"Epidemia representa a ocorrência de um agravo acima da média (ou mediana) histórica de sua ocorrência. O agravo causador de uma epidemia tem geralmente aparecimento súbito e se propaga por determinado período de tempo em determinada área geográfica, acometendo frequentemente elevado número de pessoas". Essa é a definição clínica do conceito de epidemia, de acordo com Alexandre Sampaio Moura e Regina Lunardi Rocha, na obra sobre o tema publicada pela UFMG.
Nestes tempos de coronavírus, vemos crescer uma outra epidemia, de cunho social: a epidemia da insegurança, que se espalha pelo país e se reflete em nossa cidade, tanto no que se refere ao aumento do número de casos violentos, quanto no que tange à sensação de insegurança sentida cada vez mais pela população, na mesma medida em que episódios, como os de ontem, no Centro (foto destaque) e em Tamoios, se multiplicam.
Como consequência dessa epidemia de sensação de insegurança, surgem também os falsos remédios, o que também é comum ao longo da história da humanidade. Poções, fórmulas, preces, simpatias ou crenças "fakes" não são novidades, na tentativa de combater males que se alastram e aterrorizam a sociedade.
A crença em governos violentos, políticas públicas bélicas, discursos autoritários e adoração a armas, não serão jamais medidas eficientes contra essa epidemia social, mas tão somente trampolins políticos para o controle da gestão pública por grupos que combatem ilegalidades com outras formas de ilegalidades.
Obviamente, o avanço na capacitação, estruturação e organização das forças estatais de segurança é um braço desse remédio - mas não a bula inteira. Políticas públicas de longo prazo, focadas na educação integral; políticas de inteligência e estratégia territorial e investimento social são algumas substâncias que entram na fórmula desse medicamento, de uso contínuo e doses homeopáticas.
Não podemos nos enganar com as promessas falsas de doses cavalares nem com choques de lobotomia, ou mesmo encontrar em vídeos e falas efusivas a "solução" dessa epidemia de insegurança. Apenas a união de uma cidade em favor da responsabilidade e da coragem de gestão pode medicar e reverter, a médio prazo, o que governos comprometidos por décadas com o crime deixaram proliferar.
Rafael Peçanha é professor concursado das redes municipais de Cabo Frio e Macaé, historiador especialista em Sociologia Urbana pela UERJ, mestre e doutor em Antropologia pela UFF. Vereador pelo município de Cabo Frio, líder da oposição, presidente das comissões de direitos humanos e de defesa das pessoas com deficiência, segundo colocado nas eleições suplementares para prefeito em 2018 com 14.113 votos.