CRISE X ESPECULAÇÃO: Aumenta número de lojas fechadas no centro de Cabo Frio

Além da crise, o alto preço dos aluguéis dificulta os negócios


Que a crise já atingiu muita gente e chegou até o comércio não é novidade. Basta observar o número de lojas que fecharam as portas este ano em Cabo Frio e as que já fecharam há mais tempo, mas os imóveis continuam à disposição para locação, mas sem muitos pretendentes. E, segundo os comerciantes, mais do que a baixa na clientela - que está pensando duas vezes antes de gastar - o preço cobrado para manter um empreendimento está onerando lojistas. Principalmente os do centro da cidade.


E não se trata apenas de empreendimentos novos. Lojas que existiam há anos mudaram de endereço ou fecharam de vez. Até uma loja de biquínis, bastante tradicional em um pequeno shopping na Avenida Teixeira e Souza, cessou os trabalhos no centro da cidade após 20 anos.


O preço do aluguel em área nobre do comércio, de lojas de 30m² a 50m², por exemplo, estão saindo, em média de R$ 2.500,00 a R$ 8.000,00, fora as taxas de condomínio (de R$ 200,00 a R$ 500,00), caso a loja esteja em uma galeria ou shopping. Se o tamanho do estabelecimento estiver entre 100m² e 250m², o lojista terá que desembolsar algo a partir dos R$ 5.000,00 mensais (mesmo preço de um ponto comercial de 40m² em galeria da Avenida Atlântica, em Copacabana, por exemplo). Na Avenida Teixeira e Souza esse valor chega a R$ 8.500,00 por uma loja de 100 m². E isso não é quase nada perto de um outro ponto bastante valorizado no centro cabo-friense, próximo ao largo Santo Antônio. Tem loja nessa área cuja locação sai R$ 25.000,00 por 280m². Fora as luvas (leia abaixo).


E não só muitos lojistas consideram esses preços "fora da realidade", como também o Conselho Regional dos Corretores de Imóveis (Creci) da região, que disparou críticas. O delegado do Creci de Cabo Frio, Jorge Murillo de Oliveira, afirma que falta um certo "treino" dos corretores em relação aos proprietários de imóveis. "Mais importante que alugar um imóvel é colocar um imóvel para ser alugado. Há uma diferença muito grande aí. O pensamento aqui é no valor que se pede e que em nada condiz com o imóvel muito menos com a realidade econômica que estamos vivendo. O que é melhor, pensar num preço justo e conseguir negociar os dez imóveis ou continuar cobrando um preço absurdo e continuar com o imóvel fechado e sem negociar. É uma questão que deve ser repensada na região", disse Jorge Murillo.

 

"Luvas" viram entrave na manutenção de um negócio em Cabo Frio


Além do "abuso" no preço dos aluguéis na área central, dizem os comerciantes, o pagamento das chamadas "luvas" é outra grande reclamação por aqui. Luvas é o nome dado ao valor adiantado pago pelo inquilino ao locador, reservadamente, para assinatura de contrato de locação, além do aluguel mensal. É um costume que os proprietários de imóveis comerciais localizados em áreas muito valorizadas adquiriram, frente à grande demanda. Funciona como uma espécie de 'leilão', sendo cobrada uma quantia 'de entrada', para a garantia da locação.


Porém, há divergências no âmbito legal. Nos casos em que a locação inicial seja contratada por prazo inferior a cinco anos, oportunidade em que o locatário ainda não teria direito à renovação, a cobrança de luvas é ilegal. Mas, caso contrário, o locador poderá cobrar as luvas, sem que infrinja a lei. Portanto, destas formas descritas, não há contravenção penal na cobrança de luvas e o cobrador destas pode ser punível com prisão simples de cinco dias a seis meses ou multa de três a 12 meses do valor do último aluguel atualizado, revertidos em favor do locatário.


Para se ter ideia, não há parâmetro para a combrança de luvas. O Creci avalia que em Cabo Frio não há luvas abaixo dos R$ 20 mil. No centro da cidade esse valor é bem maior. Por exemplo, um imóvel de 250m² na Rua Silva Jardim, perto do largo Santo Antônio, vai custar ao comerciante luvas de R$ 150.000,00, fora o aluguel, de R$ 25.000,00 mensais. Aliás, esse é o valor médio das luvas para lojas também no Boulevard Canal e no entorno da Praça Porto Rocha.


"Não tem lógica uma coisa dessas. Nem quem já está no ramo comercial há muito tempo aguenta pagar. E quem pretende investir tá fugindo disso", afirmou um comerciante que fechou um empreendimento no Peró e estava pretendendo reabrir no centro da cidade. Desistiu.

Categorias: Economia

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