CARNAVAL DA DECEPÇÃO: Secretário de Cultura é vaiado em Cabo Frio depois que mandou desligar o som antes das 18h. Foliões ficaram revoltados

Presidente da Associação de Blocos afirma que acabou o acordo com a Prefeitura e disparou: 'para o carnaval de rua ele (secretário) é péssimo, incompetente e insatisfatório'


O que era para ser só alegria, virou frustração e revolta. Em pleno sábado (10) de Carnaval, por volta das 17h45, o secretário de Cultura de Cabo Frio Ricardo Chopinho - acompanhado pela Polícia Militar, ordenou que desligasse todo o som montado na Estação Primeira dos Blocos, montada no final da Praia do Forte (no estacionamento dos quiosques novos). A medida deixou foliões, turistas, moradores e a própria Abaccaf (Associação de Blocos e Atividades Carnavalescas de Cabo Frio) extremamente frustrados, e alguns chegaram a apelar diretamente a ele que mantivesse o som por mais um tempo. Com o calorão, aliado ao horário de verão, quando o sol quente vara a tarde toda, muita gente começou a chegar às 16h30, 17h, e só pôde se divertir por um curto tempo.

O resultado foi uma vaia generalizada, os foliões se revoltaram. Mas foi tudo em vão, já que o som foi mesmo desligado, com a alegação de que a Prefeitura "não queria tumulto". Quem estava no local no momento da chegada do secretário e da PM não perdoou:

 

 

O presidente da Abaccaf, Joir Reis, era a frustração em pessoa. Para Joir, é preciso acabar com o "elitismo" da Praia do Forte, principalmente no trecho "orla Malibu". Ele não poupou críticas à administração municipal e nem elogios às outras prefeituras - como a de Arraial do Cabo, Búzios, São Pedro da Aldeia e Araruama, "que conseguiram estrutura, subvenção e tudo o mais que é preciso e estão fazendo um excelente carnaval".


"Ele (Ricardo Chopinho) chegou de maneira coercitiva, com policiais, foi um constrangimento muito grande para a gente, ficamos numa situação delicada. A gente iria acabar às 18h, mas ele tomou as ações que não deveriam ser tomadas. Naquela hora tinha muita gente nas sacadas dos apartamentos da orla curtindo junto. Não sei porque esse elitismo que tem na Praia do Forte para causar esse tipo de situação. Eu acredito que tem um ou dois (moradores) que têm o poder e motivam essa situação", disse Joir.

A Abaccaf foi quem patrocinou tendas, som e banheiro químico em blocos da cidade que não tinham condição de arcar com esses custos. E a energia elétrica a ser gasta nos quatro dias de folia será debitada na conta pessoal do próprio Joir. "Nem isso a Prefeitura liberou para a gente".

E disparou contra o secretário de Cultura. "É incrível a incompetência desse secretário. Temos cidades menores que estão tendo carnaval nota dez, como São Pedro da Aldeia, Búzios, Araruama. Em Arraial, por exemplo, a prefeitura proveu estrutura, trio elétrico e, se não me engano, teve até subvenção. Por que os secretários desses municípios conseguiram e Cabo Frio não? Queria que alguém me dissesse o que esse secretário de Cultura fez. Nada! Para o carnaval de rua ele (secretário) é pessimo, incompetente e insatisfatório. E não tem mais acordo com a Prefeitura de Cabo Frio. Só falo agora diretamente com o prefeito. Se eles não cumpriram o acordo, a Abaccaf também não vai. Nesse domingo (11) não vamos desligar às 18h, ou seja, se eles não cumpriram o acordo nós também não vamos cumprir. Mas eu aguardo o prefeito Marquinho Mendes para dialogar ou outra pessoa competente. Com o secretário de Cultura não tem mais conversa", disparou o presidente da Abaccaf.

Joir complementa que a tenda montada com o som não serve só para diversão. "Não estamos ali só para pular Carnaval e se divertir, mas também para ter uma comunicação melhor com os foliões, orientar pais e crianças quanto à segurança, tirar dúvidas do folião sobre outros blocos e direcioná-los... Não estávamos só fazendo farra, a gente também estava realizando um serviço de utilidade pública", completou.

