18/01/2025 — 01:36
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Falta de conscientização ambiental pode matar cavalos-marinhos na Lagoa de Araruama

Projetos compartilham instruções do que não fazer e de como agir ao encontrar os animais. Municípios como São Pedro da Aldeia estão desenvolvendo um PL de Política de Educação Ambiental para a conservação do peixe

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Na Região dos Lagos, especialistas apontam que a falta de conscientização ambiental sobre a preservação e os cuidados que devem ser tomados com os cavalos-marinhos na Lagoa de Araruama têm sido um grande problema, principalmente neste período de alta temporada. A afirmativa se baseia em imagens divulgadas nas redes sociais, onde pessoas aparecem segurando os animais nas mãos.

Extremamente delicados, os cavalos-marinhos são frequentes alvos de curiosidade humana, principalmente em relação à possibilidade de manuseá-los sem qualquer especialização. Contudo, este contato pode ser fatal. Para repassar este tipo de informação, a Região dos Lagos conta com a iniciativa “Ciência Cidadã”, desenvolvida pelo Projeto Cavalos-Marinhos”, do Rio de Janeiro.

Reprodução/ internet

A coordenadora geral do projeto Cavalos-Marinhos, Natalie Freret, conta que o programa foi desenvolvido em 2022 porque foi vista “uma mobilização muito grande da população que vivia no entorno da Lagoa [de Araruama] e que queria ajudar e não sabia como”.

A “Ciência Cidadã” é uma parceria estabelecida entre pesquisadores e cidadãos, para que esses possam contribuir com dados sobre uma temática através de métodos participativos. Foi feita, ainda em 2022, a primeira capacitação de cientistas cidadãos com moradores da Região dos Lagos. Depois disso, várias ações foram realizadas, até mesmo com pescadores e em escolas. Contudo, apesar disso, por muitas das vezes, a informação não chega à população, principalmente pela falta de divulgação.

A coordenadora geral do projeto Cavalos-Marinhos destaca que os animais da Lagoa de Araruama vêm sendo pesquisados desde 2021, quando eles começaram a aparecer, mas que, de lá para cá, algumas preocupações vêm surgindo.

“Quando os animais apareceram, a gente começou o monitoramento. Tivemos também a participação de vários cidadãos, que forneceram informações e imagens sobre os cavalinhos. (…) [E], de lá para cá, a gente tem tido algumas preocupações. (…) Tem sido visto, por exemplo, (…) animais sendo vendidos em feira. Animais secos vendidos em feira. (…) A gente entende que às vezes o pescador acha cavalo-marinho morto na rede. E não tem um uso específico para ele. (…) Mas isso é ilegal (…). Então uma recomendação que a gente dá caso alguém ache algum animal morto que por favor entre em contato com a gente”, explicou.

Além disso, Natalie explica que é proibido comercializar cavalo-marinho de ambiente natural. “Essa coleta para venda é proibida. O cavalo-marinho é protegido por uma portaria chamada 445. Ele é ameaçado de extinção e por conta disso, essa portaria do Ministério do Meio Ambiente exerce essa proteção. Então, é proibido a captura, o manuseio, é proibido tocar em cavalo-marinho, é proibido armazenar, é proibido transportar”, pontua.

Imagem: Projeto Cavalos-Marinhos/RJ

Outra preocupação levantada pela coordenadora é que, neste período de verão, muitas pessoas estão pegando os animais e tirando da água, porque eles ficam em áreas muito rasas. “tem várias imagens em Instagram, Facebook, de criança, adulto, fazendo isso, manuseando. (…) A gente sabe que o cavalo-marinho é um animal incrível, fascinante, ele é meio místico. As pessoas ficam apaixonadas e, às vezes, tem essa vontade de pegar, mas [a gente orienta] que, por favor, não toquem no animal, não peguem ele na mão. Que, por favor, as pessoas busquem tirar foto de cima da água, quem tiver câmera subaquática pode tirar foto à distância. A gente pede sempre para que não fique a menos de 30 cm de distância de um animal, que não persiga ele, que deixe o animal nadar livremente, que não impeça a passagem dele”, orientou.

Ela também explicou que “retirar o animal da água, deixar o animal sem respirar [pode trazer prejuízos], porque ele é um peixe, então não respira fora da água. Ele pode engolir ar e pode ter muita dificuldade em voltar a nadar, pode vir a óbito ou, se for no caso do macho, porque é o macho que incuba os filhotinhos e ele fica grávido dos bebês, pode, inclusive, abortar os bebês”.

Segundo a bióloga Andréa Nogueira, da secretaria de Meio Ambiente de São Pedro da Aldeia e coordenadora local do Programa da Bandeira Azul, o município aldeense está tomando medidas para conscientizar a população.

Na última semana, foi apresentado, na Câmara de Vereadores, o projeto de lei da Política de Educação Ambiental de São Pedro da Aldeia, que tem como objetivo colocar em prática o Programa de Educação Ambiental da cidade, que detalha as estratégias e ações que serão implementadas para promover uma consciência ambiental efetiva entre os cidadãos aldeenses, também foi apresentado.

Andréa pontua que agora o município está “construindo uma coisa sólida, montada realmente com a legislação, seguindo todas as etapas” para promover a educação ambiental. Mesmo que ainda esteja na fase de cumprir etapas para que possa ser aprovada, a bióloga comemora ao dizer que a cidade “está mais perto do que antes” de ter uma política ambiental efetiva.

Enquanto isso, o município afirma que “ações ligadas ao meio ambiente vão sendo promovidas ao longo do ano, levando conscientização ambiental para diversas localidades. Além disso, as praias com maior incidência de cavalos-marinhos estão sinalizadas com placas informativas, afim de evitar o manuseio ilegal”.

No próximo dia 3 de fevereiro, inclusive, uma ação de conscientização ambiental acontecerá na Praia das Pedras de Sapiatiba. O evento “Conhecendo Nossa Praia” vai contar com profissionais oferecendo informações sobre o programa da Bandeira Azul aos banhistas. 

Ludmila Lopes

Graduada em Jornalismo pela Universidade Veiga de Almeida. Já atuou como apresentadora na Jovem TV Notícias, em 2021. Escreve pelo Portal RC24h há 4 anos e atua, desde 2022, como repórter no Jornal Razão, de Santa Catarina. É autora publicada, com duas obras de romance e quase 1 milhão de acessos nas plataformas digitais.

Vencedora do 6º Prêmio Prolagos de Jornalismo Ambiental, na categoria web. Pós-graduanda em Assessoria de Imprensa, Jornalismo Estratégico e Gestão de Crises pela Universidade Castelo Branco (UCB).

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