SEXTA QUENTE EM BRASÍLIA - Celso de Mello libera vídeo da reunião como prova de intervenção de Bolsonaro na PF. Logo após decisão, general Heleno afirma que interferência de outro poder 'poderá ter consequências imprevisíveis'

Um dos primeiros atos do novo diretor-geral da PF, Rolando de Souza, foi trocar a chefia da corporação no Rio. O interesse do presidente na superintendência da PF no estado é um dos pontos principais da investigação


A sexta-feira (22) chegou quente em Brasília, depois que o ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou a divulgação do vídeo da reunião ministerial do dia 22 de abril. O encontro é citado pelo ex-ministro da Justiça Sergio Moro como uma das provas da suposta interferência do presidente Jair Bolsonaro na Polícia Federal. Na decisão, o ministro solicitou apenas supressão de poucos trechos relacionados a assuntos de Estado, em que havia menção a outros países.

Logo depois da decisão, o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, enviou uma "nota à nação" achando "uma interferência inadmissível" a do STF, e que isso poderá ter "consequências imprevisíveis" (leia matéria correlata abaixo).

A Advocacia-Geral da União (AGU) e a Procuradoria-Geral da República (PGR) defenderam que a íntegra não fosse tornada pública e que a divulgação ficasse restrita aos trechos relacionados diretamente com a investigação em curso no Supremo.

Como O GLOBO revelou, três fontes que assistiram ao vídeo afirmaram que Bolsonaro defendeu mudanças na PF para evitar que amigos e familiares fossem prejudicados por investigações em curso. Moro deixou o governo após a exoneração do delegado Maurício Valeixo da direção-geral da corporação. Segundo o ex-ministro, o presidente queria interferir no comando da PF em superintendências locais, como Rio e Pernambuco.

Um dos primeiros atos do novo diretor-geral da PF, Rolando de Souza, foi trocar a chefia da corporação no Rio. O interesse do presidente na superintendência da PF no estado é um dos pontos principais da investigação. Antes de Souza ser escolhido para o posto, o STF barrou a nomeação do delegado Alexandre Ramagem, que atuou na segurança de Bolsonaro no fim de 2018, entre o fim do segundo turno e a posse.

Veja o vídeo:

 

 

'CONSEQUÊNCIAS IMPREVISÍVEIS'

E logo após a decisão de Celso Mello, o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, se manifestou contra, dizendo que apreender o celular do presidente Jair Bolsonaro seria uma "afronta à autoridade máxima do Poder Executivo e interferência inadmissível de outro Poder" e que "poderá ter consequências imprevisíveis". O ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), encaminhou ao procurador-geral da República, Augusto Aras, um pedido apresentado por parlamentares de oposição de apreensão do celular de Bolsonaro.

Em nota, Heleno afirmou que "o pedido de apreensão do celular do presidente da República é inconcebível e, até certo ponto, inacreditável". O ministro fez um "alerta" para autoridades de outros Poderes de que "tal atitude é uma evidente tentativa de comprometer a harmonia entre os poderes e poderá ter consequências imprevisíveis para a estabilidade nacional".

Em um dos pedidos enviado por Celso à PGR, deputados do PSB, PDT e PV pedem a apreensão dos telefones de Bolsonaro, de seu filho Carlos Bolsonaro e da deputada Carla Zambelli (PSL-SP). Outra representação foi feita pelo PT solicitando a apreensão do celular do ex-ministro Moro.

Como é de praxe, quando "uma notícia-crime" é apresentada por qualquer cidadão, o caso é remetido para análise do Ministério Público Federal, a quem compete decidir se os fatos narrados devem ou não ser investigados. Em seu despacho, o ministro Celso de Mello cita essa competência legal do MPF, mas ressalta da importância de se investigar denúncias sejam elas feitas por quem quer que seja.

Leia nota de Augusto Heleno na íntegra:

"O pedido de apreensão do celular do presidente da República é inconcebível e, até certo ponto, inacreditável.

Case se efetivasse, seria uma afronta à autoridade máxima do Poder Executivo e uma interferência inadmissível de outro Poder, na privacidade do Presidente da República e na segurança institucional do País.

O Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República alerta as autoridades constituídas que tal atitude é uma evidente tentativa de comprometer a harmonia entre os poderes e poderá ter consequências imprevisíveis para a estabilidade nacional."

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