IMPASSE - A duas semanas do Carnaval, desfile de trios elétricos na orla de Cabo Frio ainda é uma incógnita

Reuniões entre poder público e representantes não resolveram nada até o momento. Hotelaria é contra os trios, mas comerciantes são a favor


Faltam 15 dias para o Carnaval e em Cabo Frio não se sabe, até o momento, se os moradores e os turistas vão curtir ou não a passagem de trios elétricos pela orla da Praia do Forte. Isso porque, apesar do prefeito Dr Adriano ter autorizado a volta do antigo trajeto dos blocos que passam por ali - em toda extensão da orla -, a programação ficou em suspenso por causa de uma nova solicitação do Convention & Visitors Bureau, durante uma reunião com representantes ligados ao Carnaval da cidade. A presidente da entidade Maria Inês Oliveros pediu que o principal trecho da Avenida Macário Pinto Lopes - entre a Avenida Nilo Peçanha e a Rua Treze de Novembro - ficasse fora do trajeto dos trios, se restringindo ao final da Avenida Litorânea (perto do hotel Mandai).

A "nova" solicitação é porque já em 2016, quando o então prefeito Marquinho Mendes havia acabado de assumir a prefeitura e disse que a cidade não tinha dinheiro em caixa nem efetivo para apoiar o Carnaval de 2017, o Convention já tinha pedido a "mudança" dos trios. O que aconteceu. E se repetiu no ano passado também.

Em entrevista concedida à Folha dos Lagos, Maria Inês atrela o pedido às "confusões causadas nos anos anteriores que envolveram tiros e violência". Mas a informação de Maria Inês não se sustenta. Pelo menos não é a mesma opinião de empresários que têm comércio naquela região.

Clécio Alberto, que proprietário de um bar na Nilo Peçanha (foto abaixo) e que também comanda o bloco Oh Sorte, super tradicional na cidade, está indignado com a falta de resolução faltando tão pouco tempo para a folia de Momo. Para ele a passagem dos trios puxando os blocos em nada atrapalha o comércio local. "Muito pelo contrário. Já tivemos um janeiro horrível, meu movimento foi metade do ano passado. Quem vem para Cabo Frio no Carnaval quer ver blocos e trio elétrico. A cidade já não tem atração nenhuma o ano inteiro. Cabo Frio depende do turismo e estamos largados. Muitos clientes meus e que curtem carnaval já disseram que não vêm mais nessa época porque não têm o que fazer. O turista está indo para outros lugares. Conheço muita gente que optou, por exemplo, ir para Guarapari (ES). Lá tem show todo dia", lamentou Clécio.

"Já teve gente que me telefonou para perguntar se já tinha abadás à venda para o Carnaval desse ano e não temos resposta. A cidade de Cabo Frio está espantando o turista e também o comerciante", acrescentou.

Quem faz coro a Clécio é o também empresário dono de bar e de bloco, Anderson Santos, o Anderson Latinha. Para eles "os trios são a mega atração" do Carnaval. "Nossa cidade vive do turismo, Cabo Frio é dependente disso. Os trios são uma mega atração. Vejamos Salvador, que tem um circuito maravilhoso pela praia... Salvador sem trio elétrico não é Salvador. O Carnaval de Cabo Frio sem trio elétrico perde muito. Eu tenho o bloco da Latinha há muitos anos, e o bar desde 2018. Vou te falar como empresário: os trios não me atrapalham em absolutamente nada, pelo contrário, trazem movimento para nós e todos os comerciantes. O que precisamos é de organização do poder público. Mesmo com a crise, o município tem condição de apoiar, digo no sentido de dar suporte, não de subvenção. Até porque, sem apoio, fica difícil ter organização", opinou Anderson.

URGÊNCIA NO ORDENAMENTO

Já o empresário Milton Roberto, proprietário do restaurante Tia Maluca há mais de duas décadas, acha necessário e urgente um ordenamento. Ele também é a favor que haja trio elétrico na orla da praia. "Não concordo com a proibição,o fluxo é tranquilo, não implica em nada. Sou contra apenas ao fechamento da orla o dia todo. Acho que deveria fechar apenas durante a passagem dos trios e depois volta ao normal. Isso é bom, movimenta a orla e quem está nos bares fica com a sensação de estar numa apoteose, em camarotes, curtindo o Carnaval.

