Vítima de racismo em Búzios reúne testemunhas e entra com ação na OAB de Cabo Frio

Dono do estabelecimento onde ocorreram as ofensas afirma ter ficado extremamente triste e constrangido com o fato


O caso de racismo sofrido por Fabiano Xavier, ocorrido em abril deste ano em uma boate de Armação dos Búzios, e que veio à tona na última semana, continua repercutindo em toda a Região dos Lagos. De acordo com a vítima, uma representação será aberta nesta quinta-feira (27), na OAB de Cabo Frio, e várias testemunhas serão encaminhadas até a 126ª DP (Cabo Frio) para serem ouvidas.

 

Anderson Kel, proprietário do Ferradura Beach Club, se disse extremamente triste e constrangido por toda a situação sofrida por seu cliente. Na ocasião, o empresário expulsou a mulher apontada como autora das ofensas, e que chegou a tentar agredir fisicamente Fabiano Xavier.

 

“Foi uma situação lamentável e inadmissível. Conheço o Fabiano há algum tempo, e fiquei extremamente triste e constrangido com a humilhação que ele sofreu. Nosso estabelecimento sempre prezou pelo respeito a todos os clientes. Uma das características de Búzios é justamente a diversidade, e um caso como esse não condiz com a proposta do nosso estabelecimento e com o perfil do buziano”.

 

ENTENDA O CASO - No dia 29 de abril, Fabiano Xavier, servidor público de Cabo Frio e morador de Búzios, foi a um show no Ferradura Beach Club, em Armação dos Búzios. No início do show, por volta das 23h, ele teria comprado um balde de cerveja e se posicionei em frente ao palco montado para o evento. Repentinamente, Fabiano foi abordado por uma mulher, que posteriormente foi identificada como uma advogada e sócia de Pousada em Manguinhos, que alegou que Fabiano estava atrapalhando sua visão. Fabiano afirmou que se afastou cerca de três metros, e relatou ter percebido que a mulher continuava a olhá-lo com ar de indiferença. Pouco depois, a mulher foi até o Barman, pedindo para que Fabiano fosse retirado e dizendo que “achava uma afronta um preto sujo frequentar o mesmo ambiente que ela”. O mesmo pedido também teria sido feito ao caixa do estabelecimento.

 

Não tendo êxito, a mulher voltou a abordar Fabiano, dizendo que ele continuava incomodando. Irritado, Fabiano teria perguntado se ela teria algum problema pessoal com ele. Neste momento, o proprietário do estabelecimento interveio e tentou contornar a situação. A partir daí a mulher teria feito uma série de ofensas a Fabiano, chegando a tentar agredi-lo fisicamente:

 

“O Sr. Anderson, na maior educação, veio até mim e me pediu gentilmente que conversasse com a mulher, pois era um dia de festa para todos nós. Me propus, mesmo indignado, a falar com a mulher. Enquanto isso, o Sr. Anderson Akel falou com esta senhora do meu histórico na cidade, dizendo que se tratava de uma pessoa boa que já contribui muito com Búzios, destinando seu tempo desenvolvendo vários trabalhos voluntários. A mulher estava destemperada, e partiu para uma agressão física, sendo contida antes do ato pelos presentes e expulsa da casa pelo Sr. Anderson, que já muito irritado disse não admitir que nenhum cliente de sua casa teria seus direitos violados” - detalhou.

 

Questionado sobre o porquê ter demorado tanto para fazer a denúncia, Fabiano foi taxativo:

 

“Por que só fazer o registro agora? Naquele momento minha mãe me pediu que eu não levasse adiante, e farei aqui o uso de suas palavras: “meu filho, a corda sempre arrebenta para o lado mais fraco. Por mais que você esteja nos seus direitos, esta mulher é advogada”. Foi então que deixei temporariamente no esquecimento, porém ao ver um documentário onde as vítimas de racismo e injuria racial relatavam os casos de agressão, me veio uma impotência e um arrependimento, um choro copioso. O ato cruel desta senhora, sabedora das leis, transformou a minha vida. Fiquei extremante deprimido. As primeiras semanas foram piores, horríveis, só chorava, quase não dormi, vinha na minha cabeça às imagens da humilhação que passei, e isso me deixou traumas que foram minimizados com minha atitude de fazer o Registro de Ocorrência e fazer valer os meus direitos. Devo isso à minha vida integra e respeitosa com todos, devo isso há anos dedicados aos meus estudos na universidade me formando educador para contribuir para uma sociedade mais justa e igualitária, livre de preconceitos” – declarou Fabiano Xavier.

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