RECONHECIMENTO / Jovem quilombola cabo-friense é aclamada por sua luta para manter vivo o legado de seus ancestrais

Rafaela Fernandes, de 21 anos, conhecida como Rapha Fellove, foi capa do jornal O Globo deste domingo (13) em matéria especial sobre os 130 anos da abolição da escravatura


A cabo-friense Rafaela Fernandes, de 21 anos, foi uma das homenageadas pelo caderno “Ela”, do jornal O Globo do último domingo (13), em matéria de capa que exaltava a luta das mulheres quilombolas após 130 anos da abolição da escravatura.

A reportagem especial contou um pouco da trajetória da jovem, que é militante de causas sociais e concorreu a uma vaga para vereadora de Cabo Frio na eleição de 2016 com o nome de Rapha Fellove, como é conhecida por familiares e amigos.

Nesta segunda (14), Rafaela, que é moradora do Quilombo de Botafogo, na zona rural de Cabo Frio, participou da convenção municipal do PDT, partido ao qual é filiada, onde foi aclamada por todos os presentes por sua luta para manter vivo o legado de seus ancestrais.

Mesmo com pouca idade, Rafaela já entendeu o peso da batalha diária que sua geração carrega para manter vivas a memória e a resistência das 120 famílias que vivem no Quilombo.

“Um dia, quando ainda era criança, minha avó me disse: Ser mulher negra quilombola é ser mulher de coragem. Comecei a refletir sobre isso quando tinha aproximadamente uns 13 anos. Em rodas de conversas, os mais velhos nos alertavam que não tinham mais a força de antes e que a gente precisava ter essa responsabilidade. Desde então, me engajei” — conta a jovem, que já participou de marchas e encontros em diferentes cidades.

O Quilombo de Botafogo está entre as 3.100 unidades certificadas pela Fundação Cultural Palmares, órgão ligado ao Ministério da Cultura que comprova a origem das comunidades por meio de um estudo histórico. De acordo com a entidade, estima-se que existam cerca de seis mil quilombos no Brasil e, atualmente, dois mil estão em processo de reconhecimento.

A certificação garante o acesso a políticas públicas, mas não assegura a titularidade da terra. Isso fica a cargo do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e, até hoje, é uma conquista restrita a apenas 41 territórios. Outros 1.715 estão com os processos em andamento.

Diante das dificuldades, lideranças e vozes femininas que vivem nessas comunidades se articulam e tomam a frente dos trâmites, numa verdadeira confraria de força e resistência. Juntas, elas fazem ecoar as vozes de grandes matriarcas como a vó de Rafaela, Odette da Silva, já falecida.

A jovem enxerga o quilombo como símbolo máximo de uma luta que não terminou. Sair de lá não é uma possibilidade. Ali ela aprendeu com a mãe como cultivar alimentos, desenvolveu o grupo de samba Raízes e ouviu histórias fantásticas narradas pelos mais velhos. De olho no futuro, pretende cursar Administração e quer ver a comunidade prosperar:

“Minha avó pediu que a casa onde ela morava ficasse para mim. Agora estou trabalhando para transformá-la numa ONG, onde vamos oferecer atividades de cultura e esporte. E queremos ampliar nossa estrutura de agricultura familiar” - detalhou.

 

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