Negligência na saúde: Gestantes fazem peregrinação para dar à luz na Região dos Lagos

Mulheres em trabalho de parto são enviadas para casa com dores e dilatação em diversos hospitais da Região. Em busca de socorro, gestantes procuram Hospital da Mulher, superlotando a unidade


Os hospitais do município da Região dos Lagos não têm realizado atendimento adequado as gestantes em trabalho de parto. Ao invés de prestarem socorro, encaminham as pacientes de volta para casa. Com o descaso dos hospitais de municípios vizinhos, a direção do Hospital da Mulher, em Cabo Frio, não tem outra alternativa, senão atender a demanda de pacientes de outras cidades que procuram o hospital, beirando a superlotação. Segundo Rosalice Almeida, uma das secretárias de Saúde de Cabo Frio, todas as pessoas que chegam a cidade são atendidas. Na tarde desta sexta-feira (25) duas mulheres, que foram mandadas para casa pelo Hospital Missão de São Pedro da Aldeia mesmo já em trabalho de parto, deram à luz na unidade cabofriense.


Atualmente o Hospital da Mulher realiza, segundo a secretária, cerca de 400 internações por mês e, dessas 400, 70 são pacientes de outras cidades acolhidas por Cabo Frio. A maior demanda são pacientes oriundos de Arraial do Cabo e São Pedro da Aldeia. Segundo a equipe do Hospital, essas cidades chegam ao absurdo de transportarem as pacientes até a esquina da maternidade cabofriense com a ambulância própria por não terem médicos que realizem o parto naquele momento.


“Não podemos deixar de atender quem vem a nossa porta, mas Cabo Frio está sobrecarregado porque os municípios vizinhos não dão conta das suas gestantes”, afirma Rosalice.


Gestantes abandonadas em trabalho de parto


Na tarde desta sexta (25), Tais Alves, grávida de nove meses e sentindo muitas dores, foi encaminhada para casa depois de procurar o Hospital em São Pedro da Aldeia. Mesmo tendo feito todo acompanhamento no local, o médico de plantão dispensou a paciente alegando, segundo Tais, que o feto "ainda não estava maduro" e que ela deveria voltar na semana seguinte.


“O médico me examinou, viu que já estava na hora do beber nascer, por causa das dores, e não fez nada. Me mandou para casa. Ainda disse que, se eu quisesse fazer o parto, eu tinha que falar com o vereador Guga de Mica. Assim ele faria na hora. Parecia que existia uma rixa entre os dois e ele descontou em mim. Fiquei com medo. Lá eu não volto. Meu bebe podia ter morrido. Eu nem conheço este vereador, como vou pedir alguma coisa para ele?”, questionou Tais.


Desesperada e sem saber o que fazer, a gestante procurou ajuda no Hospital da Mulher onde, no mesmo dia, foi realizada uma cirurgia de emergência. Segundo a equipe da unidade, Tais estava perdendo líquido amniótico, colocando em risco a vida do bebe.


Assim como Tais Aves, outra paciente na mesma situação, estava internada na maternidade de Cabo Frio. A paciente, que não quis se identificar, disse que chegou no Hospital de São Pedro em trabalho de parto, com muitas dores e dilatação, mas não foi atendida. Quando chegou ao Hospital da Mulher, foi internada imediatamente, porque a criança já estava nascendo.


Ainda segundo a equipe, todos os dias a situação se repete. Dezenas de gestantes são abandonadas pelos municípios e vão pedir socorro ao Hospital da Mulher, como única alternativa. "Algumas chegam aqui porque não foram atendidas, outras porque o hospital falou que não podia realizar o parto naquele horário por falta de médicos. Já vimos de tudo", finalizou uma funcionária. 


As Secretarias de Saúde de São Pedro da Aldeia e Arraial do Cabo foram procuradas através de e-mail e telefonemas pela equipe RC24h para falaram sobre o assunto, mas nenhuma respondeu até o momento.

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