MORTE DE BEBÊS EM CABO FRIO / População faz protesto em frente ao Hospital da Mulher e Prefeitura anuncia auditoria interna

Óbitos causaram revolta em toda a região e geraram denúncias de descaso na saúde do município


Na tarde desta quinta-feira (24), a população de Cabo Frio realizou um protesto em frente ao Hospital Municipal da Mulher, localizado no Braga. O ato foi organizado após a morte de dois bebês na unidade repercutirem em toda a região e gerarem uma série de denúncias de descaso na saúde do município.

A mobilização, feita pelo PSOL Cabo Frio, contou com a presença de diversas famílias que enfrentaram problemas na unidade e que cobram soluções definitivas e transparentes por parte do porder público. 

Vale ressaltar que a revolta pelas mortes ganhou maiores proporções após a Prefeitura emitir uma nota isentando a equipe médica e dando a entender que os óbitos teriam sido causados por negligência dos pais:

“os recentes óbitos de nascituros entre 1º de Janeiro de 2019 até a presente data, ocorreram por diversos fatores: ausência de pré-natal, doenças sexualmente transmissíveis contraídas pelas genitoras e ao consumo de substâncias entorpecentes” - diz parte do texto que não foi bem recebido pela população.

Os pais de um dos bebês que morreram na unidade estavam presentes no protesto, e não esconderam a revolta com o descaso sofrido no Hospital e a nota emitida pela Prefeitura: 

A coordenadora do Setorial Mulheres do PSOL Cabo Frio, Carol Werkhaizer, afirma que a manifestação pretende colocar em evidência todos os problemas na saúde do município e cobrar esclarecimentos e soluções das autoridades responsáveis. 

“É muito complicado quando o hospital culpa às mães, as apontando como portadoras de doenças sexualmente transmissíveis, usuárias de drogas, e também falando que elas não fizeram acompanhamento pré-natal. Algumas dessas mães trouxeram para gente os relatos, e as provas que elas realmente fizeram seus acompanhamentos. Então a gente quer saber do Hospital da Mulher: quantos mais vão ter que morrer? A culpa é do hospital, e não das mulheres. Faltam insumos, fala médico e falta gestão competente” - desabafou Carol Werkhaizer.

 

AUDITORIA INTERNA PRETENDE ESCLARECER MORTES DENTRO DE 30 DIAS

A Secretaria de Saúde de Cabo Frio determinou a abertura de uma auditoria interna para apurar as causas de mortes recentes de nascituros no Hospital Municipal da Mulher.

Um grupo formado por médico, enfermeiro e auditor do setor de controle e avaliação da pasta vai analisar todos os 1.069 prontuários de atendimentos do Hospital da Mulher feitos desde 1º de janeiro deste ano. Será levado em conta todo o atendimento prestado à paciente na unidade, desde a recepção até o momento em que ela vai para casa. Em seguida, será feito um relatório que será avaliado internamente para nortear as medidas que serão tomadas em todo o acompanhamento gestacional e no atendimento no Hospital da Mulher. O prazo para a conclusão da auditoria é de 30 dias.

“Vamos apurar com afinco o que pode ter causado a morte destes bebês. Toda vez que há a morte de um nascituro, a unidade hospitalar comunica à Vigilância Sanitária Municipal, que por sua vez comunica ao Estado por meio de notificação compulsória. Isso é essencial para nortear e desenvolver as políticas públicas” esclareceu o prefeito Dr. Adriano Moreno.

O Hospital Municipal da Mulher é a única emergência obstétrica e maternidade pública da cidade, funciona 24 horas por dia e atende demandas de toda a região, com equipe médica completa, enfermeiros, técnicos de enfermagem, assistentes sociais e psicólogos de plantão, além de uma unidade intensiva especializada para bebês prematuros com neonatologista.

NOTA DA ADOULAS-RJ SOBRE OS CASOS OCORRIDOS NO HOSPITAL DA MULHER DE CABO FRIO

A Associação de Doulas do Estado do Rio de Janeiro manifesta sua solidariedade às mulheres e familiares que desde o início do ano perderam seus bebês e vidas no Hospital da Mulher em Cabo Frio.

Segundo as Normas Técnicas do Ministério da Saúde, toda mulher merece atendimento individual e respeitoso, acolhimento independentemente da situação a que a levou a buscar o serviço, ou as condições que a levaram a perda, não cabendo às autoridades do município de Cabo Frio o julgamento sobre seus hábitos ou condições de vida como justificativa para os desfechos.

Nossa luta é para que todas as mulheres possam ter acesso à um parto digno e respeitoso, com pré-natal adequado. Dever do estado amparado por leis federais e estaduais, como a Lei n° 7191/2016 que prevê o atendimento humanizado em todo o estado.

A ADoulasRJ recomenda que as mulheres usuárias protocolem seus planos de parto exigindo que seus direitos de acompanhante, doula e atendimento humanizado garantidos por lei sejam respeitados pelo Hospital da Mulher de Cabo Frio e que a gestão municipal se adeque à tais normativas.

Esperamos ainda que seja feita uma análise rigorosa desses óbitos, de acordo com as Normativas do Manual de Prevenção do Óbito Infantil e Fetal – Vigilância do Óbito Infantil e Fetal e do Comitê de Prevenção do Óbito Infantil e Fetal.

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