vai receber a disputa entre as mulheres de 15 a 18 de outubro, e a competição entre homens de 22 a 25 de outubro. As três seguintes serão em novembro e dezembro, mas a escolha dos locais ou até mesmo se a bolha em Saquarema será utilizada de novo são questões em aberto que ainda vão depender da avaliação da realização das duas primeiras.

- Dialogamos muito com a comissão nacional de atletas. Uma das coisas é voltar gradualmente. Nada em nossas vidas voltou como terminou. Nosso evento tem, dentro do regulamento, 24 duplas no torneio principal e mais o qualificatório aberto. Tivemos uma redução do número de participantes. Vamos fazer o quali com apenas 20 duplas e teremos somente 12 duplas pré-classificadas, avançando só quatro. É um número satisfatório de 16 duplas. E a gente espera, dependendo de como for, ver se tem a possibilidade de subir um pouquinho. O retorno é gradual. Percebemos uma instabilidade em como a pandemia se comporta. Temos estados que hoje estão mais difíceis, outros mais amenos. Temos setembro para a primeira etapa. A outra em outubro e a terceira só em novembro. De acordo com o quadro que venha a pandemia se estabilizar ou não no nosso país, vamos avaliar se realizaremos - explicou Virgílio Pires.

Nos primeiros dois dias, quarta e quinta-feira, na semana de cada etapa, só ficarão no CDV o estafe da CBV e os árbitros, fora as 20 duplas participantes do qualificatório. Quem não se classificar, sai da bolha. Ou seja, no torneio principal, após a realização do quali, serão, ao todo, 32 atletas, um membro de comissão por dupla (os times garantidos nas Olimpíadas de Tóquio podem levar dois), 12 oficiais de árbitro, e o pessoal do CDV que já trabalha diariamente no local.

- As duplas olímpicas (Alison/Álvaro Filho, Evandro/Bruno Schmidt, Ana Patrícia/Rebecca e Ágatha/Duda) já estão classificadas e temos uma preocupação. A comissão toda concordou, e elas poderão levar mais um membro de sua comissão técnica. Não trabalharemos com boleiros. Haverá carrinhos higienizados no fim de cada lado de quadra, onde as bolas serão higienizadas. Não haverá protocolo de cumprimento de atletas e árbitros - acrescentou o superintendente.

Os jogadores já começaram a receber um material com todos os procedimentos de segurança onde constam também os horários dos jogos - cada dupla só pode chegar para aquecimento 1h antes de cada jogo para evitar aglomerações - e os protocolos de prevenção. Em um outro, há orientações sobre cuidado, distanciamento social, lavagem das mãos e o uso de máscaras. Todos usarão máscaras a todo momento - somente os jogadores com partidas em andamento poderão retirá-las para a realização dos confronto. Também será feita uma cartilha de profissionais de arbitragem e fornecedores.

- Todo esse cuidado foi pensado. Vamos trabalhar com quartos para cada dupla. Temos essa preocupação. Não será aberta piscina, nem academia. Os horários para a alimentação são pré-estabelecidos, com distanciamento orientado pela comissão médica. Tem um momento normalmente onde há um sorteio dos confrontos que é feito na frente dos participantes. Vai ser tudo online via aplicativo. Todos vão assistir cada um em seu dormitório para que não tenhamos aglomeração de pessoas - falou Virgílio Lopes (o CDV tem, ao todo, 76 suítes em 108 mil m² de área).

- Apesar de toda essa testagem, a prevenção não será em nada diminuída, os cuidados que vamos ter com o distanciamento social, que é muito relevante. Vamos evitar a todo tempo que as pessoas se mantenham muito próximas. Vamos fazer com que os indivíduos fiquem em pontos opostos dos quartos, por exemplo. Vamos incentivar a lavagem de mãos, o uso de álcool gel. Nem o técnico poderá ficar sem a máscara. Só no jogo os atletas não vão utilizar. Os cuidados serão feitos no dia a dia por todos nós - complementou o Dr. João Olyntho.

Talita, parceira de Carol, afirma que será diferente, mas está feliz com a retomada do Circuito Brasileiro de vôlei de praia — Foto: Alexandre Arruda / CBV Campeã do Circuito Mundial em 2013 e 2017 e participante de três Olimpíadas, a jogadora Talita, de 37 anos, que desde janeiro deste ano joga ao lado de Carol Solberg, está confiante no sucesso das etapas do torneio nacional no CT de Saquarema. Para ela, a CBV "se cercou" e até a volta do estafe aos trabalhos da entidade tem sido gradual. Nem mesmo a falta de público incomoda.

