Colunista RC24h - Reginaldo Mendes - Verão, Carnaval e Arraial


Antes de entrar no tema esclareço que o maior objetivo aqui é uma breve reflexão sobre nossa realidade, de modo que possamos debater assuntos relacionados a nossa região. Conheço muita gente em Arraial do Cabo que aguarda, ansiosa, o início do verão. A chamada "alta temporada" é a oportunidade para ganhar o tão esperado dinheiro. 

Lembro-me de quando Arraial, ainda distrito de Cabo Frio, recebia muitos mineiros que vinham em busca de sossego. Com o passar do tempo, o acesso aos carros foi facilitado, as estradas foram ampliadas e muito mais gente de outras regiões passou a frequentar nossa cidade. Chegamos inclusive a viver o caos com carros e seus estrondosos sons incomodando (e muito) nossos moradores.

Neste verão tenho andado pelas praias, procurado observar, falar com as pessoas e não precisa ser tão observador para notar que chegamos próximo de uma pane. Vejamos: a água acabou; para chegar de Cabo Frio a Arraial aguardava-se três horas (para sair da cidade nem se fala); carros fecharam ruas impedindo circulação dos lixeiros e até os supermercados, além de lotados, sofreram problemas de abastecimento. E os estacionamentos? Tudo vira estacionamento, inclusive as ruas que foram apropriadas por alguns que cobravam, sem nenhum constrangimento ou qualquer repressão, dez reais por uma vaga (inclusive demarcando espaço com madeiras, cadeiras e outros objetos).

E nossas belezas naturais? Nossas praias – vimos – ficaram impraticáveis! Para além disso, também as praias têm seus "donos". Ouvi diversos relatos de pessoas que ao chegarem na prainha eis que aparecia um garçom que, entregando um cardápio, de imediato dizia que para ficar ali teria um custo de cinqüenta reais (e  cadeiras com as mesas estavam praticamente na água, passando as pessoas por dificuldades de acesso à água). Tal "fenômeno" se repetiu em diversas outras praias.

Às facilidades de acesso à cidade acima mencionadas, soma-se a facilidade de um lugar para se alojar. Agora existem hostel, cama e café, albergue... Muito legítimo (e bom para a economia) que as pessoas ganhem com o verão. Todavia penso que, por outro lado, ações bem coordenadas para que não passemos pelos mesmos problemas todos os anos são absolutamente necessárias. Só a título de exemplo, digo que não se pode admitir a entrada de carros na cidade sem controle. Não há espaço para tantos carros numa cidade tão pequena com ruas apertadas.  

Tem que haver um estacionamento próximo ao pórtico com transporte público para dentro da cidade (para tal é necessário alterar a lei de uso e ocupação do solo, de modo que as terras não sejam direcionadas para construção de mais prédios, mas que possa ter uso social). 

As praias devem contar com equipe permanente de fiscalização e limpeza e o problema da marina – de onde saem inúmeros turistas para o passeio de barco – precisa ser Nossa cidade não pode contar apenas com sua natureza exuberante. É necessário que haja planejamento e ações concretas de modo permanente para que as soluções sejam apresentadas com antecedência e não quando o problema ocorrer. Melhorar nosso turismo significa melhorar nossa cidade e nossa qualidade de vida. Este desafio é do governo sim, mas não só. 

O individualismo, onde cada um ganha o seu e o resto que se vire, deve ser substituído por ações coletivas que tragam benefícios para a maioria. Não dá para ficarmos desejando os turistas e quando estes chegam a gente sofrer como se nossa cidade tivesse passando por um terremoto. Estamos atrasados nesse debate. Devemos fazê-lo de forma mais ampla possível (envolvendo os segmentos organizados de nossa sociedade em conjunto com o governo).

Escutei muito por esses dias frases do tipo "imagine no Carnaval". Imagine se não tomarmos providências urgentes e necessárias como não serão os próximos carnavais...
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