Ocorre que desde o ano passado, depois de mais de 20 anos de festa na orla da Praia do Forte, está proibido o desfile de blocos e tendas com som mecânico nesse trecho. Mesmo com o apelo dos blocos a Prefeitura ficou irredutível. Na ocasião, a secretária de Turismo, Fabíola Bleicker, se reuniu com o prefeito Marquinho Mendes e conseguiu um pequeno trecho para a folia dos blocos - 850 metros de extensão, no "rabicho" da Avenida Litorânea, a partir da altura da Rua Alex Novelino (Vila Nova) em direção às dunas até próximo do hotel Mandai.

E neste ano, a Abaccaf tentou mais uma vez reverter a medida, mas a Prefeitura não concordou. Aceitou que a folia ficasse no trecho permitido, desde que o som fosse desligado às 18h. Mas se eximiu de qualquer gasto. Apenas dois blocos conseguiram patrocínio para trio elétrico: o Acadêmicos de Cabo Frio (que desfila nesse domingo) e o Carnagay, que acontece na segunda (12).

A reportagem do Portal RC24h fez contato via email com a Prefeitura, para saber se há possibilidade da situação ser revertida, ou mesmo se há previsão que seja permitida a extensão do horário do som das tendas, e aguarda um posicionamento.


REPERCUSSÃO NA REDE SOCIAL 

Pelo Facebook dos usuários de Cabo Frio e outras bandas não se falava em outra coisa: a decepção do carnaval da cidade. Ninguém poupou farpas e até xingamentos públicos.


TURISTAS E FOLIÕES ESTÃO INDIGNADOS

Frequentador do Carnaval de Cabo Frio há 25 anos, Alessandro Oliveira, que tem apartamento na Praia do Forte, ficou revoltado com a determinação do prefeito em desligar o som. Para ele a medida só atrasa o turismo. "A Prefeitura precisa se preocupar com os banheiros dos quiosques que estão uma imundície, ninguém pode usar. A Prefeitura devia se preocupar em aumentar o efetivo de segurança porque a cidade está muito insegura. A Prefeitura devia se preocupar em dar infraestrutura para os foliões poderem se divertir. Já que não está gastando nada, devia aproveitar e fazer uma parceria com os blocos e melhorar isso, e não tentar atrapalhar quem conseguiu fazer alguma coisa", disse Alessandro, que veio com a esposa, o filho e a mãe para a cidade.

Também turista foliã, Daniela Mangeli, moradora de Madureira, no Rio, era o retrato da decepção. "Eu não vi mandar desligar, mas estou indignada. Estava feliz enquanto tinha som. Aluguei apartamento, trouxe minha família... e foi a última vez. E olhei que antes de alugar apartamento eu pesquisei na internet e vi que Cabo Frio teria 40 blocos e na praia teria música até 22h. Vou para Arraial do Cabo domingo. Aqui eu não fico, só para dormir mesmo", disparou Daniela.

O jornalista do Portal, Alex Tavares, ficou assustado com o que viu no início da noite deste sábado. "Sinceramente, sem querer ser desrespeitoso, mas já vi Dia de Finados mais animado que esse Carnaval de Cabo Frio. Fiquei pelo Centro entre 19h e 23h e a movimentação era de um feriado qualquer. A tal tenda da Cultura, na Praça da Cidadania, não oferecia nada demais. Só tinha algumas músicas aleatórias rolando em uma caixa de som e uma movimentação dentro do esperado para a feira de artesanato que existe no local. Da Praça da Cidadania até o Malibú, que era pra ser o ápice da folia, não tinha absolutamente nada. Cenário de um Carnaval bem atípico, morno, quase frio. Carnaval artificial. Você não vê gente batucando pelas ruas, blocos se cruzando e se confraternizando pela orla, como antigamente. Decepcionante até para quem quer fugir da muvuca. Não sei onde estão esses 500 mil turistas previstos para curtir o Carnaval de Cabo Frio, devem ter ido pra Arraial", disse Alex.

 


NA FALTA DO SOM DOS BLOCOS, FOLIÕES IMPROVISAM E COLOCAM CAIXAS DE SOM. FESTA DUROU ATÉ 2 DA MANHÃ

"Quem não tem cão, caça com gato". Foi o que aconteceu logo depois da decepção com o som desligado. Sem ter como pular o carnaval, os próprios foliões buscaram caixas de som e colocaram na tenda dos blocos, para não deixar quem esta ali "a ver navios". E a folia recomeçou, com sons de todos os ritmos, principalmente funk. A "folia" na orla do forte se estendeu até duas horas da manhã.

 

 

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