Jovem negro, ex-estudante de Cabo Frio, denuncia ter sofrido racismo dentro de ônibus no Rio

Caio Batalha, de 18 anos foi acusado injustamente de roubo quando saía do colégio, no Maracanã. Rapaz já morou na cidade, onde estudou na EM Profª Márcia Francesconi Pereira


Um relato postado nas redes sociais denunciando mais um caso de racismo no Rio tem causado polêmica e revolta. De acordo com a jornalista Rosana Batalha, de 54 anos, seu filho, Caio Batalha, de 18 anos, foi acusado injustamente de roubo dentro de um ônibus quando saía do colégio, no Maracanã, em direção ao Méier, na última terça-feira (3). Ainda segundo ela, o jovem foi contido e precisou mostrar o interior da mochila. Na quarta-feira (4), eles foram até a 18ª DP (Praça da Bandeira) para registrar ocorrência.

— Nosso objetivo é apenas protegê-lo e resguardar a sua idoneidade. O meu filho é um rapaz muito querido por todos, sempre da paz, espiritualizado. Não temos sentimentos ruins e nem queremos processar ninguém. Só não queremos que ele seja apontado injustamente. Nós temos pena da ignorância dessa mulher — explica.

Após entrar no ônibus, o jovem conta que percebeu uma senhora revirando a bolsa e olhando para ele com ódio. Depois, ela levantou e acusou Caio, repetindo a frase "esse moleque me roubou". Um rapaz então começou a segurá-lo pelo braço. Ele, sem entender o que estava acontecendo, abriu a mochila e mostrou que não tinha roubado nada. Nesse momento, a mulher parou as acusações contra o jovem.

— Infelizmente o racismo existe. Se você está num ambiente com uma mulher branca e um homem negro e acontece uma acusação de roubo, o negro vai ser sempre o apontado, o prejudicado na história. Meu filho se sentiu pressionado, e as pessoas quase o expulsaram do ônibus. Ele saiu coagido, como se fosse um bandido.

Após registrar a ocorrência, a família agora aguarda a Polícia Civil requerer as imagens de segurança do ônibus. Caio é músico, integra o projeto "Baculeju da de Sá", da cantora Sandra de Sá, estuda Segurança do Trabalho e tem recebido o apoio dos colegas. Por ter déficit de atenção, ele não lembra exatamente a linha do ônibus — pode ter sido o 455 (Copacabana x Méier) ou 456 (Copacabana x Norte Shopping) — e o horário — Caio estima que o episódio tenha acontecido por volta das 17h. Mas o uso do cartão escolar pode ajudar a polícia a descobrir o ônibus utilizado e a hora do embarque.

No relato, postado em seu perfil na rede social, junto com a hashtag "Racistas não passarão", a mãe destaca a luta enfrentada pelas pessoas negras: "Não precisamos provar nada para ninguém, eles é que vão ter que provar a acusação. Não podemos nos calar! Conto com apoio de todos, não só pelo meu filho, mas por tudo aquilo que acredito. Temos que ser mais responsáveis antes de tecermos acusações. Achar que todo homem negro é bandido, é racismo sim!!!", diz um trecho da publicação.

REPERCUSSÃO NA REDE SOCIAL

Desde que a história foi contada por Rosana, a publicação já foi compartilhada por mais de 400 pessoas. Comentários como "É muito triste ouvirmos um depoimento como esse, a discriminação ainda é muito latente", "A cada dia a humanidade nos decepciona mais e mais" e "Como dói na carne de todas nós cada vez que isso acontece!" dão o tom da revolta e da solidariedade prestada à família de Caio.

O rapaz e sua família já moraram alguns anos em Cabo Frio, onde ele estudou na Escola Municipal Profª Márcia Francesconi Pereira.

Rosana acredita que o filho vai transformar o episódio em música, convertendo o ódio em uma mensagem de paz. Prestes a assinar contrato com uma gravadora, Caio já compôs uma letra de rap que menciona situações semelhantes a vivida por ele: "O homem precisa de crença pra alimentar a inércia da sociedade infeliz. O sol clareia mais um dia, e você, com sua hipocrisia. Pessoas demais, venenosas demais, humanas de menos (...) Ninguém viu, ninguém vê, ninguém vê ninguém. É pensando em nós mesmos que nós vamos além, só que não", diz um trecho de "Tá sussa".

Em geral, o crime de injúria está associado ao uso de palavras depreciativas referentes à raça ou cor com a intenção de ofender a honra da vítima. Já o crime de racismo implica conduta discriminatória dirigida a determinado grupo ou coletividade e, geralmente, refere-se a crimes mais amplos. Desde o ano passado, a Secretaria Estadual de Direitos Humanos criou o Disque Combate ao Preconceito, um canal para que a população possa denunciar qualquer episódio de preconceito, como o racismo, por exemplo. O Disque funciona no telefone (21) 2334-9551.

 

*Matéria publicada no EXTRA

Categorias: Polícia

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