Condenado a 28 anos de prisão, ex-delegado Álvaro Lins pede votos para Garotinho

Ex-chefe da Polícia Civil divulgou mensagens a policiais pelo WhatsApp


Condenado a 28 anos de prisão por ter chefiado uma quadrilha enquanto esteve à frente da Polícia Civil, o ex-delegado Álvaro Lins soltou a voz em defesa da candidatura de Anthony Garotinho (PR) à sucessão estadual. Numa gravação divulgada a centenas de policiais civis da ativa por meio do aplicativo de mensagens por celular WhatsApp, Lins conclama a categoria a pedir votos para garantir a vitória do ex-governador no primeiro turno e, por consequência, a reintegração de seu grupo aos quadros da corporação.

O áudio foi divulgado pelo ex-inspetor Fábio Leão, o Fabinho, também ligado à quadrilha e expulso da Polícia Civil após ter sido condenado a 18 anos de prisão. Integrante do “grupo dos inhos” - como eram conhecidos os aliados do então chefe da Polícia Civil devido aos apelidos no diminutivo -, Fabinho postou a gravação no último dia 15, logo após a divulgação de uma pesquisa de intenção de votos. Anexado ao áudio aparece o seguinte texto:

“Atenção colegas da PCERJ: pesquisa GPP/12 de agosto! Garotinho 28%. Líder isolado! Estamos voltando!”.

O ex-inspetor foi preso na Operação Gladiador da Polícia Federal, em 2006. Na ocasião, Fabinho e três outros inspetores foram acusados de participação num esquema de corrupção na Polícia Civil. Dois anos depois, a PF desencadeou a operação Segurança S/A, que tinha como principal alvo Álvaro Lins. O ex-chefe da instituição era acusado de chefiar a quadrilha de inspetores, que loteavam delegacias e davam proteção a integrantes da máfia dos caça-níqueis.

A pedido da reportagem, o perito em fonética forense Ricardo Molina examinou e comparou a voz do áudio a entrevistas concedidas por Lins, chegando a seguinte conclusão:

“Todos os parâmetros acústicos, de ordem instrumental e perceptual indicam, acima de qualquer dúvida razoável, de forma consistente e suficientemente distintiva, que as vozes nas gravações são de Álvaro Lins”.

O ex-chefe da Polícia Civil nos governos do casal Anthony e Rosinha Garotinho inicia a gravação de um minuto e sete segundos citando parte de um salmo do apóstolo Mateus: “Bem aventurados aqueles que têm sede de justiça pois serão saciados”. Logo em seguida, a retórica messiânica ganha ares pouco ortodoxos:

“(...) Espero que cada um de vocês nos ajude nessa luta. Eu sou apenas mais um dos muitos que sofreram nas mãos dessa corja que tem que ser varrida do Rio de Janeiro (...) Vamos pra cima desse bando de (filhos da puta), varrer essa gente do Rio de Janeiro. A gente tem que conseguir isso. Eles é que são bandidos, eles que roubaram o povo do Rio de Janeiro, eles não têm nada contra nós (sic)”, afirma o ex-delegado, condenado por crimes de formação de quadrilha armada, lavagem de dinheiro e corrupção passiva.

O discurso de perseguidos, adotado por Álvaro Lins e os demais ex-policiais que integram o “grupo dos inhos”, encontra eco também na fala de Garotinho. Durante sabatina realizada pela Uol/Folha/SBT, o candidato do PR ao governo do Estado, classificou como perseguição a prisão de Lins e as denúncias de seu envolvimento em crimes de formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e corrupção passiva.

Na entrevista, Garotinho se defendeu de todas as acusações contra a sua gestão à frente do Palácio Guanabara (1998-2002) dizendo que, se tivesse feito alguma coisa errada, teria bens e contas no exterior:

— Tudo aquilo ali, no caso dele (Álvaro Lins) e nos outros casos, foi perseguição. Mas também tem uma vantagem, se não foi, cada um que responda por seus atos. Eu não passo a mão na cabeça de ninguém que fizer nada errado — disse, acrescentando que, se encontrá-lo na rua, não vai “tratá-lo como leproso”:

— Se eu encontrar com ele eu cumprimento, qual o problema? não vou tratar ninguém como leproso.

Álvaro Lins não cita diretamente o nome de Garotinho e nem mesmo se identifica na gravação, concluída com a frase: “Essa é a minha voz e espero que seja a sua também”. Procurado pela reportagem, o ex-chefe da Polícia Civil e o advogado dele, Carlos Fernando dos Santos Azeredo, filiado ao PR, não foram localizados. Já o ex-inspetor Fábio Leão não retornou às ligações feitas ao aparelho celular usado para divulgar a campanha de Garotinho.

Em nota, Garotinho informou que “ninguém tem autorização em falar em meu nome e fazer promessas ou acordos que não foram avalizados por mim”. Segundo ele, “cada um faz campanha para quem quiser, com ou sem autorização do candidato. Da mesma maneira que acho que Fernando Cavendish e toda a gangue dos guardanapos esteja fazendo campanha para Pezão”.

Garotinho também comentou sobre a gravação:

“Em momento nenhum há a minha voz na gravação. Utilizar o nome de outras pessoas indevidamente em gravações é muito comum. Não me responsabilizo e nem tenho compromisso com o que está dito na gravação e no texto”.

E completou:

“O sentimento de injustiça é natural a todas as pessoas que passam por julgamentos. Isso é inerente ao ser-humano“.

Fonte: O Globo
Categorias: Política

Fotos da notícia




Outras notícias