- Saber que a CBV resguarda os cuidados precisos para garantir a saúde de todos os envolvidos, não só dos atletas, é muito bom. Nem sou uma jogadora que jogo com a torcida, jogo muito nas quatro linhas, na concentração, mas a vibração e a alegria da torcida me ajudam. Vibro com o eco deles. Eu e a Carol estamos passando essa coisa no treino: tentar ter a mesma energia no jogo. Na hora de bater a mão, a gente segura (risos). A gente dava abraços no treino. Mas o vôlei de praia é um esporte de adaptação: sol, areia, vento. E mais uma vez é uma mostra de que os atletas desse esporte são capazes de se adaptar, agora por algo muito além, onde se fala de vidas que se perderam. Quando você para e pensa sobre isso, seria egoísta dizer que vai ser muito chato ter um torneio sem torcida. Vai ser diferente, mas é o novo normal para o momento. Estou feliz que vai acontecer o torneio. Ficar sem saber o que fazer, sem objetivo... Agora eu tenho. Vou me agarrar a isso - explicou.

Talita estava treinando em casa, separadamente de sua parceira, que ficou em uma casa de sua família em quarentena em Angra dos Reis. Elas retomaram os treinos nos últimos dias. A jogadora ainda está receosa com a pandemia de coronavírus, mas garante estar tomando todos os cuidados necessários. Em breve, ela e Carol vão realizar os testes para poderem ingressar no centro de treinamento para as etapas.

- Eu não imaginava que demoraria tanto. Quando percebi, vim falando com meu preparador físico. Deu março, e vi que a coisa foi piorando. Minha esperança era setembro ou outubro, não imaginava que pudéssemos jogar antes. Tentei ao máximo não perder. Tentei malhar na varanda de casa. Peguei uns pesos na academia do meu prédio, que ficou fechada, e também no Time Brasil. Foi bem esquisito voltar, foi um choque. Eu não estava convivendo com tanta gente, vendo tanta gente. Fizemos testes, os meninos que trabalham com a gente também. A máscara é algo que ao mesmo tempo tem que usar, mas, no treino, se torna difícil: muito quente, a respiração misturada com a falta da parte física. Você fica assim: será que sou eu ou a máscara? É muito louco. Estamos nos adaptando.

O superintendente da CBV, Virgílio Pires, afirma que foi questionado sobre os treinamentos por muitas duplas, já que, ao redor do país, as regras de flexibilização vivem fases diferentes. Ele conta que alguns atletas estavam receosos de lesões pela pouca preparação. E foi por isso que a CBV preservou um mínimo de 30 dias do anúncio das etapas até a realização: para que todos pudessem ter uma periodicidade mínima de treinamento. No CDV, os treinos não serão realizados.

- O treinamento que porventura possamos fazer é o pequeno reconhecimento da área de jogo com horários pré-estabelecidos no dia em que chegarem, mas com o quali terminado. O aquecimento será feito 1h antes só para a dupla que vai jogar. As duplas que vão entrar, cada uma terá um lado de uma quadra para aquecer. Porém, só vai aquecer as duplas nos jogos subsequentes. Haverá só o reconhecimento mesmo - falou, ressaltando, mais uma vez, que o retorno é gradual e que somente o Open (principal torneio adulto) está retornando, e as categorias "sub" só voltarão no ano que vem, mas mantendo as idades de 2020 dos atletas participantes para ninguém sair prejudicado.

A CBV também prepara novidades virtuais para as etapas. A transmissão online deve ser mais interativa, com quadros de entrevistas e ações com atletas que vão rolar durante os intervalos dos jogos, participação do fãs em alguns momentos e votações online.

 

Confira o calendário divulgado pela CBV:

1ª Etapa - CDV - Saquarema (RJ)
17 a 20 de setembro (feminino)
24 a 27 de setembro (masculino)

2ª Etapa - CDV - Saquarema (RJ)
15 a 18 de outubro (feminino)
22 a 25 de outubro (masculino)

3ª Etapa - Local a definir
5 a 8 de novembro (feminino)
12 a 15 de novembro (masculino)

4ª Etapa - Local a definir
2 a 6 de dezembro

5ª Etapa - Local a definir
16 a 20 de dezembro

 

 

*Com informações do GE.

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