HOTELEIROS A FAVOR DE BLOCOS, MAS SEM TRIO ELÉTRICO

Já o presidente da Associação de Hotéis, Gastronomia, Comércio e Turismo de Cabo Frio (ACF), Carlos Cunha, garante que os associados à ACF, que têm comércio na orla garante favoráveis à passagem de pequenos blocos, mas contra trios elétricos. "Isso se deve aos problemas ocorridos no passado, com brigas e falta de estrutura (principalmente banheiros). Os grandes blocos com trios que passavam (a maioria tocando apenas funk), arrastavam uma multidão que amedrontava as famílias. Afastavam os clientes dos restaurantes e intimidavam os hóspedes dos hotéis. Os restaurantes, além de perderem os clientes, sofriam com invasões nos banheiros, ou seja, diminuía o faturamento e aumentava os gastos com segurança. Temos que levar em consideração que os comércios precisam do movimento para pagar os funcionários e altos impostos", explicou Carlos Cunha, destacando que a Associação não é contra o Carnaval nem os blocos.

"Mas acreditamos que precisamos um diálogo maior para acharmos um modelo que seja bom pra todos (comerciantes, blocos, turistas e população). O Carnaval é um produto turístico interessantíssimo e com alto potencial de venda, desde que seja ordeiro, seguro e atrativo. Acho que toda essa polêmica se deve à falta de diálogo entre as partes e a demora do governo em se posicionar. Não pode deixar tudo pra cima da hora como está acontecendo. Já tivemos problemas nos feriados, no Réveillon e nas primeiras semanas de janeiro, não podemos repetir o erro no Carnaval. Deve se antecipar aos problemas e planejar, não apenas apagar incêndios", concluiu.

MENOS HÓSPEDES DURANTE A FOLIA

Mere Thomaz, gerente do hotel Malibu, um dos mais tradicionais da cidade e que fica no trecho mais concorrido da orla da Praia do Forte, afirma que, atualmente, é "muito" contra a passagem dos trios naquele trecho, haja vista "as confusões dos últimos dois anos".

"Não temos estrutura para Carnaval e principalmente na orla, essa temporada está horrível. Os últimos carnavais enfrentados pelo Malibu foram péssimos, estamos numa cidade sem lei. Hoje eu te falo que sou contra blocos e trio elétrico. Pode até ser que com o planejamento da cidade venha melhorar, mas hoje sou muito contra, disse Mere.

Apesar de ser contra, ela disse também que a falta de planejamento para a festa de Carnaval acaba afastando os hóspedes. "Deve ser feito um trabalho e projeto com antecedência e saber se a estrutura atende à grande demanda de pessoas que recebemos. Clientes que vinham ao Malibu nesse período e ficavam de sete a dez dias, não vem mais. E o comentário deles é que não querem mais voltar", lamentou.

ASSOCIAÇÃO DE BLOCOS DE CABO FRIO

De acordo com o diretor da Associação dos Blocos e Atividades Carnavalescas de Cabo Frio (Abaccaf), dos 25 blocos que vão participar do carnaval este ano, cinco já haviam pedido para passar pela orla da praia do Forte. Os demais, contudo, afirmaram que se for proibida a passagem de trios na orla, eles se negam a desfilar, mesmo sem o aparato de som. 

PREFEITURA CONTINUA SEM RESPOSTA

Uma reunião que poderia resolver o impasse aconteceria nesta sexta (15) entre Prefeitura e a Abaccaf, mas foi cancelada. O Portal RC24h conversou um dia antes com o superintendente de Carnaval (ligado à secretaria de Cultura), Felício Batista. Segundo ele, a única certeza é que haverá blocos. Mas não se sabe se desfilarão com trios.

"O que posso afirmar com 100% de certeza é que Cabo Frio terá Carnaval e 25 ou 26 blocos. A Cultura e todo o secretariado está envolvido, assim como a Abaccaf, pra definir o que é melhor pra cidade e para os foliões. A coisa tem que acontecer com ordem e responsabilidade de todas as partes. Faremos a melhor festa possível e premiar a quem vier visitar cabo frio no Carnaval. Mas os trajetos ainda não foram definidos, o que deve ocorrer nos próximos dias".

Foto destaque: Horácio CF Zone

 

Categorias: Cabo Frio Diversão

Fotos da notícia




Outras notícias