Colunista RC24h – Alexandre Costa: Cultura do Estupro: o que é e o porquê devemos combatê-la


Há diversas teorias que explicam a motivação para o estupro e a maioria delas concordam que este é um fenômeno multifatorial, envolvendo elementos como o machismo, sexismo, misoginia, sadismo, gratificação sexual, etc. Esses elementos se desenvolvem mais facilmente em um ambiente cultural conivente para suas manifestações, ou seja, uma cultura do estupro.


O termo "cultura do estupro" foi utilizado inicialmente por feministas nos anos 70 e ele serve para se referir a qualquer cultura que trate a violência sexual, seja ela explícita ou não, como algo normal e que não há um ensinamento efetivo para o "não estuprar", mas sim para o "como não ser estuprada".

 

Infelizmente o Brasil ainda é um país que tem essa cultura muito forte. Basta olhar para as rodas de bate-papo, programas de TV, letras de músicas, internet e diversos outros lugares, para encontrar facilmente manifestações de apologia à cultura do estupro.

 

 

 

Às vezes elas surgem de forma aparentemente inocentes, como em piadas e brincadeiras, mas em outros casos, são vistas em declarações explícitas de personalidades políticas, líderes religiosos e formadores de opiniões, buscando propagar suas visões patriarcais, sexistas e misóginas, considerando o homem superior à mulher, fixando comportamentos rígidos para um e outro sexo, desrespeitando singularidades e violentando identidades. Posturas essas hipócritas ou no mínimo contraditórias, uma vez que apoiam a condenação em alguns casos de estupro (normalmente contra crianças) ao mesmo tempo em que defendem uma cultura que produz estupradores.


Tal postura se apropria de um discurso distorcido de "proteção" focando no ensinamento de comportamentos preventivos, orientando as mulheres com um padrão moralmente correto de como elas devem proceder para não serem estupradas, caso contrário, a culpa será delas. Tal lógica não dedica empenho em ensinar o respeito às mulheres independentemente de qualquer situação ou a responsabilização por cometer estupros.

 

Essa cultura é tão cruel que além de influenciar e modificar pensamentos e comportamentos de boa parte da sociedade, ela também coage as sobreviventes de estupro a se identificarem como culpadas, não reagindo, nem buscando denunciar seus agressores.


Ainda é importante ressaltar que, embora as mulheres sejam as principais vítimas, outros grupos que não adequam-se acabam também por se tornarem alvos, como por exemplo, as travestis, transexuais, homossexuais e até mesmo alguns homens heterossexuais. Nesses casos, o discurso moralista tradicional tende a incentivar e justificar a prática de estupro contra esses indivíduos como sendo "estupros corretivos" que tem por objetivo punir e adequar os "desajustados" ao padrão considerado por eles "normal".



Combater a cultura do estupro é um processo social, coletivo, mas também individual. Só conseguiremos desconstruir essa realidade se lutarmos constantemente por uma sociedade que não admita em nenhuma circunstância a existência de manifestações preconceituosas, misóginas e machistas.

 


 

 

Alexandre Costa – Colunista do RC24h, Psicólogo, bacharel em Teologia e pós-graduado em Sexualidade humana.     www.facebook.com/alexandre.costa.psicologo

Categorias: Comportamento

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